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Mês: Abril 2012

9 de Abril, 2012 Abraão Loureiro

9 de Abril, 2012 Carlos Esperança

O ministro Gaspar e o bispo James Usher

A hegemonia do ministro Gaspar sobre todos os ministérios repete a trágica experiência de outro ministro das Finanças que, entre 1928 e 1932, começou por controlar os vários ministérios e acabou a controlar o País.

Ao esquecer o programa modelar de controlo das contas públicas e do défice herdado do PSD, por Teixeira dos Santos, entre 2005 e 2008, Gaspar esqueceu a causa próxima dos problemas – a crise económica de 2008 –, e alienou, por cegueira partidária, o apoio imprescindível do PS, para a saída da crise, e a equidade na repartição dos sacrifícios.

Apesar dos lapsos, que aceita com a lentidão com que fala, e do desprezo que manifesta pelos deputados da AR e pelos seus pares no Conselho de Ministros, onde o subalterno de Ângelo Correia é incapaz de moderar a irritante atitude do ministro que revela défice democrático e de compostura cívica, apesar dos erros orçamentais e de outras tropelias, o ministro Gaspar é um governante à solta. Já é um dado adquirido que o PSD tinha na liderança, que julgava precária, a pessoa errada no momento certo em que teve a ajuda do PR para derrubar o anterior Governo e comprometer o PEC 4.

Para encontrarmos uma personalidade parecida com o atual ministro das Finanças temos de recuar ao século XVII e recuperar James Usher, arcebispo de Armagh, cuja erudição o tornou respeitadíssimo, no tempo, com o rigor dos seus cálculos.

Tal como Gaspar se baseia na cartilha ultraliberal, Usher baseou-se na Bíblia com igual fé e falta de senso. O bispo conseguiu determinar a data da criação da Terra – e só da Terra –, pelo Deus de Abraão, no ano de 4004 a.C, como ainda hoje creem e impõem os criacionistas. Mas, para além de ter determinado a data da expulsão de Adão e Eva do Paraíso (10 de novembro de 4004 a. C.) e a data da atracagem da arca de Noé no Monte Ararat (Turquia) em 5 de maio de 2348 a.C (quarta), conseguiu determinar com inaudita precisão a data da criação da Terra. Para além do ano, já referido, descobriu que a Terra foi criada às 9 horas da manhã do dia 23 de outubro de 4004 a.C (domingo). É histórico o prestígio e a credibilidade que lhe conferiu tal precisão entre os seus contemporâneos que mal sonhavam com os milhares de milhões de anos que precederam tamanha tolice.

Também Vítor Gaspar, baseado no Génesis da economia, descobriu que Portugal volta aos mercados financeiros em 23 de setembro de 2013. Só lhe faltou afirmar a hora que, certamente, dependerá da abertura dos mercados.

8 de Abril, 2012 Fernandes

Da Servidão Voluntária

 Que os déspotas desapareçam, uma vez que tal é o seu destino terrestre, pois «se invocam o céu, é para usurpar a Terra» dirá, com justiça Robespierre.

Não há monumento à tirania que não tenha sido erguido pela servidão voluntária. Não foram a morte, nem a doença, nem a miséria, a fraqueza ou o sofrimento, que levaram os homens a inventar este Deus cuja imortalidade os desafia, como se não fossem dignos de tal favor. Foram as condições que lhe foram impostas, de morrer por si próprios, de produzirem o seu próprio infortúnio, de se aviltarem e de se mutilarem voluntariamente.

A fraqueza do homem não é mais do que uma impotência aceite, uma resignação indulgentemente subjugada aos interesses de uma minoria. A Mentira Celeste limita-se apenas a legitimar a exploração dos que por covardia se resignam. Não é pois de espantar que após ter substituído o Deus dos pogroms pelo Deus dos gulags, a parte mais servil do povo russo voltou para o primeiro, que tem sobre Estaline a vantagem do tempo. Nenhuma tirania é suficientemente forte para subjugar milhões de pessoas, sem ajuda da religião ou da escravatura. Acontece que uma corresponde à outra. A religião é a forma mais acabada de desprezo em que os homens se oprimem. Ela reflecte-se na glorificação castradora da exaltação do sofrimento que na mitologia cristã se ilustrará, com um júbilo mórbido, pela repugnante efígie do seu messias Jesus esquartejado na árvore morta da cruz.

Os deuses são a verdade do mundo invertido. Eles reinam sobre o corpo mutilado, unem-lhe os bocados, tratam com solicitude as chagas que inflingem, eles são, ao mesmo tempo, médicos e algozes. Se a barbárie e a crueldade são inerentes a todas as religiões é porque não se pode guerrear contra si próprio sem guerrear com os outros. Não é por acaso que durante estes dois mil anos de cristianismo agressivo e lacrimoso, os homens compenetrados da injunção evangélica, «amai-vos uns aos outros» se tornaram nos seus próprios assassinos. Usurpadores e usurpados, exploradores e explorados tecem em conjunto os tecidos com que são feitos os sudários do género humano, permitindo-lhes continuar eufeudados a uma realeza do Além, a um império invisível com que identificam a sua realidade simbólica. Sempre prontos a justificar uma realiddade humanamente inaceitável, os “funcionários” dos deuses explicam, pela angústia universal da morte, a crença em divindades imortais que se arrogam o privilégio de atribuir ou subtrair a existência às suas criaturas, como o homem faria a um animalejo que pouparia por compaixão ou esmagaria por inadvertência, por fobia, ou por crueldade deliberada.

Fazendo de anjo, a religião propaga a besta. Não a besta livre e selvagem, mas a besta desnaturada pelo espírito, a bruteza sanguinária que tortura, esfomeia, maltrata, mortifica, viola e mata em nome de Deus, de um Ideal Celeste, de uma Causa Suprema, do Metal imanente da Transubstanciação. O ódio e o medo da animalidade fizeram do homem um ser amedrontado e odiento que se conduz face aos seus semelhantes como face a bestas arbitráriamente exploráveis, descarregando sobre elas o ressentimento que a repressão da sua parte animal suscita. Ao imputar ao homem a tendência natural para o pecado, como se este, comportasse uma espécie de defeito de fabrico, o Cristanismo tornou-se o “acidente de percurso na evolução do homem, entravou o seu progresso enquanto criador, subjugando o seu génio ao instinto predador de uma elite hierarquizada criadora de escravos, deuses e senhores.

O que há de impiedoso na religião é que ela é o espírito da desnaturação absoluta. Não lhe basta dar a sua caução sagrada a um universo submetido ao lucro e ao poder, legitimando como um princípio eterno o direito a subjugar, humilhar, desprezar e destruir, é preciso que preconize no campo ainda adverso a beleza da morte, do sofrimento e do sacrifício até nas revoltas que lhe ocorre encorajar, até na insubmissão que, por vezes, concede aos povos tiranizados, até nos seus acessos de tolerância que Cioran ironizava quando escreve. «O grau de desumanidade de uma religião assegura-lhe a força e a duração.»

Talvez tenha chegado o tempo de saudar todos os judeus que se insurgiram contra a religião hebraica da qual brotou este quisto-cebáceo chamado Cristianismo. Ao lado de Espinoza, Uriel Da Costa, de Marx, de revolucionários do Bund, de todos aqueles que nasceram judeus como se nasce picardo ou escocês e se preocupam apenas em ser homens, é preciso contar com Simão de Samaria, filósofo do século I, que a calúnia cristã disfarçou, sob o nome de Simão, “o Mágico”, com as lendas mais ridículas, não hesitando em o meter em cena para dar crédito à existência desse Josué, em grego Jesus, do qual se procuraria em vão o mínimo vestígio histórico.

 * adaptado de: Vaneigem Raoul. Da (in)humanidade da religião.

7 de Abril, 2012 Luís Grave Rodrigues

Páscoa

7 de Abril, 2012 Carlos Esperança

Para a ICAR a mulher é um ser impuro

O papa Bento XVI reafirmou ontem a proibição da Igreja Católica à ordenação de mulheres e advertiu que não vai tolerar a desobediência dos clérigos em relação aos ensinamentos fundamentais.

Bento XVI, que durante décadas até ser eleito em 2005 foi o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, fez uma crítica direta aos padres desobedientes no sermão da missa matinal da Quinta-Feira Santa, quando a Igreja Católica comemora o dia em que Cristo instituiu o sacramento da ordem.

6 de Abril, 2012 José Moreira

Se dúvidas houvesse…

… de que a miséria é a grande aliada da ICAR, elas poderiam, perfeitamente, ser eliminadas aqui

De qualquer modo, há que sublinhar a redundância do discurso do sr. bispo. Toda a gente está farta de saber, sempre foi assim, que quanto mais miseráveis e mais incultos, mais se aproximam das religiões.