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Milagres e exorcismos_1

Os judeus eram exímios em milagres. Sem exclusivo, gozavam de larga experiência no ramo com peritos conceituados como os profetas Elias e Eliseu e o próprio Moisés.

Melhor em curas só Asclépio, também conhecido por Esculápio, com vários templos espalhados pela Grécia onde era deus e curandeiro, tão famoso que ainda hoje empresta o nome aos médicos. Perdeu-o, diz a lenda, a mania de ressuscitar mortos, tendo-o Júpiter fulminado a pedido de Plutão que temia que os seus reinos – os  Infernos –, se despovoassem.

No tempo em que Jesus nasceu, além dos milagres estavam em voga os exorcismos, imprescindíveis para expulsar demónios que procuravam o corpo dos humanos como as bactérias o intestino.

Foi nessa cultura que Jesus nasceu, quando o demo ainda não se afligia com o sinal da cruz nem se deixava intimidar com água benta. Temia os profetas e estremecia com o aramaico como mais tarde havia de fugir dos padres, da cruz e do latim.

Jesus seguiu cedo a carreira de pregador e ofícios correlativos – milagres e exorcismos.

A cura de um possesso em Cafarnaum tornou-o conhecido e em breve outros vieram para que os curasse e ele curou. À Galileia chegaram possessos de Jerusalém,  da Judeia, da Idomeia, de além-Jordão, de Tiro e de Sídon e a todos ele curou.

Jesus expulsou inúmeros demónios, incluindo sete alojados em Maria Madalena, sendo-lhe mais difícil contá-los do que espantá-los.

Isaías profetizou que os leprosos seriam curados, os profetas acertam sempre, e Jesus curou os que lhe apareceram na consulta. Tempo viria, mas Jesus não sabia, em que as sulfonamidas, os antibióticos e a higiene erradicariam a doença.

O Vaticano já não adjudica milagres em leprosos, por falta de doentes, na Europa e na América latina, regiões privilegiadas na agenda das canonizações. É mais eficaz um médico de segunda do que a intercessão através do cadáver de um padre do Opus Dei ou de um mártir que na guerra civil de Espanha tivesse tomado o partido de Franco.

Hoje, perdido o caldo de cultura onde medravam Deus e o Diabo, restam famintos que estrebucham e rolam pelo chão em locais recônditos de países pobres onde os padres com a cruz e o hissope enxotam demónios, em latim, sem sacrificar porcos como Jesus soía.

Jesus foi pioneiro a atravessar a pé o mar da Galileia a caminho de Gerasa, para quem acreditaem Marcos e Lucas, ou de Gadara,  para quem prefere Mateus. Talvez soubesse o caminho das pedras mas o feito ainda hoje é debitado nas homilias para gáudio dos crédulos e proveito dos oficiantes.

Depois de morrer, Jesus apareceu ressuscitado a Pedro, depois aos Doze, mais tarde a mais de quinhentos, depois a Tiago, a seguir a «todos os Apóstolos» e, em último, ao próprio Paulo. Hoje, só a Virgem se desloca em viagens de propaganda e manifestações de piedade.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

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- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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