Ateus, crentes e livre-pensamento
Os ateus não reivindicam superioridade moral. Não é a crença que faz alguém melhor nem o ateísmo que torna qualquer um pior. A influência do meio ambiente, a educação recebida, a instrução que se adquire e a matriz genética, fazem os homens. Os homens são eles próprios e a sua circunstância, como disse Ortega y Gasset.
Há crentes que visitam o Diário de uns Ateus e que demonstram tolerância, espírito de diálogo, sentido crítico e respeito pelos valores humanos. Mas isso não faz respeitável a sua religião nem universais os seus valores e, muito menos, prova a existência de Deus. Apenas faz deles cidadãos respeitáveis ou mesmo exemplares.
O Diário de uns Ateus procura preservar alguns valores que as religiões combatem – a liberdade individual, a laicidade do Estado e tratamento igual para todos os cidadãos, independentemente do sexo, da religião e da raça. É surpreendente que os crentes se não interroguem sobre a geografia das religiões e não reflitam sobre como se distribuem os credos pelo planeta e à custa de quanto sangue.
Outro aspeto inquietante é o facto de todas as religiões defenderem tratamento igual quando são minoritárias e afirmarem que «não de deve tratar de forma igual o que é desigual» quando são maioritárias – argumento usado até à náusea em Portugal, pela ICAR, na negociação da Concordata.
A religião só não é mais repressiva porque não tem força suficiente. A cada conquista exige sempre mais. Não dispensa o batismo de crianças de tenra idade, não desiste de tornar obrigatório o ensino religioso na escola oficial, interfere através das associações que domina nos conteúdos e programas escolares e no comportamento social dos que não são crentes. Condiciona o aparelho de Estado e influencia as leis.
A possibilidade do divórcio entre casais que contraíram matrimónio católico só foi possível depois do saudoso ministro da Justiça Salgado Zenha ter ameaçado com a denúncia da Concordata. As Escolas do Magistério Primário, até ao 25 de Abril, tinham uma cadeira de Religião Católica, igual a qualquer outra, que exigia nota positiva para a obtenção do diploma de professor. Ninguém era dispensado da missa de consagração do curso, da bênção da pasta e da fotografia com o bispo da diocese. Ninguém podia ser professor sem praticar a religião católica, embora a lei não fosse clara a esse respeito.
A admissão em Escolas de Enfermagem exigia um certificado de batismo católico e o atestado de bom comportamento passado pelo padre da paróquia de nascimento. Eram documentos necessários. E, no fim do curso, lá vinha a bênção, a missa da consagração e outras pias violências a que tinha de se sujeitar quem precisava de ganhar a vida.
Para conter a violência clerical é preciso uma vigilância constante. O combate às religiões e o direito à blasfémia são necessários para a preservação da liberdade de pensamento que as igrejas se esforçam por erradicar.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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