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Abrão ou Abraão

Por

Leopoldo Pereira

O Profeta merece a nossa atenção, pois é venerado pelas três grandes religiões monoteístas, a saber: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, também designadas por Abraâmicas. No Judaísmo é considerado o 1.º Patriarca e grande pioneiro da fé de Israel.

A Bíblia está pejada de estórias ridículas e de asneiras incomensuráveis, que nos levam a um passado por vezes ambíguo e, em muitos casos, improvável.

Há quem afirme que é preciso saber lê-la; há quem afirme que está escrita em código; há quem afirme que só os verdadeiros crentes podem percebê-la. Alinho inteiramente com o grande humorista, meu conterrâneo, José Vilhena, que fez rir meio mundo com as suas publicações e dizia que a Bíblia era o melhor livro de anedotas. Por isso o não dispenso.

Também sei que imensa gente compra a Bíblia e não se dá ao trabalho de a ler, porque se a lessem deparariam logo no começo com a descrição que segue, resumida segundo o meu próprio humor.

Do Pentateuco constam 5 livros (tira-se à letra), sendo o Génesis e o Êxodo os que considero mais interessantes. No 1.º podem ler-se as estórias de Adão e Eva, Noé e o Dilúvio, Caim e Abel, Abrão e Sara, José e os irmãos, etc. No 2.º é de realçar Moisés e os 10 Mandamentos.

Então vamos lá: Deus criou as plantas, depois os animais e por fim Adão. Como este andasse triste e a roer as unhas (às escondidas), Deus percebeu que tinha de intervir e decidiu arranjar-lhe companhia. Adão deixou de roer as unhas mas, levado pela companheira (esta enganada pela serpente), comeram da árvore do conhecimento, manjar que não constava da Ementa Divina e lixaram-se. Deus não perdoou e expulsou-os do Éden.

O Supremo aproveitou a deixa, pensando logo no povoamento da Terra; para o efeito o casal teve três filhos varões: Caim, Abel e Set. Diz-se que Abel era do tipo florzinha e Caim não apreciava nada as suas maneiras esquisitas; um dia em que estavam sós no campo, ao que consta, Abel apanhava trevos de 4 folhas. Caim (irritado) deu-lhe um pontapé. Por infelicidade atingiu o que não devia e foi a tragédia que se sabe. De qualquer modo ainda restaram dois homens para o tal povoamento. Como se desenrascaram não sei, já que o Livro Sagrado é omisso quanto à proveniência das suas mulheres…

O certo é que o Planeta se foi povoando, lá para os lados do médio oriente, região sob alçada Divina. A certa altura as coisas começaram a descambar e Deus decidiu castigar tudo quanto mexesse. Foi ter com Noé (filho de Lamec e neto de Matusalém), propondo-lhe a construção de uma barca (arca), com as dimensões: 150 m de comprimento, 25 m de largura e 15 m de altura; devia ter três andares sobrepostos e uma clarabóia de meio metro; nela havia de meter a família e um casal de animais de todas as espécies, com alimentos que chegassem para 40 dias. Noé aceitou o desafio; construiu a arca e, certamente com alguma dificuldade, meteu nela tudo o que havia a meter. Terminado o dilúvio, tudo abandonou a arca.

Abrão, filho de Taré, já pertence à nova geração, iniciada pela família Noé; terá nascido na Mesopotâmia (o local de nascimento levanta muitas dúvidas), cerca de 2000 anos (AC). Judeus, cristãos e muçulmanos, consideram-no (como se disse) seu antepassado de eleição.

Não obstante os desmandos anteriores, perpetrados pelos humanos, o que levou Deus a afogá-los, os da nova geração estavam saindo pior que a encomenda, dedicando-se à adoração de ídolos e sobretudo de astros (Sol e Lua). Abrão achou que a malta ia no mau caminho e tentou alertá-la, aconselhando a troca das várias crenças por uma só: o Deus único. A forte convicção na fé que abraçava levava-o a erigir altares por tudo quanto era sítio e a imolar neles várias espécies de animais, sacrificados em louvor do Senhor. A populaça achou que o tipo estava tolo e quis matá-lo.

Então o grande Profeta optou por dar à sola, emigrando para o Egipto. Antes de entrar naquele país convenceu a bela esposa a mentir acerca da sua condição de casados, devendo assumir-se como irmãos. Depressa chegou aos ouvidos do Faraó que entrara no território uma linda mulher e como não estava comprometida… o Soberano (considerado de origem Divina) aproveitou! Para que o mano não ficasse melindrado, o Faraó ofereceu-lhe vacas, ovelhas, escravos, ouro, etc., de modo que Abrão e até o sobrinho Lot, que emigrara com o tio, a breve trecho já estavam ricos. Entretanto um qualquer “bufo” fez saber ao Faraó que afinal Sara era esposa de Arão e não irmã. Neste ponto fui ao dicionário, para não me acusarem de má-língua e li o seguinte: “Corno – Marido a quem a mulher atraiçoou”. Penso que estarão em sintonia comigo, não é o caso. Dificilmente se pode culpabilizar, donde aquele vocábulo não deve figurar na sua forma simples; a expressão apropriada será: “Corno manso”.

Pelos vistos o Faraó antipatizava com tipos desses e ordenou que o pusessem fora das fronteiras, permitindo no entanto (é de aplaudir) que levasse a mulher e os haveres. Lá voltou para junto dos seus, prosseguindo com aquela tara dos altares, mas agora a fortuna evitava que tais desvarios lhe provocassem incómodos de maior.

Tudo parecia correr às mil maravilhas, só que Sara (não há bela sem senão) era estéril. Então Deus permitiu e Sara não se opôs, que Abrão se servisse de uma escrava, donde resultou um filho: Ismael. Pelo meio ficam umas intrigazitas entre Agar (mãe de Ismael) e Sara, também alguma relutância do papá em aceitar a paternidade, mas Deus lá foi equilibrando as coisas. Anos mais tarde e para que acontecesse um milagre digno de registo, Deus permitiu que os já velhos Abrão e Sara também tivessem um filho: Isaac. (Abrão teria cem anos). Algumas primaveras volvidas, Deus quis testar a fé de Abrão, propondo-lhe a matança do próprio filho. Abrão nem pestanejou; levou o filho para um sítio ermo, munido de lenha, faca e corda, como fazia com os outros animais, mas na hora H ouve-se uma voz do Alto, que se expressou mais ou menos deste modo: “Abrão, Abrão, já não tenho dúvidas que és um fanático irrepreensível, escusas de matar o menino”.

O rapaz, que há muito duvidava que o papá regulasse bem da bola, agora tinha a certeza e, mal se libertou, pôs-se a milhas. Abrão bem chamou por ele, em vão. Há teólogos que dizem ter o menino respondido de longe, em termos tais que sugerem uma passagem da criança pelo Porto, talvez num daqueles intercâmbios escolares, que ao tempo estavam tão em voga. Porém, Abrão não perderia a característica de corno manso e, usando a mesma estratégia que usara no Egipto, fez com que Sara dormisse com o rei Amibelec. Também aqui o monarca retribuiu com vacas, ovelhas, etc. A rentável Sara acabou por falecer e Abrão, que durou 175 anos, voltou a casar e a ter mais filhos!

Antes de terminar e porque se falou de Lot, convém referir que teve duas filhas, ao que consta malucas até dizer basta. As pequenas resolveram embriagar o pai, durante duas noites seguidas, para com ele terem relações sexuais. Ambas engravidaram dele.

A Bíblia começa assim, mas esta parte está longe de ser a minha preferida. Volto a recomendar a sua leitura e juro que não aufiro um cêntimo pela publicidade.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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