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Mês: Março 2013

31 de Março, 2013 Abraão Loureiro

A religião e o aproveitamento das tecnologias

Como sempre, os religiosos aproveitam bem os inventos dos ateus para divulgarem as suas crenças porque com a falta de criatividade que têm não conseguem os seus intentos.

Para eles a criatividade não interessa, apenas interessa o criacionismo.

Nesta notícia, aí estão eles tentando chamar as crianças para a lavagem cerebral. O negócio vai mesmo de mal a pior. Esquecem-se que através do Facebook, as crianças têm acesso a outras fontes de informação bem mais interessantes e sadias.

Notícia publicada pelo jornal Sol. Leia aqui

Ferramentas

31 de Março, 2013 Carlos Esperança

Pedido unilateral do Papa

Papa pede aos incrédulos para «arriscarem aceitar Deus» (DN)

Os ateus pedem ao Papa para «arriscar a dúvida»

(Diário de uns Ateus)

31 de Março, 2013 David Ferreira

Que futuro?

O que há de racional no ato de automutilação? O que há de racional nas práticas rituais de sacrifício humano a deuses incognoscíveis? O que há de racional na concetualização de uma entidade superior a quem se atribuem características supremas de bondade, filantropia e graça, sem racionalizar que uma tal entidade não necessitaria em absoluto de sacrifício algum por parte da insignificante obra criada, a não ser que fosse dotado, de igual modo, de características supremas de egocentrismo, sadismo, narcisismo, entre tantas outras alheadas do frescor da verdade, da racionalidade e da sanidade mental?

Vivemos um período da história que se revela importantíssimo na determinação do modo como a humanidade se pode preparar inexoravelmente para enfrentar os desafios de uma nova era que se avizinha e cujos pilares deveriam ser erigidos, como sempre deveriam ter sido em todas as épocas, com base nas sólidas fundações dos erros reconhecidos e aprendidos do passado e na firmeza de um planeamento pragmático para o futuro. No entanto, a irracionalidade parece insurgir-se a cada dia que passa.

A crise económica, surgida de um sistema bancário internacional manipulado pela cegueira do lucro fácil, célere e a qualquer custo, abate-se por todo o mundo civilizado, ensombrando os dias de incerteza e as noites na esperança de que ela não seja uma certeza duradoura. A Este, um louco deificado declara guerra à democracia, exibindo um arsenal militar desmesurado e exulta como uma criança imberbe perante a vitória num qualquer jogo de estratégia de tabuleiro. No Bangladesh, durante o período da Páscoa cristã, dezenas de milhares de muçulmanos aglomeram-se em simultânea genuflexão na capital do país, como coelhos acometidos de mixomatose, não para pôr ovos, mas para rezar pela morte de um corajoso blogger ateu que alegadamente insultou o Islão, exigindo de volta as ancestrais e irracionais leis punitivas do ato de blasfémia. Ainda no mundo islâmico, crianças são atingidas a tiro de caçadeira na cabeça, por elementos da própria família, pelo crime de quererem estudar; outras são chicoteadas até à morte pelo crime de terem sido violadas. No Brasil, a emocionalmente descontrolada seita evangélica tenta insurgir-se a todo o custo contra as leis seculares de um estado laico, patrocinada pela exorcização de demónios e financiada pelo dízimo de um povo com um potencial enorme de desenvolvimento, mas que ainda soçobra perante o infortúnio da incultura, da superstição e do obscurantismo, que nem o excesso de Sol mingua. A Norte, os criacionistas empenham-se dia e noite, investindo largas somas de dinheiro com o intuito de elucidarem a humanidade acerca da inquestionável veracidade das metáforas do Velho Testamento e para a inclusão da sua surreal histórico-pseudociência no ensino escolar nacional. No mundo católico, os fiéis não se poupam nos elogios a um Papa elegido democraticamente pela intervenção do Espírito Santo e que a comunicação social se encarrega de elevar a Superstar; um Santo a ser caldeado numa forja que apenas produz Santos, calcinando nesse ato a memória do seu pensamento misógino e homofóbico, que se manterá imune a verrina, ao mesmo tempo que exorta o rebanho a combater pela persistência da oração os ardis que um tal de Diabo tece, como se o seu Deus omnipotente fosse incapaz de refrear as obras de tal subalterna, chifruda e vilipendiada figura de estilo. Nas Filipinas, jovens mutilam-se simulando a morte de um mito que pretendem eternizar de uma forma pornográfica e que a hierarquia da Igreja não tem o decoro de desaprovar em público de forma veemente e a comunicação social de não exibir, ao mesmo tempo que organizam debates sobre o nocente excesso de exibição de imagens violentas na formação cívica e moral das crianças.

Para quem é crente inveterado, todos os atos tresloucados se tornam congruentes quando neles se introduz o fator fé.

Que futuro queremos construir? Que futuro poderemos almejar para as novas gerações neste mundo que se ressente e se esboroa incessantemente com funestas dualidades cognitivas e contradições evolutivas?

O avançado saber científico que possuímos progride diariamente, permitindo-nos não só uma existência mais digna e menos sofredora, embora muitas vezes devastadora do natural equilíbrio do ecossistema, mas também o conhecimento da nossa condição de humanos e do lugar que ocupamos na natureza. Ao mesmo tempo, a falta do conhecimento mais básico irroga-se como realidade para milhões e milhões de seres humanos que, não tendo a capacidade para descortinar os mais elementares porquês das coisas, se deixam enredar sem constrangimento e de braços abertos nas teias debilitantes de quem julga ter todas as respostas sem necessidade de colocar todas as perguntas, perpetuando instituições que, pese embora a boa vontade propalada, não passam de organizações socioculturais primárias e impeditivas do hígido progresso da nossa espécie.

Estamos, de momento, num impasse. Resta-nos escolher. Essa escolha resume-se à luta entre o esclarecimento, com base no conhecimento, da mente mortal, das suas contingências e do seu aperfeiçoamento, contra a opressão irracional da perpetuação ilusória da posse de uma alma que só na concretização tão ardentemente ambicionada da imortalidade pode adquirir contornos perenes de perfeição.

30 de Março, 2013 Carlos Esperança

Religiões….

Por

Stefano Barbosa

Bancada evangélica exorcizando o Congresso Nacional…

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30 de Março, 2013 Carlos Esperança

O catolicismo de madeira, pregos e martelo

Para preservar o equilíbrio mental fujo da televisão como Maomé do toucinho. Limito-me, com exceção de alguns canais temáticos, a ver notícias e em dose homeopáticas.

Distraído, vi, nesta sexta-feira pascal, um programa pornográfico, algures nas Filipinas, onde uma dezena de jovens se fez crucificar num ato obsceno de masoquismo místico. Sei, da psicologia, até onde podem levar as patologias e não entendo como o Vaticano não repudia o carácter bárbaro da exibição e aceita a tortura numa orgia de fé.

A superstição e os costumes estão na base da perpetuação das crenças. Uma tomada de posição, hostil à selvajaria perpetrada pelos constrangimentos sociais e clericais, pode conduzir ao desprezo da religião e ao desprestígio do catolicismo.

O furor que exalta a fé e exulta os crentes é um anacronismo selvagem que os bispos não reprimem e de que as multidões não prescindem.

Quando julgávamos que a humanidade tinha proscrito os sacrifícios rituais, eles teimam em continuar perante a demência dos crentes, a cobardia dos bispos e a apatia divina. As flagelações que extasiavam o franquista Josemaria Escrivá são muito apreciadas no Céu, a ponto de converter um fascista num santo, pobres diabos num divertimento de créus e uma multidão de fanáticos na admiração do clero.

Que mundo estúpido. O homem fez deus à sua imagem e semelhança, com os piores defeitos. Não há perdão para o sofrimento inútil, perante o silêncio dos bispos, o gáudio da populaça e a indiferença de Deus.

30 de Março, 2013 Carlos Esperança

A missa na aldeia (Crónica)

Os sinos da igreja intimavam os paroquianos. O templo enchia, homens à frente, mulheres atrás, os «ricos» na primeira fila, sempre conforme à hierarquia e tradição. Uns minutos antes das nove ouvia-se a moto do padre Farias que já tinha despachado a missa das oito em Casal de Cinza e ainda o esperava outra paróquia.

Entrava sempre com ar mal disposto de quem sentia o penoso serviço de Deus como condenação, em paróquias pobres, de gente rude, sem instrução nem banho. Ainda dois dias antes ali estivera a ouvir em confissão os pecadores mais aflitos ou mais avezados à desobriga e à eucaristia. Não tardariam a chamá-lo de novo para levar o viático a um desgraçado que já não descolava da cama nem para a santa missa.

O latim deixava estarrecidos os crentes pelo carácter esotérico que assumia aos castos tímpanos de quem até o português, para lá de algumas centenas de palavras, soava a latim ou parecia língua estranha criada por Deus para confundir os homens nas obras da Torre de Babel.

A homilia era breve e as ameaças repetidas. Trabalhar ao domingo enfurecia o Senhor, comer carne à sexta-feira era veneno para a alma de quem não tivesse a bula, a côngrua andava atrasada por alguns paroquianos, a trovoada tinha dizimado as searas, era certo, mas a culpa não lhe cabia a ele, padre Farias, que cuidava das almas, a moto não se movia a água nem o mecânico a consertava a troco da absolvição dos pecados. Mas o mais injurioso para Deus e arriscado para a alma era trair a castidade pela qual a Santa Madre Igreja tanto zelava.

Recordo as pias mulheres, embiocadas no xaile e lenço negro, a debitar ave-marias, sem viverem o drama de D. Josefa que Eça descreve «toda sossegada, toda em virtude, a rezar a S. Francisco Xavier – e, de repente, nem ela soube como, põe-se a pensar como seria S. Francisco Xavier, nu, em pêlo».

Já não me surpreende que a Ti Beatriz, transida de frio e carregada de fome, de fé e de filhos, sempre com aquela tosse que irritava o padre e merecia das outras mulheres o diagnóstico de tísica, se debatesse com o outro drama da D. Josefa, de «O crime do padre Amaro», talvez em situações mais graves.

A bondosa D. Josefa juntava à nudez fantasiada do santo outro pecado que a torturava: «quando rezava, às vezes, sentia vir a expectoração; e, tendo ainda o nome de Deus ou da Virgem na boca, tinha de escarrar; ultimamente engolia o escarro, mas estivera pensando que o nome de Deus ou da Virgem lhe descia de embrulhada para o estômago e se ia misturar com as fezes! Que havia de fazer?”

A Ti Beatriz, alheia à metafísica, sofria a mesma consumição A tosse e a expectoração apoquentavam-na durante a eucaristia e o padre Farias já a ameaçara de lhe recusar o sacramento apesar da devoção com que cumpria os deveres canónicos e a regularidade com que paria um filho por ano.

Mal o corpo e o sangue do Cristo, em forma de alva rodela de pão ázimo, lhe tocavam a língua, logo a tosse e as secreções lhe acudiam à boca, parecendo acalmar à medida que o alimento espiritual aconchegava a mucosa gástrica, amansando o jejum e o catarro, seguindo o curso fisiológico.

Dita a missa, antes de destroçarem os paroquianos, o padre fazia avisos: pedia a quem encontrasse uma burra que informasse o dono, lembrava às mães que as crianças deviam ficar em casa se ganissem na missa, que qualquer cristão podia baptizar recém-nascidos em perigo de vida, in articulo mortis, sem necessidade de despachar um estafeta a exigir a sua presença, com risco de não estar ou de lhe minguar o tempo e a paciência.

Depois, enquanto o padre desaparecia sobre a moto, entre nuvens de pó, os homens ficavam a falar da vida, as mulheres regressavam a casa e os garotos enganavam a fome com uma bola de trapos.