Esta é a noite que trouxe no ventre a madrugada
Trinta e nove anos passados sobre a manhã libertadora de Abril, regressaram o medo e a fome. Por ora não é ainda a PIDE que prende, é o desemprego e a destruição metódica e eficaz dos direitos conquistados que paralisam o povo e o lançam de novo na aventura da emigração, na incerteza do futuro e na tragédia da pobreza.
Os atuais governantes têm um projeto político extremista e o objetivo de cercear direitos e fizeram do país um laboratório do ultraliberalismo, “custe o que custar”. O desespero que espalham é a semente das convulsões que se avizinham num retrocesso que os mais pessimistas estavam longe de prever.
Apagam os símbolos identitários da Pátria com a alienação dos feriados do 5 de outubro e do 1 de dezembro enquanto o 10 de junho, com um PR de débil cultura, se transforma, como no fascismo, em altar da exaltação da raça, com os feriados pios a permanecerem por imposição do Vaticano, que despreza e humilha o país.
A reabilitação da guerra colonial está em curso, o regresso dos velhos valores têm um discurso, uma lógica e um projeto, seguidos pelos que nunca se conformaram com a perda do Império e o descrédito da ditadura. Só faltava empobrecer os portugueses e submetê-los pelo medo. A fome, o desemprego e o empobrecimento coletivo estão nos planos de um governo reacionário que vê no ultraliberalismo o caminho da salvação.
É o regresso mole a um passado afrontoso e a um quotidiano de desespero.
Abril cumpriu a descolonização, o desenvolvimento e a democratização e não foram os seus capitães que agravaram as desigualdades sociais ou contribuíram para a perda da generosidade, entusiasmo e solidariedade que galvanizaram Portugal e os portugueses.
Não se ignora a crise que se abateu sobre o mundo, mas não há justificação para a falta de equidade na repartição dos sacrifícios nem para a devastação dos direitos a que só a cegueira ideológica e o espírito de vingança marcam o ritmo e a seletividade.
A PIDE, as prisões políticas, a censura, o degredo, o exílio, a tortura, a discriminação da mulher, a violação do domicílio e da correspondência são dolorosas recordações dos mais velhos. Restauraram-se os direitos cívicos, implantou-se a democracia. É pouco? Nunca tão poucos fizeram tanto por Portugal como os capitães de Abril. Não deixemos agora que nos conduzam ao passado.
A escalada contra as conquistas de Abril pode ser parada. Comemorar Abril, ser fiel ao seu ideário e honrar os seus heróis é uma forma de dizer basta à mais violenta ofensiva da direita contra os seus valores, nos últimos 39 anos. Nada, absolutamente nada, pode ser pior do que o Portugal beato, rural e analfabeto que o salazarismo manteve graças à repressão policial.
Na ditadura o País não era a casa comum dos Portugueses. Era a cela coletiva dos que não fugiam. O 25 de Abril transformou Portugal. Tanto tempo nas nossas vidas, tão pouco na história de um povo. É tempo de recuperar o espírito de Abril.
Viva o 25 de Abril. SEMPRE.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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