Ateísmo para religiosos
Por
Kavkaz
O padre Anselmo Borges escreveu mais um dos seus habituais artigos no jornal DN, intitulado “Religião para ateus”. Sabemos que os padres têm um “calcanhar de Aquiles”: o ateísmo. Por mais que digam que o ateísmo tem pouca expressão na sociedade, este é manifestamente o alvo da frustração religiosa. Compreende-se, indicarem algo atual sobre os deuses é que lhes será impossível, pois nada têm para relatar deles. Os deuses não existem!
O padre colunista relata ter encontrado um ateu convicto, Alain de Botton, que escreveu um livro intitulado “Religion for Atheists”. Só pelo título do livro e pelo apoio caloroso do padre Anselmo Borges já estaremos a imaginar o “ateu”. Estarão bem um para o outro.
O tema que os entusiasmou a escrever é o da “solidão” e o da “vulnerabilidade perante o fracasso profissional”. Ambos elogiam a “Missa”, lugar de encontro de conhecidos e desconhecidos”. Criticam os centros comerciais, onde as pessoas também se encontram e convivem.
O padre Anselmo Borges escreve: “As religiões, porém, são mais realistas em relação ao ser humano e, por isso, sabem dar orientações concretas para os vários domínios da existência”. Aqui, engana-se. As orientações dos padres podem servir para alguns, mas não servirão para muitos. Ensinar a viver é o objetivo deles, mas quantas vezes encontramos os padres com uma vida pouco exemplar para ser seguida? Que interessa ter uma “boa” teoria formatada, se a prática que apresentam é claramente contrária ao que “ensinam”? São os outros que têm de fazer bem e os padres podem fazer mal?
As religiões são expansivas e agressivas. Tentam impor regras e colocar as pessoas a cumprir o que o clero lhes indica. Intrometem-se demasiadas vezes na vida alheia com as suas indicações, instruções, para “corrigirem” o que entendem ser o “caminho errado” nas suas ideias formatadas. De tanto se intrometerem na vida dos outros chega-se, tantas vezes, às vias de facto, às guerras. É que nem todos estão disponíveis e precisam das “lições” velhas e desfasadas da realidade dos religiosos. Estes querem sempre dominar e mandar. Pensam que eles é que sabem e têm a “sabedoria” máxima. E mesmo que isso fosse verdade, que não é, teriam a obrigação de respeitar as posições diferentes dos outros, mesmo que entendessem ser erradas. O que não fizeram tantas vezes ao longo da História!
Anselmo Borges não quer dizer que há muitas formas de fazer amizades nos nossos dias, se as pessoas o desejarem, claro. Só a missa é que garante uma amizade? Será ridículo pensar isso. Um ateu não precisa da missa e pela razão séria de não desejar pagar para ouvir as mentiras religiosas dos padres. Um ateu estudou e concluiu que os deuses não existem. Não faz sentido convidarem-no para a missa. Será criancice dos religiosos propor tal. Queremos conversar? Há tantos oportunidades para tal, a família, vizinhança, grupos de interesses, os museus, cafés, estádios, internet, lojas, etc., etc. Basta querer conversar! Não proponham aos ateus a Missa cantada. Para o ateu isso seria como propor-lhe a “pobreza franciscana” e o atraso mental. Os ateus merecem e querem mais que a mentira religiosa!
O padre Anselmo Borges não fala dos custos da religião. São imensos e incomportáveis para boa parte da sociedade que empobrece ao manter as igrejas e sustentando todo o clero. Isto ele omite, propositadamente, no seu artigo. Não deveria fazê-lo em nome da “honestidade intelectual”.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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