“Não matarás”
O art.º 5º da Lei Mosaica diz claramente: “Não matarás” (Ex 20:13).
Dando uma vista de olhos pelos sites de pendor religioso, todos eles chegam à mesma conclusão: nada de matar o seu semelhante, porque é pecado – seja isso lá o que for. Designadamente a vida humana é o supremo valor, só Deus tem direito sobre a vida humana, etc. Claro que nenhuma fala do Catecismo, mais exactamente do §§2267 : “O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de com provadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte, se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto.” Mas não era aqui que eu queria chegar.
Lendo a Bíblia, não faltam descrições de mortes – ou encomendadas por Deus, ou praticadas para servir Deus, ou apenas em nome de Deus – afinal de contas, vai tudo dar ao mesmo.
Aparentemente, há aqui uma contradição: de um lado, “Não matarás”; do outro, “mata e esfola”. Mas não há contradição nenhuma.
A Bíblia foi escrita por judeus e era, naturalmente, destinada aos judeus. Não é por acaso que os judeus se consideram o “povo eleito”. E é aqui que bate o ponto: os judeus são povo eleito, os outros são gentios. Havia dois tipos de pessoas, os judeus e os gentios, ou “incircuncisos”. Os gentios eram desprezados, eram considerados uma casta inferior. Quando Deus disse “não matarás,” quis dizer – mas nem era preciso explicar, estava implícito – “não matarás… outro judeu”. Ou seja, não há qualquer tipo de contradição.
Só me pergunto é por que razão se continua – quem continua – a adorar um deus que, no fim de contas, despreza tudo o que não seja judeu.
Ou será que, contrariando o que diz a Bíblia, já não há judeus e gentios, e é tudo boa gente?
Ou será que os crentes no Deus de Abraão são todos judeus?