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Mês: Março 2013

29 de Março, 2013 Carlos Esperança

O negócio das canonizações continua

O Papa Francisco aprovou a publicação dos decretos que reconhecem o martírio de 62 católicos, assassinados no século XX por causa da sua fé, revelou hoje o Vaticano.

Esta é uma etapa do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade.

Os decretos incluem o reconhecimento das ‘virtudes heroicas’ da portuguesa Sílvia Cardoso Ferreira da Silva (1882-1950), que se distinguiu em atividades de caráter social.

29 de Março, 2013 Carlos Esperança

Brasil – Laicidade em perigo

Proposta que enterra o Estado Laico no Brasil pode ser aprovada na Câmara

Câmara pode aprovar proposta que dá fim ao Estado Laico no Brasil. Comissão de Constituição e Justiça já aprovou permissão para religiosos interferirem nas leis brasileiras

Se é que existe a laicidade no Brasil, onde, pelo menos teoricamente, a religião não interfere no Estado, ela está para ter seu fim. Isso porque na manhã desta quarta-feira, 27 de março, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição 99/11, do deputado João Campos.

29 de Março, 2013 Carlos Esperança

Desabafo de uma criança

” Eu gosto muito do menino Jesus. Quando ele nasce eu ganho prendas. Quando ele morre eu ganho chocolates.”

27 de Março, 2013 Carlos Esperança

Reflexão sobre questões de reciprocidade

Na vida como no amor o principal é a reciprocidade. A igualdade e a justiça dependem dela.

A plurigamia repugna-se mas resigno-me se os homens e as mulheres tiverem o mesmo tratamento jurídico. O adultério é um ato de traição mas se a anuência for mútua não o estigmatizarei.

Os deuses são falsos e as religiões fraudes organizadas mas se as mulheres e os homens tiverem direitos iguais tornam-se toleráveis e passam a meras multinacionais para venda e divulgação de orações.

O direito de repúdio de uma mulher só é infame e infamante porque não é permitido à mulher o direito de repudiar o homem.

Sem casamento não há divórcio mas, aceitando a legitimidade de um, tem de se aceitar o direito ao outro.

Se os símbolos religiosos entram nos edifícios públicos o busto da República deve estar presente nas igrejas. Se as paredes das escolas têm crucifixos as capelas devem ter fotos do Presidente da República. Se a imagem da Senhora de Fátima viaja pelas paredes dos hospitais a primeira-dama deve ter a fotografia nas paredes das sacristias.

A toponímia das nossas cidades está pejada de santos e referência religiosas. É altura de as paróquias começarem a denominar-se Afonso Costa, República e Joaquim António de Aguiar.

Um bispo dá nome a largos, Voltaire pode designar as novas igrejas. O Papa entra na toponímia de uma cidade, a Praça de S. Pedro pode passar a chamar-se Garibaldi.

Não é justo que o espaço público fique saturado de santos, beatos, bispos e papas e a ICAR ignore nomes que evocam a liberdade e a cultura, de Machado Santos a Salgueiro Maia, de Voltaire a Raul Rego, de Tomás da Fonseca a Saramago.

A nova basílica de Fátima devia ter sido consagrada ao livre-pensamento – um espaço de liberdade – em vez de à improvável Santíssima Trindade.

Se forem proibidos pagodes, igrejas, sinagogas, enfim, templos de qualquer religião e espaços antirreligiosos, não faz sentido que sejam consentidas mesquitas para quem não aceita outra religião e impõe violentamente a sua.

26 de Março, 2013 Carlos Esperança

A laicidade como condição de sobrevivência

A luta partidária nos países democráticos, com a necessidade de atrair votos, tem levado os Estados laicos à cumplicidade com as religiões, ultrapassando a garantia da liberdade de culto – como é seu dever –, e subordinando-se aos interesses da religião dominante.

A globalização trouxe consigo a possibilidade de expansão de todos os credos à escala mundial, aspiração de todos os apóstolos, que desprezam a concorrência. Na Europa os cristãos ortodoxos procuram manter privilégios ancestrais e conquistar os países da ex- URSS; o Vaticano pretende opor um dique ao islão e atrair os anglicanos enquanto combate o secularismo e a laicidade; as seitas evangélicas desejam penetrar no mercado enquanto o Islão, ressentido com o seu atraso e o fracasso da civilização árabe, procura islamizar o mundo à bomba.

Em 2010, a Suécia sofreu o primeiro acto de terrorismo suicida cuja origem apontou para a demência islâmica. Segundo documentos dos EUA, difundidos pela WikiLeaks, a Catalunha é o principal centro do islamismo radical no Mediterrâneo. Na memória dos europeus perduram os atos terroristas de 11 de Março de 2004, na estação ferroviária de Alcalá, em Espanha, os atentados de 7 de Julho de 2005 no metro de Londres, a onda de ameaças por causa dos cartoons de Maomé, na Dinamarca, e o medo da Alqaeda.

Se os crentes das várias religiões se limitassem a salvar a alma que acreditam ter e não tivessem a obsessão de salvar as dos que não querem, tudo seria calmo. Nenhum cético, ateu, livre-pensador ou agnóstico se interessa pelo número de orações que rezam os crentes, pelos jejuns a que se submetem, a abstinência que guardam, os alimentos que proscrevem ou a vida sexual que têm. O problema reside no desvario de quem pretende impor aos outros os seus valores particulares, convencido de cumprir a vontade do deus que lhe impuseram.

A Física, a Química e a Biologia, por exemplo, todos os dias mudam e enriquecem com novas descobertas. As ciências, apesar do azedume das religiões, progridem a um ritmo que deixa a fé, desorientada, a ruminar livros antigos e velhos preconceitos.

O horror clerical ao secularismo só rivaliza com a aversão dos papas ao preservativo. Os judeus, menos de 20 milhões, ainda reclamam a herança divina da Palestina para as suas tribos. Os islamitas, desesperados, agarram-se ao Corão como náufragos a uma jangada, sem espírito crítico, com ódio ao progresso, à liberdade individual e à modernidade.

A re-islamização da Turquia é um intuito perigoso contra o espírito laico das suas elites, uma obsessão do atual primeiro-ministro adepto dos tapetes para as orações. A Espanha enfrentou, com B16, a fúria papal que a queria devolver ao redil do Vaticano e o assédio do islamismo que a pretende transformar num novo califado.

Ai da Europa, ai de nós, da liberdade, da herança do Iluminismo e da modernidade, se os Estados, com a conivência de uma esquerda pouco inteligente e de uma direita beata, abdicar da laicidade e deixar o fanatismo religioso à solta numa sofreguidão prosélita.

Sem laicidade, imposta sem subterfúgios, a Europa das Luzes pode regredir e tornar-se o espaço beato onde o poder democrático ceda o lugar à vontade do deus que ganhar a batalha da fé pela força das armas e pelo terror.