Por
João Maria de Freitas-Branco
Sabem aqueles que acompanham a minha vida pública que no espaço da saudável controvérsia, do debate de ideias, sempre recuso a fulanização. Estará aí, por certo, uma das minhas muitas costelas sergianas. Não vou aqui abrir excepção. No entanto, depois de ao longo dos últimos dias ter escutado e lido com atenção múltiplos comentários sobre o que se está a passar no interior da Igreja Católica não posso deixar de manifestar perplexidade apimentada de indignação face ao silêncio dos ditos comentadores, e principalmente os que são católicos confessos (como é o caso de um dos mais mediáticos comentadores políticos desta nossa terra), face ao que considero ser uma aberração civilizacional, para além de o ser, também, e em particular, no plano da moral e da política ou, se preferirem, da ético-política.
Refiro-me ao acontecimento ocorrido no passado dia 8 de Março, dia internacional da mulher, nas imediações da Basílica de S.Pedro, em Roma. A religiosa americana, católica, Janice Sevre-Duszynska, manifestou-se na via pública apelando à aceitação da ordenação de mulheres no seio da Igreja Católica e chamando a atenção para a ausência de vozes femininas no Conclave que se vai iniciar hoje, na cidade do Vaticano. Ostentava um cartaz onde se podia ler o seguinte: “As Mulheres Padres estão aqui”. Foi detida pela polícia “por estar a usar vestes litúrgicas”.
Será que isto não é obrigatoriamente tema de debate político, social, cultural? Como se justifica o silêncio dos principais comentadores políticos? Recorde-se que o Vaticano é um Estado e que o Conclave elege o chefe desse mesmo Estado (designado por Papa ou sumo Pontífice), de aí resultando depois a formação do Governo do Estado do Vaticano (a Cúria).
Os motivos da minha perplexidade indignada não ficam por aqui. Há mais.
A católica Janice Sevre-Duszynska, cidadã americana, foi excomungada pela Igreja por se intitular “mulher padre”, depois de ter sido ordenada à revelia das autoridades eclesiásticas de Roma e contra a vontade expressa dessas autoridades. Repito: excomungada. Ao que se entende, o seu grave pecado consistiu em ser tão católica que desejou, e deseja ardentemente, dedicar a sua vida à obra religiosa, como qualquer vulgar padre católico. O problema está no sexo. É que para o fazer tinha que ter nascido homem. Teve o azar de nascer mulher, e um ser do sexo feminino, aos olhos da hierarquia da Igreja, da Igreja Católica, não pode ser católico a esse ponto. Portanto, Janice pecou, incorreu em gravíssimo crime, tão grave que foi, repito, excomungada. Foi amaldiçoada pelos seguidores de Cristo que governam o Vaticano, incluindo aquele que se afirma ser representante do deus católico no Planeta azul – precisamente o mesmo deus adorado pela religiosa americana.
Será que isto não é motivo de debate? Será que não deve convocar necessariamente a atenção de todo e qualquer comentador que se preze? Poderão, em pleno século XXI, os comentadores políticos e os fazedores de opinião da nossa praça ficar em silêncio, indiferentes a este acontecer? Com que fundamentada justificação?
Já que se fala de excomunhão seja-me permitido o atrevimento de aproveitar a circunstância para deixar aqui um singelo pedido público.
Há muitos anos que procuro a lista de nomes dos responsáveis por Auschwitz e pelo Holocausto que tenham sido excomungados pela Igreja Católica. Será que algum dos meus estimados leitores católicos, ou algum dos populares comentadores católicos, faz o favor de me fazer chegar essa informação? Desde já me apresso a agradecer toda a atenção prestada a este meu simples pedido, espero que não demasiado atrevido.
Claro está que a lista solicitada não serve de justificativo para a maldição lançada sobre a católica americana, mas, como espero que compreendam, sempre alivia um pouquinho o agudo sofrimento que me causa a dor da perplexidade indignada que me fere.
João César das Neves (JCN) ensandeceu. Na homilia de ontem, no DN, sob o título «A crise terrível», atira-se à comunicação social como Maomé ao toucinho. Tudo o que se diga do bairro de 44 hectares, pejado de sotainas, que não agrade ao bem-aventurado, não passa de tese básica e simplismo habitual.
Para JCN, « A suposta “crise terrível” nunca passou de uma invenção de comentadores exaltados» e «Por acaso a Igreja passa por uma fase particularmente feliz da sua longa história». Não se adivinha onde JCN descobriu «uma sequência de papas santos e brilhantes, unidade do clero à volta do magistério (…) e enorme aumento de fiéis», que torna a Igreja «mais ágil, sólida e diligente»!
A crise terrível é inventada por «adversários assustados». O sucesso estrondoso das iniciativas de João Paulo II, durante 27 anos, e o sucesso igualmente espantoso de Bento XVI devem-se a «uma força poderosa que alimenta todos os papas, por serem papas».
O escândalo da pedofilia, lançado por jornais hostis, fizeram um precioso favor à Igreja – diz JCN –, porque eliminaram do seu seio criminosos horríveis. «O que assusta é só atenderem aos poucos casos de pedofilia dentro da Igreja, sem ligar aos de fora, que são a esmagadora maioria» –, diz o beato.
O devoto só não explica o papel dos papas no encobrimento dos «criminosos horríveis» nem o hábito dos bispos em transferirem os predadores para outro local de caça. Não explica a abdicação de B16, apenas afirma que «Consciente da missão central que lhe compete, salvar a humanidade neste momento tão difícil, achou que se deveria dedicar à tarefa fundamental, a oração diante de Deus, entregando a alguém mais jovem a condução dos assuntos operacionais». Pensará em alguma guerra santa?
Não sei se JCN acredita que as orações demovam Deus da indiferença a que se remeteu quanto aos negócios do Vaticano e nada diz sobre o branqueamento de capitais a que o pio Banco se dedica.
JCN acredita em qualquer papa e na bondade divina como um talibã nas profecias de Maomé. Para ele, a luta pelo poder não se desenrola no conclave que hoje começou. Os cardeais apreciam a beleza da Capela Cistina enquanto aguardam os sinais do Espírito Santo para elegerem um, alheio à vontade da Opus Dei e indiferente aos dinheiros do I.O.R.. Já esqueceu as sábias palavras do arcebispo Marcinkus que lembrou que a Igreja não se governa com terços mas com dinheiro. Parece que os documentos secretos roubados não mostram que há um poder acima dos cardeais a quem foram recusados. E esse poder não vem do Deus de JCN, mergulha fundo em séculos de cumplicidades e de relações suspeitas, na promiscuidade entre as máfias santas e as profanas.
Combate à fome e filantropia milionária
«Quando o Estado paga o nosso tratamento hospitalar, a nossa educação, a nossa pensão de reforma ou invalidez, o subsídio de desemprego ou o abono de família, está a dar-nos o que é nosso de direito. Quando contribuímos com os nossos impostos para a redistribuição da riqueza que a sociedade produz em conjunto, estamos a cumprir o nosso dever. Isto é justiça. Mas quando o Estado dá dinheiro dos contribuintes a instituições de caridade, transforma a justiça em esmola.»
(Ludwig Krippai, site Que treta?).
Possesso, o termo eclesiástico.
No tempo em que os sarcedotes recebiam o conhecimento directamente de Deus e por isso se afirmavam de sábios (sabichões), atacava-se o mal com o famigerado EXORCISMO. Se à primeira, com o auxílio da cruz e das rezas não resultasse a cura (coisa que nunca aconteceu), o caminho era a fogueira para aliviar a alma do desgraçado. E alguns destes gajos, mesmo sabendo ler e escrever, ainda têm lata para nos dias de hoje continuarem com o mesmo processo com os possessos, excluindo a fogueira porque dá prisão ou pena de morte de acordo com a lei praticada em cada país. Não fosse isto e ainda poderíamos sentir o cheiro do churrasco cristão.
Exorcismo aqui cuidado que os demónios até mordem.
Amanhã os cardeais vão entrar em reclusão para escolherem o sucessor de Bento XVI, o papa que perdeu a tiara, o anel e o camauro mas conservou a santidade e a vida.
Correu o boato de que antigamente era o Espírito Santo que iluminava os cardeais mas pelas asneiras que fizeram nas escolhas, a Opus Dei, uma seita recente, encarregou-se de substituir a pomba. Vale a pena esclarecer como foi criada a prelatura Opus Dei:
João Paulo II, emigrante polaco residente no Vaticano, solteiro, falecido aos 84 anos, papa católico de profissão, acumulou com a função de criar bispos e cardeais a obsessão de fabricar beatos e santos. Pelava-se por milagres e gratificava os autores sem prejuízo da fixação em Maria e uma adoração por virgens que a idade e o múnus exacerbaram.
Mas os santos da igreja católica lembram funcionários acomodados. Fazem um milagre para chegarem a beatos, outro para serem promovidos ao posto seguinte e abandonam o ramo. Só Santo Escrivá fez três, rubricados pelo Papa, em poucos anos de defunção.
Enquanto candidatos praticam a intercessão que lhes rogam mas desistem da vocação milagreira logo que abicham o lugar. E, quando se julgava que a intermediação tinha esgotado as vagas, João Paulo II rubricou alvarás de santo a largas centenas que se estabeleceram em nítida concorrência com os anteriores. Alguns destes fecharam a porta, que é como quem diz, foram apeados das peanhas onde enegreciam com o fumo das velas, se enchiam de fungos com a humidade ou se deixavam corroer pelo caruncho.
Com séculos de pequenos e honestos milagres, habituados à pedinchice autóctone e às lamúrias, quase sempre ao serviço de modestas comunidades que atendiam nos limites do razoável, perderam a aura e a devoção, submersos no tropel de novos e afidalgados ícones com vocação mediática. Migraram para as sacristias, acumulando pó, a um canto, a delir a pintura e o préstimo, a corroer as vestes e o respeito, em santa resignação.
Na religião há uma tendência para o sector terciário. Arrotear a fé, pescar almas, são tarefas pouco gratificantes. Transacionar bulas para mastigar carne à sexta-feira, vender indulgências, trocar santinhos, comercializar bênçãos, é negócio do passado. JP2 substituiu-o pelo lucrativo sector milagreiro. Promover jubileus é também um sucesso garantido para escoar imagens do promotor e fomentar a divulgação dos promovidos.
Não sei quanto valerá um dente de S. Josemaria Escrivá de Balaguer, com certificado de origem. Há de andar por uma fortuna, a avaliar pelo êxtase que o primeiro a ser exibido provocou aos peregrinos durante as exéquias de canonização. Penso que o mercado já está sortido de outras relíquias, nada restando do magnífico taumaturgo para exumar.
Pudessem os piedosos colecionadores ter adivinhado o destino promissor post mortem deste servo de Deus e ter-lhe-iam recolhido em vida duas dezenas de unhas e trinta e dois dentes.
E a perda irreparável da primeira dentição! Quem sabe se a premonição materna não terá acautelado o primeiro incisivo transformando um desvelo num tesouro, através deste estranho processo alquímico – a canonização – segredo transmitido aos sucessores de Pedro e usado em doses industriais pelos dois últimos pontífices?!.
Pudesse Teodorico Raposo ter depositado no regaço de D. Patrocínio uma relíquia de Santo Escrivá, que nem ele, nem a tia, nem Eça sabiam que viria a existir, e a devota Senhora ter-lhe-ia perdoado as relaxações do tartufo, embevecida pelos eflúvios celestes que dimanam da raiz do canino de um santo assim.
Tivesse a premonição dos membros do Opus Dei adivinhado a santidade do fundador, que muito dinheiro e a longevidade papal lograram, e teriam hoje em armazém farto recheio de têxteis tingidos por flagelações ou impregnados de outros fluidos.
A onda de devassidão que grassa no clero amargura os papas – que fizeram do celibato dogma e da castidade virtude – sem que a providência os tenha poupado à corja imensa de pederastas, muitos deles pedófilos, que exornam as dioceses da Igreja romana.
É, pois, necessário que floresçam santos como S. Josemaria cujas relíquias hão de servir de terebentina para desencardir a alma dos que sucumbem às tentações da carne.
Glória a S. Josemaria Escrivá de Balaguer nas Alturas e o poder na Terra ao Opus Dei.
Para substituir o único papa saído vivo do múnus, nos últimos seis séculos, vai começar amanhã um consistório. Tal como nos dois últimos, o Espírito Santo, que gozava da fama de iluminar os cardeais, será substituído pelo Opus Dei. Glória a Santo Escrivá.
Brasil: condenado padre que fez menina escrava sexual
Um padre suiço que vive no Brasil desde 1979 foi condenado a nove anos de prisão em regime fechado por pedofilia pelo tribunal da cidade de Borba, no interior do estado brasileiro do Amazonas.
Ex-freiras acusam padre de as tentar atropelar
Artur Parreira, ex-pároco de Alfândega da Fé e de Cerejais, é acusado de tentativa de homicídio e ameaças, por duas ex-freiras, Deolinda Serra e Idalina Joaquim. O processo está na fase de instrução.
O Vaticano, o Irão e a Rússia são alguns dos países que estão a tentar travar os esforços no combate à violência contra as mulheres, segundo responsáveis que participam na conferência das Nações Unidas sobre o tema.
Mais de 6.000 representantes da sociedade civil estão presentes na sessão anual da comissão da ONU sobre o estatuto da mulher, que se realiza em Nova Iorque.
Referência encontrada no blogue República e Laicidade. Post de Ricardo Alves
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