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Humor de Verão (IV) – A promessa

Naquele dia, Simplício tinha decidido atalhar caminho; em vez de calcorrear a estrada alcatroada, caminhou pela linha de caminho-de-ferro. A certa altura um dos pés ficou preso num intervalo das travessas. Afadigou-se a tentar libertar o pé, mas sem qualquer resultado. Não saía, ponto final. Subitamente ouviu-se, ao longe, o silvo de uma locomotiva (era no tempo das locomotivas a vapor); Simplício começou a entrar em pânico:

– Meu Deus, ajuda-me a libertar-me! – mas o pé não se mexia. Simplício sabia que o comboio se aproximava, e o pânico aumentava:

– Meu Deus, se me libertares, prometo passar a ir à missa todos os domingos – mas o pé teimava em não sair.

– Meu Deus, liberta o meu pé, e prometo que não volto a bater na minha mulher, nem a embebedar-me! – mas o pé, aparentemente surdo, teimava em manter-se entre os dormentes. Ao fundo da recta, o comboio já era visível:

– Meu Deus, liberta-me, e eu prometo custear as obras da igreja – o pé não saía, o comboio aproximava-se, e Simplício entrou em franco desespero:

– Meu Deus, eu prometo doar todas as minhas terras aos pobres da freguesia, todo o meu dinheiro será dado a obras de caridade, prometo que ingressarei num convento franciscano e farei voto de pobreza, mas liberta o meu pé, suplico-te!

Quando o comboio já se encontrava a menos de dez metros, como que por milagre o pé soltou-se e Simplício escapou a uma morte que parecia mais que certa.

Respirou fundo, e dirigiu o olhar algures para o céu:

– Ó Deus, tem lá paciência mas esquece o que eu disse; como viste, safei-me sozinho.

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