Assim não, senhor bispo
Deixe-me dizer-lhe que subscrevo inteiramente as suas palavras. Na verdade, se o anterior governo dizia mata, este diz esfola. E o senhor falou em corrupção precisamente numa altura em que as autoridades andam a investigar negociatas a que membros do governo não são alheios. No entanto, não lhe reconheço o direito de dizer o que disse. Ou seja, o tiro foi certeiro, a arma é que não foi a adequada, isto para utilizar terminologia da tropa.
Vou tentar explicar.
O senhor disse cobras e lagartos do actual Governo – precisamente o Governo que lhe aconchega a carteira ao fim do mês. Mas isso até ainda é o menos; há muitos funcionários públicos a dizer mal do Governo, e não é por aí que o gato vai às filhoses. O grande problema, senhor bispo, é que o senhor falou enquanto bispo. Pelo menos, envergava um dos fardamentos da função. E embora a ICAR tenha vindo, mui lesta, dizer que o senhor exprimiu uma opinião pessoal – nem outra coisa era de esperar – a verdade é que era o bispo das Forças Armadas que estava a falar. E é aí que eu começo a não concordar.E sabe porquê? Porque se trata de uma indecente ingerência da Igreja nas questões governativas. Do Estado, portanto. Já ouviu falar em separação? Pois…
Diga-me uma coisa: se, por hipótese meramente académica e completamente absurda, dado o permanente ajoelhar governativo, um membro do Governo se pronunciasse relativamente ao celibato dos padres ou ao sacerdócio das mulheres, como reagiria?
Pois é. Há situações em que fica muito mal morder a mão que alimenta.
Em simultâneo no À Moda do Porto