Uma pessoa de mente aberta deve condicionar a sua opinião às evidências e aos factos.
Quando acreditamos que um facto é verdadeiro sabemos que essa crença poderia ser alterada perante evidências em contrário.
Este princípio deve aplicar-se a tudo, e eu aplico-o também à minha crença de que Deus não existe. Existem várias coisas que, a acontecerem, fariam mudar a minha opinião a respeito da existência de Deus. Mesmo do Deus cristão.
E um cristão? E outro crente religioso não cristão? Que factos ou acontecimentos o fariam concluir que afinal Deus não existe?
Se não existirem nenhuns, então a pessoa não tem a mente aberta em relação a esta crença.
Não são os crentes que escolhem as crenças, são estas que escolhem aqueles através do sítio onde nascem, da família que os cria e do clero que os intoxica. Isto, se não houver meios mais expeditos e argumentos mais musculados.
As conversões em massa, a obrigação de seguir a religião do rei ou do imperador, são a prova da existência de deus, dado o sucesso do método. Na Europa nascia-se católico e morria-se de fé ou grelhado nas fogueiras. No Médio Oriente nasce-se islâmico e morre-se na crença do misericordioso, rodeado de bombas ou decapitado.
Os crentes, acirrados pelos sacerdotes, têm muito medo do que chamam a vida eterna e do mau aspecto com que se apresentam no Paraíso depois de algum tempo de defunção. Por isso procuram converter outros para parecerem muitos e terem gente para os bailes de gala que o deus de cada um organiza em honra das almas debutantes.
Ultimamente, com a falta de vocações sacerdotais, a ICAR está a pôr as garras de fora e a fazer exigências que o bom senso desaconselha. Não passa pela cabeça de um ateu que deve tirar a fé a quem se recusa a pensar, mas não há crente que não queira converter os ateus às missas, novenas, exposições do Santíssimo, abstinências, jejuns, peregrinações e outras extravagâncias pias com que se mortifica o corpo e protege a alma.
Quanto mais idiotas são as crenças mais estupefazem os crentes. Desde os milagres com que o Papa faz a gestão política da clientela, até aos rios de mel que os talibãs reservam para os guerrilheiros de Maomé, há uma enorme panóplia de tolices para consumo pio.
Bem-aventurados os pobres de espírito.
João César das Neves (JCN) faz hoje, ao contrário do habitual, uma mistura de religião e política na sua homilia no DN. Aproveita para zurzir o primeiro-ministro com alguma leviandade e má fé nos aspectos pessoais e com legitimidade democrática, nos aspectos políticos.
A homilia intitula-se «A sombra da falsidade» e serve para bolçar a raiva transportada com os avanços civilizacionais na legislação sobre Família.
JCN, um beato amigo do peito e da hóstia de qualquer cardeal a quem o espírito Santo e o Opus Dei enfiem a tiara, não digere a legislação sobre o divórcio, o aborto e os casamentos entre as pessoas do mesmo sexo.
JCN sabe que mente ao acusar o Governo de «enveredar impudentemente pelo partido mais extremista» no que se refere, por exemplo, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois fazia parte do programa com que o PS se apresentou a eleições. Mas o que é uma mentira quando se está convencido de que há um deus com um caderno a apontar todas as tolices que dizem ser do seu gosto?
Quando JCN afirma que «Agora a crise faz a impostura descer a canalhice» não é o troglodita que parece, é o beato sequioso de água benta, o catecúmeno ávido de bênçãos e o beato ansioso por indulgências.
JCN está sempre tão impaciente para defender as tolices da sua Igreja como para atacar a modernidade e os direitos individuais.
Por
A VIDA EXEMPLAR DE HUGH MARJOE ROSS GORTNER
Hugh Marjoe Ross Gortner, mais conhecido por Marjoe Gortner nasceu em 1944 em Long Beach, Califórnia.
Ganhou fama como o mais novo pregador ordenado. Teve notoriedade nos anos 40 até meados dos cinquenta na idade de quatro anos de idade como pregador e nos anos setenta um documentário sobre o negócio lucrativo da pregação religiosa, em que a sua actuação de pregador era o tema, ganhou com um Óscar.
Quando tinha três anos o pai, de nome Vernon, um padre protestante com avô e pai padres, notou o talento do filho para a mímica e uma total falta de receio com os estranhos e com a vida pública.
Decidiram então explorar o filho como uma criança prodígio utilizando-o no negócio da pregação evangélica americana, atirando para cima dos púlpitos.
Para tal encenaram cuidadosamente a futura actuação do filho.
Começaram por o preparar, como se fosse um soldado das forças especiais, a dizer sermões, de forma dramática e exagerada.
Não se sabe se foi ordenado ou não e por quem.
Inventaram um nome ridículo para o filho de Marjoe, pela fusão dos nomes Mary e Joseph.
Arranjaram-lhe um fato de Little Lord Fauntleroy.
Obrigaram-no a dizer no púlpito que uma entidade divina lhe tinha ordenado que pregasse.
Anunciaram também ter recebido uma visão de Deus durante um banho e obrigaram Marjoe a repetir esta mentira nas suas pregações (o que este revelou mais tarde).
Contou também que os pais não lhe batiam quando se queixava ou chorava, mas era castigado pela mãe colocando-o debaixo de uma torneira ou asfixiando-o com um almofada, para não deixar marcas que se vissem nas suas constantes actuações e aparições em público.
Aos quatro anos os pais conseguiram arranjar-lhe uma cerimónia de casamento para os estúdios Paramount, tendo sido referido como o mais novo pregador no mundo.
A sua fama como criança milagrosa espalhou-se e atraiu a comunicação social.
Aos seis anos oficiava em casamentos para adultos.
Até ser adolescente os pais viajaram com ele por todo os EUA a realizar reuniões e ensinaram-lhe passagens das escrituras e formas de ganhar dinheiro como os donativos, a venda de artigos sagrados nas missas que curavam doenças e evitavam a morte, etc.
Era um rapaz bonito que despertava sentimentos maternais nas mulheres e as convencia a entregar-lhe as suas poupanças.
Usavam uma programação musical cuidada para criar o ambiente propício.
O miúdo afirmava ter sido visitado pessoalmente por Jesus.
Desenhavam-lhe previamente uma cruz com tinta invisível na testa que aparecia subitamente no momento oportuno e calculado, ou seja quando começava a transpirar, o que hidratava a tinta tornando-a visível.
As pessoas choravam e gritavam e caíam com espasmos e ataques.
No momento oportuno da missa, um grupo de homens e mulheres idosos começam a pedir dinheiro à assistência.
Quando tinha dezasseis anos a família tinha acumulado com a actuação dele cerca de três milhões de dólares, soma que nunca foi utilizada para sua educação ou para preparar o seu futuro. Depois do seu aniversário o pai fugiu com o dinheiro, o que levou o filho a abandonar a sua mãe e ir viver para São Francisco, onde se marginalizou na contracultura da Califórnia e se tornou amante de uma mulher mais velha que ele. Passou então a viver uma vida de hippy durante mais de quarto anos.
Depois, sem dinheiro, resolveu recorrer de novo aos seus talentos antigos e reapareceu no circuito dos palcos carismáticos como um roqueiro do tipo Mick Jagger. Trabalhava seis meses e voltava para a Califórnia vivendo o resto do ano com o que tinha ganho.
No fim dos anos sessenta sofreu uma crise de consciência por viver uma vida dupla e achou que era melhor utilizar os seus talentos para ser cantor e actor. Decidiu então revelar a fraude em que tinha participado desde a sua infância. Os documentaristas Howard Smith e Sarah Kernochan concordaram em que a sua equipa de filmagem o acompanhasse no final da tournée de reuniões religiosas na Califórnia, Texas e Michigan durante o ano de 1971.
Sem que os seus seguidores e também, num dado momento, o seu próprio pai se apercebessem, deu entrevistas atrás do palco entre os sermões, onde explicou os mais ínfimos detalhes da forma como os padres e ele actuavam. Depois dos sermões os cineastas eram convidados para o quarto de hotel para filmar a contagem do dinheiro ganho em cada dia. O filme Marjoe ganhou em o prémio da Academia para o melhor documentário.
Depois de deixar de ser pregador, Gortner tentou abraçar as carreiras de Hollywood e de cantor. Editou um LP para a Columbia Records intitulado “Bad, But Not Evil” (como Gortner se descrevia no documentário), que teve pouco sucesso e mereceu raras críticas.
Iniciou a sua carreira de actor em The Marcus-Nelson Murders. No ano seguinte ganhou o prémio para o conjunto de actores do filme Terramoto, onde fez o papel do sargento Jody Joad, e participou no filme para televisão Pray for the Wildcats.
Em 1973 foi contratado pelo revista para cobrir o Millennium 73, um festival de Novembro de 1973 encabeçado por Guru Maharaj Ji chamado às vezes “o rapaz guru”.
No fim dos anos 70 tentou financiar um filme, um drama acerca de um evangelista baseado na sua vida. Começou a ser filmado em Nova Orleães, mas seis meses depois acabaram as filmagens por falta de fundos. Gortner fugiu com o dinheiro restante e abandonou a equipa de filmagem no Texas. O que foi filmado desapareceu.
Casou com Candy Clark e com ela viveu de 1978 a Dezembro de 1979.
A representação mais memorável de Gortner foi a de um vendedor de drogas no filme Milton Katselas, uma adaptação da peça a cinema de 1979 de Mark Medoff When You Comin’ Back, Red Ryder?, contracenando com Peter Firth, Lee Grant, e Hal Linden. Fez também vários filmes B como o filme de televisão The Gun and The Pulpit (1974), The Food Of The Gods (1976), e Starcrash (1978). Até 1987 participou em séries e festivais de TV e em telenovelas.
Em 1995 terminou a sua carreira desempenhando um papel de pregador no western Wild Bill.
Actualmente patrocina torneios de golfe de caridade e outras iniciativas e também trabalha como orador.
Em 2007, o Philadelphia Live Arts Festival encomendou a Brian Osborne a peça para um actor sobre a vida de Marjoe Gortner, chamada The Word, que estreou no festival. A peça foi aperfeiçoada e representada no ano de 2010.
Em 2008 o Melbourne Underground Film Festival realizou a primeira retrospectiva dos trabalhos de Marjoe Gortner no seu nono festival.
Apesar da denúncia pública dos métodos ilícitos praticados pelas inúmeras igrejas norte-americanas que toda a vida de Marjoe proporcionou, hoje os pregadores nos EUA tomaram também conta das televisões e nelas manipulam os pobres, conseguindo um forte financiamento dos ricos que continuam a construir imensos e opulentos templos e palácios à sua custa, por exemplo, em Las Vegas!
(Texto baseado em Christopher Hitchens (Deus não é Grande) e em sites da Internet)
Como disse Ortega Y Gasset, em matéria de arte,
amor ou ideias, são pouco eficazes os anúncios e programas,
e eu não tenho qualquer programa, nem venho aqui
anunciar nada que faça estremecer as convexidades labirínticas
dos cenáculos.
Vivo na desconexão grotesca de todas as realidades,
as existentes ou as simplesmente inventadas, e duvido sempre.
Duvido sempre, como se a dúvida galgasse todas as encostas
da vida e procurasse alcançar as asperezas das arestas nas
escarpas da verdade, numa exibição impudica da bebedeira
à beira de abismos esfomeados.
Por isso, eu sei que nunca serei encontrado no meio
das multidões ululantes, a anunciar alvoradas, crepúsculos,
em sintonia com a promiscuidade dos ícones ou a adorar
objectos siderais em danças mágicas com fetiches a iluminar
os caminhos aos rebanhos anémicos.
Peregrino pelas inquietações da minha cegueira
e procuro-me e regenero-me em cada nova encruzilhada
como se regressasse sempre à primitiva inocência.
Alexandre de Castro
Rouco Varela [à esquerda na foto] numa [outra] manifestação em Madrid contra o casamento homossexual
Da paróquia onde vivo chegou-me o prospecto que passo a reproduzir na íntegra:
PROMESSAS DE NOSSO SENHOR A QUEM NÃO RECEBER A SAGRADA COMUNHÃO NA MÃO
Introdução
Nosso Senhor manifestou-Se a uma alma privilegiada, concentrada em oração profunda, fazendo as seguintes promessas àqueles que não recebam o Seu Corpo Sagrado na mão.
Por enquanto, decidiu-se não revelar a identidade desta pessoa, uma vez que estes factos são muito recentes.
NOTA PRELIMINAR
Estas revelações, por serem tão recentes, não se encontram ainda aprovadas de forma oficial pela Hierarquia.
Por este motivo, não se exige fé nas mesmas revelações. Dá-se, apenas, conhecimento de uma realidade e, em tudo nos submetemos ao juízo e directivas da Igreja, Nossa Santa Mãe, em conformidade com o decreto do Papa Urbano VII.
Torna-se necessário deixar bem claro que estas promessas não são válidas para aqueles que comungarem em pecado mortal.
Também comungará de forma delituosa quem, de forma consciente, mastigar a Hóstia ou a triturar com os dentes.
PROMESSAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
PROMESSAS A QUEM DIFUNDIR ESTAS MENSAGENS
Declaração: Nas A.A.S.de 29 de Dezembro de 1966, foi publicado o Decreto da Congregação para a Fé, pelo qual é permitido difundir, sem “imprimatur”, escritos relativos a aparições e revelações, assim como a sua tradução noutros idiomas.
– Com a devida autorização.
A superstição seria irrelevante se não tivesse consequências. As crenças não passariam de convicções pessoais se os devotos não vivessem a desvairada tentação de converter os outros, de obrigar os agnósticos, ateus e cépticos e partilhar tolices individuais como dogmas universais.
As fogueiras ateadas pelos índios, para que a chuva caia, não diferem das procissões que os bispos e padres católicos organizam para o mesmo fim através das novenas.
Pedir a Santa Bárbara para amainar as trovoadas é incomparavelmente menos prudente do que instalar um pára-raios. A penicilina fez mais milagres do que as orações rezadas desde os primórdios da organização da superstição em negócios da fé. Morre mais gente nas peregrinações às grandes superfícies religiosas do que benefícios se colhem com as deslocações e oferendas.
Ninguém é prejudicado pelo facto de haver quem acredite que Cristo era filho de uma virgem ou que se dedicava à pregação e aos milagres numa altura em que as saídas profissionais eram escassas e a sobrevivência difícil. O que ninguém tem o direito é de impor que alguma pessoa se ajoelhe ou reze para agradecer uma prestação de serviços – a salvação da alma –, que ninguém lhe encomendou.
A liberdade é incompatível com as doutrinas totalitárias, políticas ou religiosas, e não há um só crente que não julgue ser a sua crença a única verdadeira. É neste clima inflexível que os crédulos de determinada fé se julgam no direito de converter os clientes de outra religião que dispute o mercado ou de perseguir quem recuse o paraíso.
A ICAR só reconheceu o direito à liberdade religiosa durante o concílio Vaticano II que B16 olha frequentemente com a mesma repugnância com que Maomé fita o toucinho.
Hoje, que a demência religiosa atingiu o auge com os talibãs, uma espécie de Opus Dei islâmica, em armas, exige-se aos Estados que defendam a laicidade para evitar que os avençados do divino impeçam os crentes da concorrência do legítimo direito à sua fé.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem tem de substituir-se às tolices com que o Antigo Testamento, a Tora e o Corão intoxicam crianças nos templos e madraças onde o clero mata a inocência predicando a xenofobia, a crueldade, a violência, o sectarismo e o espírito de vingança.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.