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Mês: Fevereiro 2011

9 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Egipto – Braço de ferro já começou

O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, avisou hoje que “não é possível tolerar” a continuação dos protestos na praça Tahrir por muito mais tempo.

Durante um encontro com jornalistas independentes, reportado pela agência noticiosa estatal MENA, Suleiman afirmou que a crise deve acabar o mais depressa possível, o que significa um crescente sinal de impaciência do regime com as manifestações, que duram há 16 dias.

8 de Fevereiro, 2011 Ricardo Alves

Cientologia: a pior religião do mundo?

A Igreja da Cientologia é fascinante. Porque não há nada que os cientologistas façam de criticável que não seja praticado, em maior ou menor grau, por outras comunidades religiosas. O génio de Hubbard (e é esse o lado fascinante da cientologia) consistiu em seleccionar todos os piores aspectos de cada uma das centenas de organizações religiosas do mundo, juntá-los e exacerbá-los. O resultado é uma organização que, embora ridícula, é perigosa para os seus membros (e para a sociedade em geral, se algum dia tentarem meter-se na política).

Vejamos como todas as práticas cientologistas consideradas «questionáveis» existem noutras comunidades religiosas:

  • Cobrar dinheiro aos seus membros (todas as comunidades religiosas o fazem, mas as mais notórias são as mais exigentes, como o Opus Dei e a IURD);
  • Garantir ter encontrado o segredo do que se segue a «esta vida» e uma forma de ser «salvo» para outra vida (todas as religiões, com uma ou outra excepção aparente);
  • Manter as pessoas numa «redoma», evitando que recebam informação do «mundo exterior» (censura religiosa em Estados islamistas, comunidades segregadas com escolas próprias…);
  • Recrutamento de crianças (muitas igrejas cristãs baptizam bebés, «nasce-se» muçulmano);
  • Corte de relações com os apóstatas (por exemplo, os Amish e certos judeus ortodoxos);
  • Prometer que se melhora a vida pessoal de cada convertido (inútil dar exemplos);
  • Crítica violenta dos dissidentes (alguns hereges acabaram nas fogueiras católicas, e na Arábia Saudita, teoricamente, ainda podem ser mortos);
  • «Retiros espirituais» em que as pessoas ficam isoladas da família e amigos durante semanas e privadas de conforto (budistas, hindus, ordens religiosas católicas, etc);
  • Captar celebridades, estrelas do cinema ou da música ligeira (há muitos exemplos);
  • Extrair confissões sobre assuntos íntimos, eventualmente usadas para chantagem, humilhação ou controlo (a confissão católica é célebre por colocar em causa o segredo familiar);
  • Ter crenças ridículas (…).

(Verifica-se assim que a Igreja da Cientologia não é essencialmente diferente das outras Igrejas. Só é mais completa.)

Seria liberticida imaginar leis para combater a Cientologia. E seriam atingidos, fatalmente, outros movimentos religiosos. Como qualquer outro mal social, a Cientologia só marginalmente se combate com leis. Combate-se principalmente, tal como a toxicodependência, a homofobia ou o sexismo, pela denúncia e pelo exemplo.

O site Xenu.net continua o seu longo trabalho de reunir material crítico sobre a Cientologia. Recomendo também este artigo recente, muito completo.

8 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

O Islão é pacífico…

Extremistas indonésios atacam três igrejas e lincham seguidores de uma minoria islâmica

Os ataques dos últimos dias revelam o crescente protagonismo dos grupos integristas no país com maior população muçulmana do mundo.

Uma horda de muçulmanos extremistas incendiaram duas e saquearam outra no centro da ilha de Java (Indonésia), enfurecidos por entenderem que um tribunal decretara uma pena demasiado leve a um cristão condenado por blasfémia, segundo a polícia.

O incidente aconteceu dois dias depois de outra turba ter linchado a três homens da seita islamista ahmadi, considerada herética, um facto que provocou críticas à passividade do Governo do país com a maior população muçulmana do mundo, após difusão das cenas do brutal ataque na televisão.

Continue a ler…

AGENCIAS / EL PAÍS – Yakarta / Madrid – 08/02/2011

8 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Estado parasitado pelo Opus Dei

Subsídios para colégios do Opus Dei

O Colégio Mira-Rio em Lisboa, da Opus Dei recebeu do estado: 36.210, 55 euros...

O Colégio Planalto, em Lisboa, também da Opus Dei, recebeu do estado: 40.312, 44 euros

O Colégio dos Cedros, no Porto, idem, recebeu: 33.866, 29 euros

Um colégio frequentado pelos meninos bem, cujos pais são adeptos ferrenhos o neoliberalismo recebe financiamentos do estado ? Com que fundamento ?

Publicado por  TRIPALIUM (Valores publicados no D. R.) V/ links

8 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Ilusão ecuménica

O MAIOR ESCÂNDALO RELIGIOSO DO SÉCULO XX PRESTES A ACONTECER NOVAMENTE.

“MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses” (Drama do Fim dos Tempos – Pe. Emmanuel)

“Por esses dias caminhei por Assis, e em alguns lugares de oração assisti a profanação. Vi budistas dançando ante o altar, onde em lugar de Cristo, havia sido colocado Buda, a quem se reverenciava e oferecia incenso” (Cardeal Sílvio Oddi).

7 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Países ateus são mais pacíficos

O “Global Peace Index 2009? é um estudo estatístico que através de seus dados demonstra que quanto menos religioso é um país mais tendência pacífica esse mostra.

No estudo há 23 critérios, incluindo guerras estrangeiras, o respeito aos direitos humanos, conflitos internos, o número anual de homicídios, comércio de armas, o número de pessoas nas prisões,  níveis de democracia, etc.

Global Peace Index: Atheist, Irreligious Nations Most Peaceful

6 de Fevereiro, 2011 Ludwig Krippahl

ECR 3: Ética, religião e ciência.

O quinto capítulo do livro Educação, Ciência e Religião (ECR) pergunta «Qual o papel das questões éticas na relação entre a ciência e a religião?»(1). A ideia base é consensual: considerações éticas podem abrandar o progresso científico porque a aquisição de conhecimento não é uma prioridade absoluta. É óbvio que a ética deve impor limites à actividade científica. No entanto, os autores desviam a resposta com algumas confusões.

No “aprofundamento” da resposta, uma adaptação de um texto do Miguel Panão, afirmam que «uma ética orientada para o valor fundamental da vida designa-se “bioética”.» Mas, normalmente, “uma ética” refere um sistema normativo, como o utilitarismo, o contratualismo ou o imperativo categórico de Kant, por exemplo. Nesse sentido, a bioética não é uma ética, porque o termo não designa um sistema normativo em particular; designa uma categoria de problemas éticos que surgem do uso de animais em experiências, da bio-tecnologia, do impacto sobre ambiente e questões afins. Desta confusão, defendem ser ilegítimo sacrificar embriões para curar doenças com células estaminais porque «Toda e qualquer vida vale, e esse valor é o mesmo em toda e qualquer circunstância.»

Esta premissa não é nada consensual, mesmo ignorando a restrição implícita – e problemática – de “vida” referir apenas alguns seres vivos, pois por certo não incluem as baratas ou os cogumelos nesta consideração. Criar um embrião num tubo de ensaio e depois sacrificá-lo para obter células estaminais mata esse ser humano. No entanto, se as alternativas são apenas nunca o ter criado ou deixá-lo morrer sem aproveitar as suas células, então a possibilidade de tratar alguém é um bem acrescido sem qualquer perda. Se o embrião pudesse crescer e estivesse a sacrificar a sua vida inteira justificava-se esta objecção. Mas se não tem qualquer hipótese de sobreviver e não há alternativa melhor, esta objecção não tem fundamento.

Acrescentam os autores que a sua “bioética” é necessária para «dignificar a vida humana na forma do embrião, assim como dar sentido ao sofrimento humano». Esta afirmação nem sequer errada consegue estar, porque, para isso, tinha de dizer alguma coisa. “Dignificar” esse embrião é apenas um eufemismo para nunca o criar, opção que nem serve os interesses dele nem de mais ninguém. E se bem que “dar sentido ao sofrimento” soa bem a quem está confortável na vida, não serve de nada para quem sofre. Quem sofre merece alívio em vez da promessa de um vago “sentido” para o seu sofrimento.

O problema fundamental, na raiz destas confusões, é uma percepção incorrecta da relação entre a religião, a ética e a ciência. Nas “primeiras pistas”, os autores escrevem: «Se entendermos a ciência como uma actividade avulsa […] então talvez a religião atrase a ciência. A ética coloca no cenário do desenvolvimento científico argumentos [que] podem desacelerar a aquisição de conhecimento. Mas os argumentos do lado da ética promovem o ser humano no seu todo». Ou seja, apresentam a ética como algo que vem da religião e impõe normas à ciência. A segunda parte está correcta. Como qualquer actividade, a ciência deve ser praticada em conformidade com a ética. Mas a primeira parte está ao contrário.

Cada religião tenta impor regras a todos os aspectos da nossa vida, desde o que se pode comer e que dias são feriados até regras morais acerca de quem deve casar com quem, peregrinar a Meca ou até acreditar que três é um e um são três. Em todos os casos, o fundamento último destas regras é que um deus muito poderoso mandou que assim fosse. Isto não tem nada que ver com a ética, porque a ética não se constitui com base nas ordens do mais forte. É precisamente o contrário. A ética é aquele fundamento de valores pelos quais se julgam todos, até o deus mais poderoso. Se um deus omnipotente arrasou Sodoma e Gomorra por discordar das preferências sexuais dos seus habitantes, torturou Jó por uma aposta ou deu dores de parto a todas as mulheres só porque uma comeu o fruto errado, a ética é aquilo que lhe aponta o dedo e o condena como malvado, cruel e imoral. Não importa que ele seja o Grande Chefe.

Respondendo à pergunta deste capítulo, o papel da ética é dar à religião e à ciência um fundamento normativo comum, ditando a ambas o que é legítimo fazerem. É aquilo que nos diz que não devemos torturar animais ou pessoas, quer seja para obter dados experimentais, quer seja para celebrar rituais religiosos. É aquilo que condena como desonesto o cientista que diga saber que há vida em Marte sem ter evidências disso. E é aquilo que condena como desonesto o padre que diga saber que há vida depois da morte sem ter evidências disso.

Uma grande diferença entre a religião e a ciência é que todos exigem que a ciência se guie pela ética e condenam quem viole a ética em nome da ciência. E é assim que deve ser. Mas muitos aplaudem, e muitos outros ficam indiferentes, quando as religiões atropelam a ética ou fingem que cada uma pode inventar a sua. E isso não devia ser assim.

1- Alfredo Dinis e João Paiva, Educação, Ciência e Religião, Gradiva 2010, pp 47-56.

Em simultâneo no Que Treta!

6 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

A cárie

O senhor Salustiano era um homem de fé. Lembrou-se de que S. Lamberto era o padroei­ro dos dentistas e, por analogia, entendeu ele, dos sofredores dentais. Por isso, saiu do consul­tório e atravessou a povoação em direcção à igreja onde, naquelas circunstâncias de tempo, já pontificava o nosso conhecido padre José dos Santos Passos, segundo o qual os santos são intermediários entre os homens e Deus. Entrou directo na sacristia. Tinha pressa, porque o remédio que o den­tista tinha colocado no dorido dente corria o risco de ficar fora de prazo em curto prazo.

O padre José dos Santos Passos lia o breviário, e mal se sobressaltou quando se deu a entrada, algo bu­liçosa, do senhor Salustiano:

–         Boa tarde, caro paroquiano. É sempre um prazer vê-lo na Casa de Deus. Aliás, a si e a to­dos os paroquianos.

–         Boa tarde, padre.

Durante o trajecto, o senhor Salustiano delineara uma espécie de estratégia. Santos são san­tos, têm o poder de interceder junto de Deus, mas não é menos verdade que o mortal não pode estar à espera das dádivas divinas sem que haja uma contrapartida. Não é por mero acaso que muitas pessoas palmilham os caminhos até aos santuários, onde depositam os ex-votos – normalmente sob a forma de dinheiro ou objectos valiosos. Por isso, o senhor Salustiano sabia perfeitamente que não podia esperar um milagre e, depois de concedido, ir todo contente para casa como se nada tivesse acontecido. Era o que faltava!

Estava disposto, assim o tinha decidido, a mandar pintar a igreja – aliás a precisar de pin­tura urgente. Bastava, apenas, que aquela cárie dentária desaparecesse por milagre.

–         Diga-me, senhor padre: esta igreja tem alguma imagem de S. Lamberto?

José dos Santos Passos sentiu-se algo interdito. São Lamberto? Por que carga de água? Por acaso até nem era um santo com saída, o que estava a dar mais era os chamados “Santos Populares” ou, em alternativa, o S. Gregório, muito solicitado aos fins-de-semana, fora disso era mais santas, tipo Santa Filomena, Santa Maria Madalena… Agora São Lamberto???

–         Por acaso não… temos muitas imagens, São Bento da Porta Aberta, São Teotónio, por exemplo…Mas porquê?

–         Bom, é que São Lamberto é o padroeiro dos dentistas; ora, sendo padroeiro dos dentis­tas, certamente que não vai deixar de lado os que sofrem de cárie dentária…

José dos Santos Passos interrompeu-o:

–         Não tem lógica, a sua dedução, meu filho. Se São Lamberto é padroeiro dos dentis­tas, nunca pode ser, ao mesmo tempo, padroeiro dos sofredores, não é verdade? São interes­ses antagónicos. Se não houver quem sofra dos dentes, não são precisos dentistas para nada. Se São Lamberto é padroeiro dos dentistas, protege-os, nunca poderia proteger os que têm problemas dentários, pois se assim fosse estaria, naturalmente, a prejudicar os dentis­tas. E os santos podem ter os defeitos que quisermos, mas fazem da honestidade o seu pon­to de honra.

Naturalmente empolgado pelo seu discurso, José dos Santos Passos nem se apercebeu da barbarida­de que acabara de lhe sair pela boca fora. Os santos têm defeitos? E são santos? Valha-me Deus!

Adiante.

O senhor Salustiano, no entanto, não se dava por vencido:

–         Então diga-me, padre, a que santo terei de recorrer para curar uma cárie dentária?

José dos Santos Passos estupeficou-se:

–         …Uma cárie dentária???

–         Sim, padre. Uma cárie dentária. Sabe o que é isso, certamente.

–         Claro que sei, se bem que não por experiência própria, graças a Deus. Mas nunca ouvi fa­lar nesse tipo de cura… sinceramente… Quer dizer: pôr paralíticos a andar, pôr cegos a ver, ainda vá que não vá; agora curar cáries dentárias… não me parece. Aliás, repare: só são considerados milagres os factos que a medicina não consegue explicar.

Fez uma muito curta pausa:

–         Nunca nenhum santo era capaz de fazer concorrência à medicina convencional, veja lá se compreende! Se a medicina não sabe como curar, aí sim, entram os milagres em acção. Agora, havendo remédio terreno, para quê ir buscá-lo ao Céu?

O senhor Salustiano ainda ficou uns momentos a olhar, hesitante, para o padre. Depois, acabou por se despedir com duas decisões irrevogavelmente tomadas: a primeira, nunca mais pôr os pés na igreja e, pura e simplesmente, tornar-se ateu; a segunda, arrancar o maldito dente. Podia, até, arrancar os dentes todos. Tudo, menos a broca.

Hoje, o senhor Salustiano é proprietário de uma invejável placa dentária com a qual, nos tempos livres e quando está bem disposto, costuma tocar castanholas, batendo com a arcada in­ferior na superior.

Ou vice-versa…

In: “Enquanto As Armas Falavam”, de José Carlos Moreira.

Editora Lugar da Palavra.