Entrou ontem na AR (DN, pág. 16) uma petição com 5300 assinaturas com o texto que os autores crismaram «Defender o futuro», embora sejam indivíduos com passado ao serviço da Igreja e dos «bons costumes» e, sobretudo, obsoletos.
Bagão Félix, Fernando Ribeiro e Castro, Manuel Braga da Cruz, António Gentil Martins, João César das Neves e Rui Gomes da Silva são o elenco da devota petição. Saídos de uma pia de água benta, cuja infusão lhes liquefez os neurónios, confundiram o futuro que dizem defender com o passado a que estão amarrados.
A revisão das leis de família é um objetivo santo a que juntam o argumento do apoio do PR que, numa primeira fase, após a aprovação na AR, as vetou para, finalmente, ter de engolir o veto, como manda a Constituição, apesar das mensagens ao Parlamento e do azedume público que evidenciou.
Argumentam ainda os bem-aventurados que as referidas leis «foram todas aprovadas no tempo do Governo de José Sócrates», como se a bondade legal derivasse da pessoa que ocupa o lugar de PM.
Entendem os seis amigos da hóstia que as leis em apreço «têm vindo a corroer o tecido social do país». E são elas: a lei do aborto, da procriação medicamente assistida, a lei da mudança de sexo e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a lei do divórcio e a do financiamento do Ensino Particular e Cooperativo.
Além de pretenderem que o Estado dê mais dinheiro para as escolas da Igreja católica, um voto que certamente lhes aplaina o caminho do Paraíso, as sumidades entendem que têm direito a impor os seus valores morais à totalidade de um povo, sem perceberem que as referidas leis não os obrigam a mudar de sexo ou de mulher nem a casar com indivíduos do mesmo sexo ou a procriarem medicamente assistidos.
São marretas e reacionários.
De joelhos vos liberto e vos alheio de todos os bens terrenos e espirituais, em nome da fé, com a inspiração divina do Espírito Santo. Ou como se assassina o espírito livre de um povo honesto com promessas de santidade.
Não há uma só causa. O antro do Vaticano é fértil.
Mais uma tentativa de explicação
Cardeal de Edimburgo confessa assédio sexual e vai para reclusão
O cardeal Keith O’Brien, que na segunda-feira renunciou ao cargo de bispo após acusações de assédio sexual, dá o dito por não dito. No texto da renúncia ao mais alto cargo da igreja católica no Reino Unido, negou as acusações. Mas este domingo admitiu em comunicado que a sua «conduta sexual ficou muito aquém do que era esperado».
De Norte a Sul, de Este a Oeste, o mundo estremece e convulsiona-se, mostrando as garras ao poder desmesurado que o silêncio e a inércia permitiram ascender sem questionar.
Os deuses inventados também se reinventam diariamente e reencarnam em perniciosas figuras bípedes que se insinuam como portadores de uma verdade obscura que concederá a salvação por intermédio do encarceramento do espírito e da maceração do corpo.
Mas há sempre quem resista, quem esteja disposto a lutar contra todos os deuses, sejam eles imateriais ou de carne e osso, pela verdade, pela liberdade, pela justiça, contra tudo e contra todos os que pretendem assassinar cobardemente o direito a sermos o que nascemos: homens livres!
A todos os que lutam, a minha homenagem:
TEMPESTADE
Tu e eu seremos juntos a tormenta,
A pele da noite a recitar trovões
Sobre a cidade adormecida
À beira-medo.
E aguçaremos os gumes dos nossos raios
Nesses sonhos inquietos e dormentes
Que atormentam as pessoas indolentes.
Juntos, tu e eu seremos a mensagem de revolta,
Arautos de tumultos por haver
No despertar tardio das consciências hibernadas.
Tu e eu seremos frios como as espadas
Dos heróis mumificados no bolor dos livros ancestrais,
Lentamente a invernar no cemitério das estantes.
Juntos, tu e eu seremos a palavra apetecida,
A sede interrompida
A chover torrencialmente sobre os lábios desertificados
Dos que se calaram.
Juntos, tu e eu seremos a coragem
Dos que não ousaram!
David Ferreira
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