Habemus desperdicium
Permitam-me o copy/paste de um mail acabado de cair na minha inbox. Ou antes, e para ser mais rigoroso: um paste do copy.
A RTP já tem três equipas de enviados especiais no Vaticano, a acompanhar uma reunião de senhores de idade com roupas esquisitas que, pelos vistos, vão eleger o próximo líder de uma congregação religiosa. O investimento da televisão pública neste evento social parece avultado e permite aceder a informações de extrema importância, nomeadamente o horário da emissão de fumos a partir de uma determinada chaminé e os nomes dos putativos candidatos ao cargo em disputa, acompanhadas de comentários tão relevantes como “pode ser que sim [que haja fumo] e pode ser que não” ou “eu sei que o senhor [padre] é um homem da igreja”.
Num momento em que, sabe-se, não falta quem esteja empenhado em destruir o serviço público de televisão invocando motivos económicos e de sustentabilidade, o custo da operação Vaticano parece francamente excessivo. Acresce que este “investimento”, para além de desnecessário (e até algo escandaloso num país onde não há dinheiro para quase nada), é pago em boa medida com recurso aos impostos e taxas pagos por todos os contribuintes de um país laico, independentemente do seu credo ou da falta dele, os quais se vêem obrigado a financiar a evangelizadora cruzada televisiva em que a escolha do papa católico apostólico romano está evidentemente transformada.
Face ao risco de, um dia destes, se concretizar a morte do serviço público de televisão e, por essa via, de a cobertura noticiosa do país se tornar ainda mais macrocéfala do que já é, os responsáveis pela RTP deviam pensar duas ou mesmo três vezes antes de se entreterem a brincar às televisões ricas. A defesa do serviço público de televisão precisa de todos (mesmo que seja o Relvas a decidir sozinho em benefício dos amigalhaços) e, assim de repente, parece má política hostilizar uma parte, mesmo que minoritária, obrigando-a a ver vinte minutos seguidos de rebarbativas transmissões directas a partir do Vaticano, quando esse tempo podia e devia ser usado para transmitir notícias realmente importantes (em vez de fait-divers sobre rituais místicos). Tal como estão as coisas, a última coisa de que a RTP precisa é de que os seus dirigentes disparem tiros nos próprios pés, dando ao país um exemplo flagrante de desperdício de dinheiros públicos.