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  • 24 de Julho, 2011
  • Por Ricardo Alves
  • Seitas

O terrorista de Oslo (1)

O atentado de sexta-feira na Noruega é o maior em solo europeu desde Atocha (em 2004). Ser a obra (directa) de um único homem, que causou quase uma centena de vítimas mortais, lembra o atentado de Oklahoma, perpetrado por Timothy McVeigh.
As ideias de Anders Behring Breivik são de extrema direita, o que constitui uma viragem histórica no terrorismo global. A pouco mais de um mês do décimo aniversário dos atentados de Nova Iorque e Washington, pode ter começado uma nova vaga de atentados, em contra-corrente à campanha islamista que durou, na Europa, até 2006.
Dediquei algum tempo a ler (na diagonal, claro) o manifesto de mil e quinhentas páginas que Anders Breivik (ou «Andrew Berwick») difundiu pelos seus 7000 amigos do Facebook poucas horas antes de detonar explosivos no centro de Oslo («2083: a European Declaration of Independence»). Era esse o seu objectivo: que o estudássemos (na página 16, refere-se a uma «operação de marketing» que devem ser os atentados). Mas, dado que toda a extrema direita deve estar a ler esse manifesto neste momento, é melhor começar a responder-lhe.
A primeira parte do livro é uma longa diatribe contra o «marxismo cultural», o «politicamente correcto» e a «escola de Francoforte» que, através do «multiculturalismo» são a «raiz» para a «islamização» da Europa. O autor descreve-se repetidamente como «conservador», com variantes como «conservador cultural» ou «nacional conservador», e como um nostálgico da sociedade europeia dos anos 50, pervertida a partir dos anos 60 pelo «marxismo cultural». A narrativa é a habitual para um conservador: o feminismo, a banalização da homossexualidade e o anti-racismo destruíram a sociedade europeia tradicional. Algumas passagens desta parte parecem ter sido plagiadas, na íntegra, do manifesto do Unabomber. Mas o mais importante para Breivik/Brewick é a «revisão» da história e o «negacionismo» dos massacres e genocídios perpetrados pelo Islão. E que não se conte como as Cruzadas eram uma empresa benéfica, justa e necessária.

Na segunda parte do livro, Breivik mostra-se um adepto da tese da «Eurábia», segundo a qual existe um plano para islamizar a Europa através da imigração, de taxas de natalidade elevadas e da pressão política. Cita abundantemente blogues como o Brussels Journal, o Jihad Watch e o Gates of Vienna, em particular o bloguista Fjordman e Bat Ye´or, a grande popularizadora dos conceitos de «Eurábia» e «dimitude» (a submissão voluntária ao Islão). Em 2006, escrevi sobre esta corrente de pensamento no Diário Ateísta e no Esquerda Republicana. À época, afirmei que «atribuir à Al-Qaeda capacidade militar para conquistar a Europa, ou olhar para os imigrantes muçulmanos como a vanguarda de uma invasão programada, ou falar da Europa como um protectorado islâmico, são delírios paranóides que relevam de preconceitos racistas, da angústia demográfica, de entusiasmo deslocado pelas aventuras militares dos EUA e de Israel, ou da obsessão identitária com a “civilização ocidental e cristã”». E acrescentei que «nos anos 20 e 30 do século passado, a extrema direita afirmou-se na Europa, manipulando [o] anti-semitismo (…) hoje, o mesmo sector político tem interesse em conjugar os sentimentos islamófobos, o apoio a guerras de conquista e o apelo identitário-conservador cristão».

A corrente de pensamento «civilizacionista» em que Anders Breivik se insere é também a de Melanie Phillips ou Bruce Bawer. Politicamente, Geert Wilders ou a English Defence League. Referências explicitadas por Anders Breivik no seu livro, embora lhes critique o «pacifismo». A passagem à violência não é óbvia. Aliás, Breivik distancia-se do nazismo e afirma-se «anti-jihadista», «anti-marxista» e até, a dado ponto, «anti-fascista». Prefere os «nacional-conservadores» alemães ao nazismo.

Na terceira parte do livro, Breivik anuncia que pertence, desde 2002, a uma organização de novos «Cruzados» (!), simultaneamente ordem militar e tribunal: os Cavaleiros Templários Justiceiros (!!). Ele próprio será apenas uma «célula» desta organização de «Resistência Europeia», liderada por um criminoso de guerra sérvio refugiado na Libéria (!!!).

(continua)

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

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