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Mês: Outubro 2011

14 de Outubro, 2011 José Moreira

A Igreja e os feriados

Leio, na comunicação social, que a Igreja está “disponível para conversar” sobre os feriados – isto a propósito da prevista alteração, de que já se falou anteriormente. Confesso que a minha primeira reacção foi deixar cair o queixo. A despropósito, convenhamos, porque da ICAR  tudo é expectável. No pior sentido, naturalmente. Alguém lhes perguntou alguma coisa? A ICAR é, agora, proprietária dos feriados?

Desde logo, a alteração ou eliminação dos feriados vem na sequência de medidas económicas. Ou seja, é uma medida meramente política, que nada tem a ver com a religiosidade. Pelo que, e nesse sentido, quem deveria mostrar-se disposto para conversar, seriam os chamados parceiros sociais, esses sim, representantes de quem, de uma forma ou de outra, contribui para a economia do país.  Não me recordo de a ICAR ter contribuído, no sentido útil, para essa mesma economia. Pelo contrário, encontra-se isenta de impostos que fazem doer a carteira de quem, realmente, trabalha, e farta-se de receber subsídios. Bem, farta-se é uma figura de estilo. Nunca se farta.

Mas também é sabido que os feriados religiosos acabam por ser, no fim de contas, uma forma de a ICAR arredondar as contas. Feriado religioso é dinheiro em caixa, para a ICAR.  Daí o meu desqueixelamento ter sido despropositado: o Governo está a “mexer nos bolsos” da ICAR, e esta põe-se em bicos de pés. Rabeia, como diria a minha avó.

Curiosamente, ainda não notei que algum dos ditos parceiros sociais se tenha pronunciado – mesmo aqueles que defendem “menos trabalho e mais dinheiro”. Andarei distraído?

14 de Outubro, 2011 Raul Pereira

O bug de Steve Jobs…

…chamava-se Budismo temperado com pitadas de balelas new-age. Na opinião de Ramzi Amri, cirurgião oncológico da Harvard Medical School, que tem estudado formas do cancro que afectou o ex-patrão da Apple, a recusa em receber tratamentos pela medicina cientificamente comprovada poderá ter sido a causa da sua morte prematura, como explica o cientista no Quora.

Devo alertar primeiro que este não é um artigo contra Jobs, mas uma breve reflexão sobre o que parecem ter sido as suas opções de tratamento. Aqui não é o lugar para discutir a importância de Jobs neste início de século, nem se os Mac são melhores do que os PC, ou se o Android é superior ao iOS; até porque, embora adore computadores, considero que ainda estamos na infância da informática e continuo a achar que são todos um grande monte de esterco adorável, sem excepção: nem uma mísera cópia-de-segurança do nosso cérebro podemos fazer ainda, por exemplo! Como bosta magnífica que são, não tomo partido por nenhum, o debate é infrutífero. E longe de mim cometer o erro de atacar imediatamente quem adora os produtos Apple ao ponto de ficar dias numa fila, pois estas questões são exactamente como a religião: cada um segue o culto que quer (ou não segue nenhum) e ninguém tem nada a ver com isso… Sim, pronto, foi uma tentativa de piada. Nunca desistir do sentido de humor. Adiante.

A questão aqui é tentar perceber como é que um homem com a formação de Jobs preferiu confiar nas «medicinas» alternativas em detrimento da Medicina. E é muito difícil encontrar uma resposta quando falamos de um homem que profere um discurso como este [vídeo com legendas em Português] e não nos concentrarmos na sua espiritualidade e na época em que a adquiriu — viagem à Índia incluída. É que, ainda por cima, e de acordo com Ramzi Amri, o cancro que afectou Jobs nem era particularmente mortal, nem tampouco era o demolidor cancro pancreático que os meios-de-comunicação social (sempre rigorosos nestas coisas) divulgaram exaustivamente, mas uma forma de carcinoma que, apesar de ter tido origem no pâncreas, faz parte de um grupo restrito de tumores neuro-endocrinais que têm um prognóstico de tratamento bastante favorável, bastando para isso removê-los. Sim, simplesmente, sem beber urina diluída milhentas vezes em água, ou engolir uma pastilha de Gingko-biloba concentrado com ameixa de Elvas. Leva-nos até a questionar se teria sido o mesmo Jobs que disse, naquele discurso: «Don’t be trapped by dogma — which is living with the results of other people’s thinking». Recordámo-nos de súbito que sim, pois uns minutos antes tinha dito que caminhava 11 quilómetros para ir comer ao templo de Krishna, aos domingos… Ele afirma também, nessa mesma comunicação, que tinha sido submetido a cirurgia e havia retirado o tumor. Pois, mas passados anos a tentar mezinhas e apenas em último recurso, quando já era tarde demais, levando-o, até, a ter que remover o fígado e ao célebre transplante que se seguiu.

Claro que, para ele, que passou pela doce juventude nos anos 70 e, por essa razão, tal como tantos outros homens e mulheres na sua faixa etária no mundo ocidental, não lhe foi fácil pôr de lado as idiotices orientais que os ácidos ajudavam a cimentar nas sinapses. Mas, claramente (e ressalvando o facto de que Ramzi Amri fala sempre do ponto de vista hipotético), isto é o que pode acontecer quando se deixa passar a Ciência para segundo plano e o «veneno» da irracionalidade, como lhe chamou Hitchens, continua a corroer por dentro, mesmo em mentes brilhantes.

Steve Jobs nos anos 70

Steve Jobs nos anos 70

 

Steve Jobs, infelizmente, não era nenhum cientista. Ele geria, na sua forma peculiar, a criação de objectos tecnológicos e, como grande gestor que era e com a sua visão ousada e conhecimento único do seu cliente-alvo, tornou a Apple numa das empresas mais poderosas do mundo, o que já não foi pouco e é louvável a todos os níveis. Da Ciência, lamentavelmente, ele só mantinha a confiança nos componentes que lhe serviam para fabricar os seus produtos, pois para o que realmente importava, preferiu ignorá-la.

Para quem enaltece o Budismo e as paranóias new-age quando em comparação com outros cultos, este caso devia dar que pensar. Conheço até ateus que nutrem simpatia pela religião do obeso e pachorrento filósofo oriental. Amigos, tenho uma novidade para vocês: a religião é religião, é religião, é religião, é religião, e sempre esteve podre tanto a ocidente como a oriente, por toda a face do orbe terrestre.

Há uma frase que Jobs proferiu em Stanford que, apesar de completamente retirada do contexto, resume tudo: «It was awful tasting medicine, but I guess the patient needed it.»

13 de Outubro, 2011 Carlos Esperança

Os milagres crescem como cogumelos

O Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, explicou em uma entrevista concedida a agência espanhola ACI, que o pedido de canonização do Beato João Paulo II actualmente está na fase de escolha e avaliação de possíveis novos milagres atribuídos à sua intercessão.

O Beato João Paulo II foi elevado aos altares em 1° de maio deste ano, após a confirmação do milagre da freira francesa Marie Simon-Pierre, curada do mal de Parkinson, a mesma doença sofrida pelo Pontífice falecido.

Nota: Em vida não conseguiu curar-se. Como defunto dedicou-se à especialidade de neurologia.

13 de Outubro, 2011 José Moreira

Feriados…

Leio, na comunicação social, que o Governo pretende acabar com alguns feriados. Religiosos, acrescente-se, o que se saúda.

Ao que parece, os candidatos à extinção são o “corpo de deus” e o “todos os santos”. É pouco. Muito pouco. Portugal tem demasiados feriados religiosos. Ninguém sabe, por exemplo, qual a razão de um feriado para a “imaculada conceição” quando é certo que essa conceição “imaculada” foi decidida por decreto por um bem terreno Papa. Como foi que o homem soube que Maria tinha sido concebida “sem pecado”? Estava lá para ver? Já agora: qual “pecado”? O de a respectiva mamã ter dado uma “cambalhota” de que resultou o nascimento de Maria??

Há outros, mas, para já, fiquemo-nos com estes. Claro que já estou a ver os créus de plantão a berrarem pelo Natal e pela Páscoa… Bom, a Páscoa calha a um domingo, por isso, nada a fazer; quanto ao Natal, não há a menor razão para que seja uma festa religiosa (aliás, é-o cada vez menos); muito antes da Era Comum, já se festejava o “natalis solis invictus”, que é como quem diz, o Solstício de Inverno. Não vejo razão para que não se continue a festejar.

 

13 de Outubro, 2011 Abraão Loureiro

Gravura de J. Vilhena

13 de Outubro, 2011 Carlos Esperança

A pena de morte e a civilização

O que ontem era a regra está a caminho de ser excepção, mas há excepções que doem mais. Como podem os Estados Unidos da América, com uma Constituição democrática e laica, redigida por quem fugiu à violência das guerras religiosas, conviver com uma pena que mantém a incerteza sobre a condenação de inocentes?

Progressivamente, nas últimas décadas temos assistido ao aumento do número de países que excluíram do seu Código Penal o bárbaro castigo que as religiões promoviam como sendo a vontade de Deus. Não é por acaso que a pena de morte subsiste em países com forte influência religiosa.

As teocracias praticam-na com o mesmo entusiasmo com que a Inquisição queimava bruxas, hereges e judeus. Na América do Norte a pena de morte não é alheia à influência do protestantismo evangélico e nem o facto de posteriormente se ter provado a inocência de condenados, faz vacilar os juízes ou tremer a mão dos governadores que assinam as execuções.

Para lá da repulsa que tão bárbara pena inspira bastava a possibilidade de assassinar um inocente para fazer recuar um Governo. A piedade do último Bush, que dizia falar com Deus, fez dele, enquanto Governador do Texas, o campeão destacado das execuções que foram assinadas nesse período de tempo.

Há na Europa uma certa direita, de natureza fascista e xenófoba, que vê com bons olhos a reintrodução da pena de morte. Esses arautos da crueldade suprema sabem bem que a referida pena é um prolongamento dos sentimentos racistas, que as vítimas são na sua maioria negros e pobres, imigrantes atirados para guetos e infelizes sem trabalho nem meios de subsistência.

Acresce que as execuções não têm qualquer efeito dissuasor, apenas satisfazem o desejo de vingança dos seus defensores.

Há várias formas de desumanidade. A pena de morte é uma das mais cruéis.

Depois da sua reintrodução (USA) em 1976, a pena capital é aplicada em 34 dos 50 estados e custou a vida de 1254 pessoas cuja imensa maioria eram homens negros. Perto de 3330 pessoas esperam hoje a sua sentença nos corredores da morte – lia-se em «Le Monde» de 10 do corrente mês, dia internacional contra a pena de morte.

12 de Outubro, 2011 Luís Grave Rodrigues

Luxúria