A João Paulo II
Quando B16 vai pelo mesmo caminho, embora sem a mesma fé no patrão, permito-me deixar um texto dedicado ao antecessor e escrito em 16-06-2003
A João Paulo II
Escondam-lhe a água benta. Confisquem-lhe o hissope. Guardem-lhe o bordão. Vistam-no normalmente. Arranjem-lhe um atestado e ponham-no de baixa ou dêem-lhe a reforma e atribuam-lhe uma pensão.
Este homem vê o espaço povoado de espíritos malignos para além do horizonte e quer aspergi-los com a sanha de quem zurze o próprio demo.
Se alguém se fina com um rosário posto à socapa entre as mãos o papa fá-lo beato. E se lhe dizem que morreu de desgosto por haver infiéis, encomenda-lhe dois milagres e arremessa-o aos altares do mundo inteiro.
Enquanto o clero se espalha pelo planeta à cata de fedelhos e a predicar a castidade, o papa cria cardeais e fabrica santos. Percorre o mundo em busca de milhas que o levem ao Céu. Dentro dos aviões julga-se o anjo que voa, a espalhar a boa nova, sem se dar conta de que, se o motor falhasse, era mais um anjo rebelado contra Deus em busca veloz de um destino igual.
Regedor de um bairro de 44 hectares de fé a abarrotar de sotainas, agilizou a repartição encarregada das causas dos santos para facilitar o reconhecimento de milagres e as promoções canónicas. Qualquer servo de Deus pode ver-se venerável, em trânsito para beato e em direção a santo. Esta Santidade é um incansável artesão que não dá descanso aos moldes com que fabrica taumaturgos. Decidiu que o prestígio da sua igreja se mede pelos milagres que opera ou pelo número de santos que promove. Se não o travam acaba a produzir anjos, arcanjos e querubins para, das asas, retirar-lhes penas e rechear relicários. Este homem é um perigo.
Se Deus o inquirisse sobre os benignos que elevou confundiria pecadores contumazes, incréus vivos e bem-aventurados de conduta duvidosa. E, de certeza, não recordaria mais de 10% dos que renderam emolumentos ao seu pontificado. Mas, de tanto implorar o Céu, foi-se Deus cansando de o ouvir e acabou por esquecer-se dele.
São já 468 santos e 1288 beatos o número dos subornados pelas orações dos créus, duas vezes os primeiros e uma os últimos, gerando uma contabilidade de 2224 casos de corrupção canonicamente comprovada, com corruptores selecionados pela fé e corrompidos promovidos pelo papa.
A doença atenua-lhe o entendimento e os medicamentos agravam-lhe as alucinações. Os gestos são descoordenados mas as intenções mantêm-se inalteráveis. É preciso exorcizar o demo e espantar os espíritos malignos. Para isso persigna-se freneticamente durante a liturgia, e, em descontrolada volúpia mística, oscula medalhas, crucifixos e outros adereços que leva à boca em beata felação.
Isto não é um bispo, é um espantalho a esbracejar num campo de almas, a afugentar demónios e a impedir que poisem.
A cúria não tem cura.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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