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Mês: Junho 2011

5 de Junho, 2011 Luís Grave Rodrigues

Religião

3 de Junho, 2011 Eduardo Patriota

Congresso Mundial Ateísta começa hoje na Irlanda

Cerca de 350 delegados internacionais são esperados para participar neste fim de semana da Primeira Convenção Mundial de Ateus, em Dublin, Irlanda.

Organizado pela Atheist Ireland, o evento que vai de 3 a 5 de junho marcará também o lançamento de um grupo que pretende reunir  ateus do mundo inteiro, a Atheist Alliance International. Seu primeiro presidente será Tanya Smith, da Fundação Ateísta da Austrália.

Participarão do encontro delegados vindos dos EUA, da Europa, da América do Sul e da Oceania. A convenção será dirigida pelo professor britânico Richard Dawkins, a neurobióloga dinamarquesa Lone Frank, a consultora inglesa Paula Kirby e o autor indiano Aroup Chaterjee.

Serão discutidos vários temas na convenção, como “Ciência estranha versus religião estranha”, a educação secular e os direitos humanos. Haverá debates sobre as leis da blasfêmia, as mulheres ativistas ateias, aceitação ou confrontação das religiões, comunicando o ateísmo e a construção de alianças ateistas. Serão votados também os termos da “Declaração de Dublin sobre religião e vida pública”.

(Fonte: Pavablog)

3 de Junho, 2011 Ludwig Krippahl

Abençoado gavetismo.

Demarcar o conhecimento daquilo que, ilegitimamente, alega ser sabedoria é um problema complexo. Não deve ser possível dar uma receita detalhada e simples que se aplique a todos os casos. Mas há uma diferença fundamental entre o conhecimento e as várias fés, fezadas, religiões, superstições e disparates da moda que se apresentam como “outras formas de saber”. Enquanto o primeiro tenta integrar os dados em explicações que os unifiquem, o resto separa tudo em gavetinhas para disfarçar as inconsistências.

Disto, o criacionismo dá muitos exemplos claros e caricatos. «Que hipóteses tem um grilo voador nocturno de escapar aos dentes do morcego?», pergunta o Mats. «A solução que o Criador inventou como forma de preservar a existência do grilo revela mais uma vez a Excelência Criativa de Deus. Ele construiu o grilo com um detector de morcegos mono-celular conectado ao seu sistema nervoso.»(1) Quem quiser perceber o que originou esta situação quererá considerar todos os dados de que dispõe. Há grilos que se escapam e morcegos que comem grilos. Os grilos que são comidos e os morcegos que morrem à fome deixam de se poder reproduzir. Cada grilo e morcego descende de antepassados parecidos consigo que, obviamente, se conseguiram reproduzir. E assim por diante. Tentar encaixar estes dados leva-nos a hipóteses testáveis, o teste dessas hipóteses revela mais dados e a restrição de manter tudo consistente guia-nos ao conhecimento.

Mas o Mats já julga saber as respostas todas. Foi o menino Jesus e os detalhes estão na Bíblia. Por isso não quer perceber. Quer apenas disfarçar o disparate das premissas isolando-as, para não se notar a inconsistência. Deus teve pena do grilo e deu-lhe um detector de morcegos para o salvar. Que querido. E ao morcego deu o sonar com que caça grilos para comer. Que bonzinho. Desde que ponha cada ideia na sua gaveta não precisa de enfrentar o problema do mesmo deus ter criado ambos, algo que sugere crueldade, estupidez ou uma extraordinária falta de atenção.

Passa-se o mesmo com as medicinas alternativas. Querem um estatuto igual ao da medicina a sério mas sem o inconveniente dos testes rigorosos. Isso de testar é uma coisa à parte, uma modernice da medicina “convencional”. E, tal como nas astrologias e bruxarias, cada um inventa o seu método sem incomodar os outros porque ninguém quer explicações que unifiquem com a ciência coisas como a influência dos astros, a clarividência das cartas e a terapêutica dos cristais. Se fizerem de conta que o conhecimento é apenas uma lista de opiniões isoladas, cada um pode fingir-se perito no que quiser. Afinal, não se pode provar que as vibrações positivas do cristal não desbloqueiem mesmo as energias espirituais dos chakras. Como diria o Sherlock Holmes da nova era, o que não se prova ser falso, por mais disparatado que seja, é a mais pura Verdade.

Mas é pelas religiões que este gavetismo tem maior impacto. Não por ser mais extremo ou ridículo nestas do que é nas outras tretas – nisto andam todas empatadas – mas porque, de todos os disparates, são as religiões que mais gente leva mais a sério. Isto tanto na religiosidade dos criacionistas e fundamentalistas mais crédulos como na dos teólogos e dos crentes que se dizem mais esclarecidos. Os primeiros, se lhes quiserem vender um carro em segunda mão são tão cépticos como qualquer outra pessoa. Mas no que toca a curas milagrosas, santinhos e histórias da carochinha, desde que venham da sua religião engolem tudo. Os religiosos mais doutos tentam disfarçar esses detalhes e engavetam os métodos. A ciência, admitem, serve para conhecer a idade do universo, compreender a geometria do espaço-tempo e fazer vacinas. Mas para saber se Maria era virgem ou se o Papa é infalível tem de ser com a teologia. Como e porquê, nunca se percebe bem. O que importa é pôr cada uma na sua gaveta, porque se vão testar as alegações dos teólogos como testam quaisquer outras nenhuma religião se safa.

Eu não consigo provar que a posição de Marte não afecta a minha carreira profissional, nem que a epilepsia não seja causada por demónios, nem que é falsa a hipótese do criador do universo se ralar com a minha vida sexual. Ainda assim, posso justificar rejeitar estas alegações – e outras afins – porque não encaixam nos dados que tenho nem nas explicações que encontro. Rejeito-as por consistência, tal como rejeito os contos de fadas ou as promessas do Sócrates. Se para aceitar uma hipótese tenho de abrir uma excepção só para ela e avaliá-la por critérios opostos aos que aplico a todas as outras, parece-me mais honesto admitir que essa hipótese não tem fundamento. A sabedoria não se pode reduzir a uma gaveta para cada treta.

* O Mats é capaz de dizer que os morcegos só comem grilos por causa do pecado original, que dantes usavam o sonar para apanhar uvas em pleno voo e que Deus só deu o detector ao grilo à cautela, porque já sabia como era a Eva. Mas isso será apenas mais um exemplo daquilo que quero ilustrar aqui.

1- Mats, O grilo e o seu alarme ultra-sónico

Em simultâneo no Que Treta!