Deus é omni… tudo
Do Génesis:
1.26 – E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.
2.9 – E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comida, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal.
2.16 – E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente,
2.17 – mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
3.6 – E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
Vamos partir do sacrossanto princípio de que Deus é, além do mais e sobretudo, omnisciente. Ou seja, sabe tudo: o passado, o presente e, pasme-se! – o futuro. Assim, no momento em que escrevo estas letras, Deus já sabe se você, leitor, as vai ler ou não. Mais: se você acabar por fechar o “site” ainda antes de as ler, assim como que numa súbita mudança de ideias, Deus já sabe que você vai fazer isso. Claro que se você já chegou a este ponto da leitura, isso significa que optou por não fechar o “site” antes de o ler. Porém se, apesar de tudo, você decidir fechar o “site” antes de chegar a este ponto, nem sabe o que perdeu. Mas Deus já sabia disso. Aliás, Deus sabe o que vou escrever a seguir, ao contrário de mim, que ainda não sei. Ele há coisas…!
Postos os factos neste pé, parece ser indubitável que Deus, quando fez Adão e Eva, já sabia:
a) – Que Adão iria comer da árvore da ciência do bem e do mal, já que:
b) – Eva iria convencer Adão a comer do “fruto proibido”.
Se Deus não sabia isto tudo, então não é omnisciente. Mas é. Logo, sabia o que iria acontecer. Apesar disso, insistiu em fabricar Adãovalendo-se de umas habilidades de olaria, não hesitou em fazer Eva(mesmo à custa de uma costela do desgraçado do Adão) e, mais grave que tudo, deixou ficar a árvore da ciência do bem e do mal. Ou seja, nada fez para evitar que acontecesse aquilo que, afinal de contas, já sabia que iria acontecer. Se isto não é sacanice alguém, por favor, me defina o que é sacanice. Isto para além do facto de ninguém saber por que carga de água Deus colocou a árvore da ciência do bem e do mal lá no Éden, quando é certo que ninguém podia comer os respectivos frutos. Parece não restarem dúvidas de que a árvore da ciência do bem e do mal foi ali colocada de propósito para que Eva persuadisse Adão a comer o fruto, ou seja, para que ambos pudessem pecar. O que se compreende, uma vez que o conceito de pecado foi instituído por Deus mas, naquela altura, Deus ainda nada tinha dito nada acerca desse assunto. Mais: não havia motivos para pecar, nem havia como pecar, ainda que se quisesse. Por exemplo: cometer adultério? Impossível! Roubar? O quê e a quem? Dizer palavrões? E quem os ensinaria ao jovem casal? Matar a mulher? Porra, lá se ia mais uma costela! Matar o marido? E quem sustentava a casa?
Ora, acontece que Deus, na sua bondade infinita, tinha de arranjar maneira de dar largas aos seus sádicos instintos: “Não existe pecado, inventa-se! Estes gajos é que têm de ser castigados, seja lá como for, e a que pretexto for.” Sim, que isto de gente mal-formada tem muito que se lhe diga. Veja-se, por exemplo, que a Preguiça é considerada como um “pecado mortal”. No entanto, foi o próprio Deus quem privilegiou esse delicioso pecado (delicioso como todos os outros pecados, aliás). Não acreditam? Então, respondam: o que é que dá mais trabalho? Tratar da terra – cavar, plantar, adubar, colher – tudo isto numa altura em que ainda não eram conhecidas as alfaias agrícolas, não havia arados ou, sequer, simples enxadas – ou tratar de um rebanho de ovelhas que se limitam a tosar umas ervas, a cagar e a parir? Nem sequer havia tesouras para a tosquia?
Pois bem, Caim era lavrador e Abel era pastor. Preguiçoso por natureza (se o não fosse, poderia tornar-se também lavrador) limitava-se a olhar para o rebanho. E mesmo isso não lhe dava qualquer trabalho, uma vez que não tinham, ainda, sido inventados os ladrões de gado e, ao que consta, não havia lobos no Éden.
Voltemos à Bíblia e ao Génesis:
4.2 – E teve mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.
4.3 – E aconteceu, ao cabo de dias, que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR.
4.4 – E Abel também trouxe dos primogénitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta.
4.5 – Mas para Caim e para a sua oferta não atentou.
Ou seja: Caim desunhou-se todo a colher – sabe-se lá! – uns frescos repolhos e umas couves-galegas, provavelmente umas alfaces e umas curgetes, quiçá umas cenouras e umas batatas, enfim, comida sadia, à base de fibras, e Deus mandou-o dar uma volta; mas atentou para uma oferta cheia de colesterol, que Abel trouxe. Como se não fosse suficientemente hipócrita, ainda determinou, tempos depois, que a Gula passaria a ser “pecado mortal”.
A sério: com deuses destes, quem precisa de demónios?