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Mês: Fevereiro 2013

25 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Mais uma vergonha pia

Três sacerdotes e um ex-padre acusaram o cardeal da diocese de Saint Andrews e Edimburgo, Keith O’Brien, de tê-los assediado sexualmente durante os anos oitenta do século passado, segundo informa em exclusivo o jornal londrino de domingo The Observer .

O’Brien, que exerce o mais alto cargo da Igreja Católica na Escócia, líder da Conferência Episcopal, está previsto aposentar-se no próximo mês mas tem direito a participar no conclave para eleger o sucessor do Papa Bento XVI.

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24 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Quem sabe, sabe

Uma das grandes vantagens de se ser religioso, e de que eu, como ateu, lamento profundamente a falta, é a capacidade de falar com Deus. Não aquele corriqueiro ajoelhar e rezar, que isso não traz qualquer retorno, leia-se “feed-back”, mas o dialogar, de modo a saber, ao certo o que o interlocutor, neste caso Deus “lui-même” quer, deseja e manda. Porque uma coisa é ajoelhar-se numa qualquer igreja e berrar padre-nossos e salvé-rainhas que ninguém ouve, e outra, completamente diferente, é sentar-se à mesa de um café com Deus e na sua companhia tomar o pequeno-almoço. O pequeno-almoço e os pensamentos, os desejos, etc.

Pois bem, contrariando os boatos que por aí se vão espalhando, Ratzinger nega que a sua renúncia seja devida a cansaço, velhice, pressões ou lóbis. Nada disso. Ratzinger garante que foi por vontade de Deus a lembrar, vagamente, um fado que esteve muito em voga. Se o papa garante que essa é a vontade do patrão, quem somos nós para duvidar?

O que vai valendo é essa rapaziada toda saber quais são as vontades do tal Deus. Geralmente, são coincidentes com as vontades da tal rapaziada, mas são meras coincidências.

24 de Fevereiro, 2013 Ricardo Alves

O ambiente está lindo dentro da ICAR

Agora é o cardeal escocês O’Brien – outro megaultrahiperconservador – que é acusado de assediar sexualmente membros do clero. Quem quiser construir teorias de conspiração sobre a luta de morte na Cúria romana entre o «lóbi gay» e outra coisa qualquer (será o lóbi hetero? o lóbi assexual?) , tem muito com que se entreter…

23 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

Açores 8/23_02_2013 – Religiosidade no meio do Atlântico

Cheguei numa tarde de sol a Ponta Delgada. Durante 15 dias, a chuva, que é frequente, poupou-me nos passeios pela ilha. O basalto é o material de construção que sobressai nas casas e denuncia a origem vulcânica de S. Miguel e restantes ilhas do arquipélago dos Açores. S. Miguel é uma sucessão de prados verdejantes, povoados de vacas e rodeados de uma vegetação paradisíaca que acompanha a orografia até ao mar.

Saltaram à vista do viandante os azulejos que decoram as frontarias das casas modestas, reproduzindo o Senhor Santo Cristo dos Milagres ou, apenas, perdido o último apelido, o Senhor Santo Cristo, numa iconografia profusamente repetida sem grandes alterações. Há outras imagens pias, em menor abundância, e apenas deparei com uma dedicada a Santa Catarina (mártir) com um apelo que revela a falta de devoção: «dai juízo a todos os que vos louvem».

Entre casas de habitação, exíguas capelas, imaculadamente limpas e com alvas toalhas, prestam culto ao «Divino Espírito Santo», o elemento da Trindade que foi abandonado no Continente e que ainda persiste por essas paragens, em todas as povoações da ilha.

A devoção é um arcaísmo que permanece no meio do oceano quando o Espírito Santo, até em Roma, onde rumava aos consistórios para iluminar os cardeais na eleição de cada novo papa, já foi comutado pela influência da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei, mais expedita na atribuição das tiaras e com dois pontífices de experiência.

Algumas Senhoras de Fátima, sobre azulejos, na frontaria das casas, ainda advertem os transeuntes que percorrem os passeios estreitos, com o pedido: «Não ofendam mais a Deus». Sem elas, dir-se-ia que da Trindade, que a Igreja católica substituiu pela virgem Maria, só faltava o deus-pai cujo culto nunca foi promovido e de quem restam queixas residuais de ter criado o mundo e feito, do barro, o primeiro casal.

A fé e a pobreza caminham a par. Há pessoas que saem de casa em pijama e com ar de se terem furtado ao banho. A ilha é lindíssima e o aeroporto, apesar de não registar já os fluxos turísticos de há anos, foi crismado com o nome o de João Paulo II. Deve ter sido mau olhado pois o número de visitantes, ao que sei, não parou de diminuir desde então.

Gostava de assistir à procissão do Senhor Santo Cristo, não porque me impressionem as manifestações pias, para tentar descobrir o que levava a atual PGR a frequentar o evento com a beca vestida e em representação do Ministério Público, num flagrante atentado ao Estado laico que a Constituição preceitua.

Quem sabe se não foi o desígnio divino que a investiu nesse cargo, graças às ave-marias rezadas com a beca encharcada!

Nesta quaresma, mantendo a tradição, mais de dois mil homens saíram para a estrada no primeiro sábado, dia 16. Os romeiros, partindo das suas aldeias, dão a volta à ilha com mantos garridos, dormem em igrejas, cantam, rezam e, não raro, são atropelados nas curvas dos caminhos. Nas povoações aumentam o tom das preces e dos cantos pios.

Apesar das rezas, o culto é profano e desobedece à vontade da diocese que lhe pretende impor regras. Não sei se deus os ouve mas eu acordei sempre com a algazarra.

22 de Fevereiro, 2013 Carlos Esperança

A laicidade é a vacina contra as guerras religiosas

A laicidade é a vacina contra as guerras religiosas

As guerras religiosas são um flagelo devastador no dealbar deste novo milénio. A orgia de horror e crueldade deve ser contida onde quer que tenha lugar, seja qual for o credo.

A evidente fragilidade no combate aos crimes religiosos resulta da conivência entre Governos e Igrejas maioritárias. A separação é insuficiente e a laicização – único remédio eficaz – não foi ainda conseguida. O proselitismo é a expressão da vocação totalitária e o poder temporal uma obsessão clerical.

O processo de globalização em curso acirrou ódios inter-religiosos. Cada religião aspira à globalização e à exclusão da concorrência. Compreende-se assim a virulência das que se sentem mais ameaçadas. É no auge da crise que se atinge o apogeu da fé e a vertigem do martírio.

O XV Congresso do PPE, há mais de uma década, aprovou no Estoril a alusão à defesa do património cristão no projeto de Constituição da Europa. Era um erro e uma provocação às outras religiões do livro. Se a abolição de fronteiras for o objetivo, criar fronteiras religiosas é um paradoxo.

A Europa não tem de ser católica, protestante ou ortodoxa, tem de ser tolerante e humanista. No genocídio de seis milhões de judeus pelo nazismo, embora de origem secular, pesaram preconceitos cristãos.

A democracia é filha do combate à origem divina do poder. É na impossibilidade deste combate que reside a apoteose do fascismo islâmico.

A imprescindível neutralidade religiosa enjeita o relativismo moral do Estado. O laicismo recusa a pusilanimidade e combate com veemência qualquer atentado aos direitos do homem e à igualdade entre os sexos, quer sejam pregados numa sinagoga, igreja ou mesquita.

A liberdade religiosa é uma conquista civilizacional incompatível com a impunidade dos crimes que possam cometer-se à sombra de qualquer livro sagrado. Decorei o
catecismo católico terrorista que ensinava a odiar judeus, infiéis, comunistas e maçons e fiz a comunhão solene vestido de cruzado.

Deus talvez tenha sido uma ideia interessante, mas tornou-se um pesadelo.

22 de Fevereiro, 2013 Luís Grave Rodrigues

Religion