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Mês: Fevereiro 2012

29 de Fevereiro, 2012 Abraão Loureiro

Estamos evoluindo?

Cada vez que uma TV resolve fazer um debate que envolva amor, casamento, sexo e etc., qual a razão de ter sempre um convidado profissional de religião cristã, neste caso católico, sem experiência no assunto (suponho que não tem… mas isto sou eu a pensar) para dar palpites do que é certo ou errado?

Aconselho ver os dois videos do mesmo programa.

 

29 de Fevereiro, 2012 Carlos Esperança

Fim dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013

Fim dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013.

Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa diz que o processo acarreta morosidade

Enquanto o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro desaparecem do calendário dos feriados, o fim dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013 por este Governo, que está de joelhos perante as sotainas, desprezando a laicidade a que é obrigado e traindo o regime – a República –, cuja data emblemática é o 5 de Outubro.

A laicidade é uma conquista republicana que defende a liberdade religiosa e a paz.

Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à Tora e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam a laicidade e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo assustam a Europa.

A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestfália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.

A libertação social e cultural do controle das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.

A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.

Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.

Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral, com a crueza das épocas em que foram impressas.

Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.

Em 1979, a vitória do ayatollah Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio Oriente e sectores árabes e não árabes de países democráticos.

Por sua vez o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores laicos.

O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e já contamina o aparelho de Estado dos EUA.

O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II (JP2) e Bento XVI (B16), que enterraram o concílio Vaticano II e recuperaram o Vaticano I e o de Trento.

Os dois últimos pontífices transformaram a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e protetor, ou esteve na sua génese.

A passagem pelo poder de líderes políticos que explicitaram publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado deram um mau exemplo aos países saídos de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para novas sujeições.

A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias – uma forma de despotismo que urge erradicar.

A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma possibilidade a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode valer.

E Portugal vai por mau caminho.

27 de Fevereiro, 2012 Eduardo Patriota

Ministério Público quer acabar com privilégios da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)

Lavagem de dinheiro, extorsão, exploração do sofrimento alheio para enriquecimento próprio, exploração infantil, etc.

Esta é uma breve lista dos crimes cometidos pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), presidida pelo bispo Edir Macedo. Agora, o Ministério Público quer descobrir uma forma de acabar com os privilégios fiscais que a igreja usufrui, como o não recolhimento de impostos sobre as doações dos fiéis. Segundo o MP, os pastores da IURD  exploram fiéis, como no caso da criança que foi condicionada a vender seus brinquedos e doar o dinheiro à Igreja, ou um coitado que doava todo seu dinheiro para a Igreja e não sobrava nem para sua própria condução.

27 de Fevereiro, 2012 Carlos Esperança

Vaticano – um sítio mal frequentado

TEIAS DE CONSPIRAÇÃO

Desde o início do ano, a imprensa italiana tem publicado documentos secretos que dão conta de casos de corrupção, lavagem de dinheiro e até da intenção de afastar Bento XVI, por resignação ou morte.

27 de Fevereiro, 2012 Abraão Loureiro

27 de Fevereiro, 2012 Carlos Esperança

O governo, a fé e a inépcia

Os estagiários que Cavaco Silva, com o seu rancoroso discurso de vitória eleitoral, ajudou a conquistar o poder, sem dar tempo ao PSD para escolher um líder experiente, estão a revelar uma faceta piedosa com que pretendem esconder a inépcia.

O ministro da Economia escreveu um livro, não para apontar os caminhos para a saída da crise, que nos atormenta, mas para procurar a salvação da alma, que o aflige, lamentando que a diocese de Braga tenha diminuído a produção de padres católicos, atividade em que o seu seminário maior se destacou.

O inefável ministro Paulo Portas, que se deslocou a Coimbra às exéquias da perpétua reclusa Irmã Lúcia, por altura do seu passamento, e que agradeceu à Senhora de Fátima ter enviado ventos e marés para desviarem a poluição do navio Préstige para a costa da Galiza, colocou no ministério uma política inapta a responder ao problema da seca mas capaz de rezar uma novena: «Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova».

O ministro da Saúde que encomendou uma missa para os funcionários da Direção-Geral dos Impostos, quando foi seu titular, vai encaminhando os doentes para as Misericórdias e não tardará a promover uma peregrinação a Fátima para que sejam obrados milagres nos doentes que custam dinheiro ao erário público.

Falhado o conselho de um secretário de Estado, corroborado pelo primeiro-ministro, para que os jovens desempregados emigrem, o líder da JSD apresentou, como proposta para combater o desemprego, uma ideia original: «É sobretudo uma questão de fé e de acreditar que é possível».

Neste coro beato só faltava o antigo ministro do CDS, agora deputado, Telmo Correia a opor-se à adoção gay com o argumento de que a lei era “contrária à vontade do criador”, querendo dizer com isso que, perante o Parlamento e o seu deus, que não tem aí assento, é a vontade do ausente que deve ser levada em conta.

Este triângulo, Rua de S. Caetano, Largo do Caldas e palácio de S. Bento desistiram de um módico de pudor republicano, tornando-se na Comissão Fabriqueira da Paróquia de São Bento.

26 de Fevereiro, 2012 Ludwig Krippahl

Razões, razão e ter razão.

A propósito da recorrente discussão acerca da fé e da razão, e se uma exclui a outra, pediram-me que escrevesse sobre o que eu entendo serem razões, razão e ter razão (1). Ora aqui vai.

As razões são os pontos de partida dos argumentos. Podem não vir no princípio da conversa, mas estão no início do raciocínio. Por exemplo, em “é melhor levar o guarda-chuva porque vai chover”, “vai chover” é o ponto de partida, de onde se infere a conclusão. E, para fundamentarem o argumento, as razões têm de apontar para a conclusão. Marte estar em Capricórnio não é uma boa razão para levar o guarda-chuva porque, tanto quanto saiba, uma coisa não tem nada que ver com a outra. As razões têm também de invocar algo que se imponha à nossa opinião e não seja mero fruto de uma decisão arbitrária. A chuva, por exemplo. Mas dizer que levo o guarda-chuva porque decidi levá-lo é começar o argumento a meio. Falta dizer o que me levou decidir assim. Exigir que as razões não sejam arbitrárias, que moldem as nossas escolhas em vez de se moldarem a estas, é necessário para distinguir entre razões e meras desculpas.

Além disto, se queremos partilhar raciocínios e persuadir de forma racional, as razões que apresentamos também têm de ser relevantes para os outros. Se eu despejar um balde de água no sofá justificando que o fiz porque me apeteceu, nem vou parecer racional nem convencer ninguém do mérito do acto. Apesar desse impulso estar no início do raciocínio, por não haver nada racional que o preceda, não é uma uma razão que outros aceitem. Mas se a razão for que o sofá estava a arder o argumento já será mais persuasivo. Essa já é uma razão para despejar água no sofá.

Noutro sentido, a razão é a capacidade de procurar e avaliar razões, de conduzir o raciocínio para onde estas indicam e, assim, de formar opiniões com um fundamento que se possa partilhar. É a característica do animal racional que, pelo menos quando a usamos, torna a nossa espécie exímia a colaborar para obter conhecimento, a encontrar consensos e a resolver divergências de forma produtiva e sem violência. Se a razão já é importante para cada um, individualmente, para a nossa coexistência é indispensável.

Quanto à fé, se eu disser que Deus não existe porque acredito, ou porque tenho fé, que não exista tal coisa, o argumento não será racional porque esta razão não cumpre os requisitos que as razões devem cumprir: a minha crença não pode ser o ponto inicial do argumento, porque tem de haver algo que me tenha levado a acreditar nisto em vez de acreditar no contrário; o que eu acredito não determina se Deus existe ou não; e acreditar que Deus não existe não é um ponto de partida aceitável para quem não seja ateu como eu.

Se bem que eu não argumente a inexistência de Deus com base na minha descrença, nem tenha encontrado outro ateu que o fizesse, na posição contrária este erro é tão comum que é praticamente a norma. Muita gente justifica afirmar que o seu deus existe pela fé que tem nessa existência, pela sua crença, pelas crenças dos outros, tradições ou textos que considera sagrados. Nada disso serve, porque nada disso permite concluir que este ou aquele deus realmente existe, nada disso é ponto de partida num raciocínio, omitindo as razões para formar tais crenças, e nada disso será aceite por quem não partilhar delas. É por isso que os cristãos não são persuadidos pelos argumentos dos muçulmanos, nem vice-versa. Um argumento assente na fé, crença, tradição ou num testemunho escolhido arbitrariamente não dá qualquer base para consenso. Não permite determinar quem tem razão.

Em contraste, o ateísmo pode ser defendido racionalmente porque, em geral, as hipóteses que nos apresentam acerca das características dos deuses são contrárias às evidências que todos reconhecemos. Por exemplo, um deus que criou o universo em seis dias há poucos milhares de anos ou um deus que é omnipotente, infinitamente benévolo e nos ama a todos. E mesmo quando o que propõem não pode ser confrontado com o que se observa, o número de propostas mutuamente exclusivas, a impossibilidade de as testar e a falta de indícios de que os alegados peritos de cada religião saibam realmente o que dizem saber, justifica a atitude céptica de rejeitar cada uma dessas alegações até que tenha suporte adequado.

Usando a razão, um crente pode facilmente perceber esta incompatibilidade. A razão serve para avaliar hipóteses procurando as razões que as justificariam. Assim, pode ser usada para encontrar o que é que se exigiria para acreditar em cada alegação de cada religião. Por exemplo, que evidências poderiam persuadir de que Alá é o único deus e Maomé o seu profeta, ou a aceitar a doutrina da reencarnação, a infalibilidade do Papa ou a autoridade religiosa do Edir Macedo. Fazendo este exercício com imparcialidade qualquer crente, seja de que religião for, constatará que só se pode manter fiel à sua religião se exigir desta muito menos do que exigiria de qualquer outra. Se fosse consistente no seu grau de exigência para este tipo de alegações, acabaria ateu por ter de rejeitar todas como igualmente infundadas. Só pela fé é que se pode seguir uma religião em detrimento das outras, mas a fé não é razão.

1- Para quem quiser encomendar posts: Posts por encomenda.

Em simultâneo no Que Treta!

25 de Fevereiro, 2012 Luís Grave Rodrigues

Bardamerda, Sr. Deputado!

A Assembleia da República chumbou os projectos de lei que possibilitavam a adopção por casais do mesmo sexo. Todos os partidos deram liberdade de voto aos seus deputados, mas a maioria acabou por votar contra.

É um resultado que, infelizmente, não me surpreende.
Já nem me surpreende o sentido de voto dos deputados do PCP, que votaram unanimemente contra os projectos de lei. Aliás, em absoluta coerência com a sua já tradicional homofobia revolucionária, de que José Carlos Ary dos Santos ou Júlio Fogaça são inesquecíveis exemplos.

Já nem sequer me surpreende que tantos deputados se conformem com esta inqualificável situação de discriminação entre cidadãos feita em razão das suas características pessoais, biológicas e identitárias, e que, antes de mais, constitui uma aberrante inconstitucionalidade. Nem me surpreende que os deputados da Nação pareçam ignorar a realidade que já se verifica no seu país.

Mas o que já me surpreendeu foi a declaração do deputado do CDS Telmo Correia, que justificou o sentido do seu voto (e o da sua bancada) explicando que a adopção por casais do mesmo sexo “contraria o Criador”.

O que isto quer dizer é que o deputado Telmo Correia, com o sentido do voto que expressou, já não representa os portugueses que o elegeram, nem sequer a sua própria consciência: representa agora… o “Criador”.
E pelos vistos não o quer contrariar!

O que isto quer dizer é que o deputado Telmo Correia encontrou um canal privilegiado de comunicação que lhe permite conhecer a vontade do “Criador”.
O que isto quer dizer é que se um dia for confrontado com um projecto de lei que vise condenar à morte os homossexuais, o deputado Telmo Correia interpretará a vontade do “Criador” e… votará a favor – em consonância, pelos vistos, com os seus parceiros ideológicos do Uganda, do Irão ou da Arábia Saudita.

Temos então um deputado à Assembleia da República, um titular do órgão de soberania que representa o poder legislativo de um Estado laico, que despreza e escarra despudoradamente na Constituição que jurou defender, e prefere antes cumprir a vontade mística de um ser invisível a que chama “Criador”, assim numa espécie de “sharia” católica que para este idiota fanático vale pelos vistos mais do que o Estado de Direito democrático.

A vontade do “Criador”?
– Bardamerda, Sr. Deputado!