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Mês: Janeiro 2011

7 de Janeiro, 2011 Ricardo Alves

A ICAR na guerra de Espanha: vitimizadora e não vítima

Um artigo que vale a pena ler, no Público espanhol.

  • «Esta institución fue, pues, una fuerza beligerante en aquel conflicto, y es de una enorme falsedad presentar a la Iglesia como “víctima”, como hizo recientemente Benedicto XVI. En realidad, su rol fue predominantemente victimizador. En muchas partes de España era la Iglesia la que confeccionaba la lista de los que la Falange o el ejército fusilaban, que eran, por cierto, los que defendían a un Gobierno democráticamente elegido.» (Ler na íntegra)
7 de Janeiro, 2011 Ludwig Krippahl

O sentido

Este termo é muito usado na apologética cristã. Por exemplo, na homilia pascal de 2009, a propósito do conflito entre a criação bíblica e a teoria da evolução, José Policarpo disse que « A narração bíblica da Criação […] é uma revelação do sentido profundo da criação e da vida e não a narração do modo como as coisas aconteceram». Acrescentou também que «o homem é a plenitude da criação e o seu sentido último», que «Em Cristo ressuscitado, todo o tempo adquire o sentido definitivo», e que «nós sabemos que o sentido radical e definitivo está em Cristo ressuscitado.»(1). Esta palavra é muito útil na apologética porque se pode equivocar facilmente vários sentidos de “sentido”.

Quando falamos no sentido da vida ou em dar sentido àquilo que somos e fazemos, referimos valores que não se podem extrapolar de uma pessoa para outra. Para um, o principal pode ser a família ou a comunidade. Para outro o que dá sentido à vida pode ser a arte, a carreira ou o desporto. Neste sentido de “sentido”, o sentido das crença acerca de qualquer deus é estritamente pessoal. Quem as tem está no seu direito e não deve satisfações por isso, mas também não tem legitimidade para as afirmar como conhecimento ou de alegar que têm alguma relevância para os outros. Isto basta para a fé individual mas é insuficiente para a religião.

A religião precisa de “sentido” num sentido mais objectivo. Aquele que referimos quando dizemos que uma explicação ou esclarecimento faz sentido, e que é mais do que uma preferência pessoal. Por exemplo, algumas espécies de formiga armazenam comida para alturas de escassez, ou para sobreviver no Inverno. Podemos explicar isto com na fábula de Esopo, assumindo que as formigas são inteligentes e precavidas. No entanto, esta explicação é inconsistente com o que sabemos da inteligência dos insectos. Faz mais sentido explicar este comportamento como um reflexo, sem propósito ou consciência, que surgiu pela eliminação gradual das variantes menos capazes de acumular alimentos e que, por isso, deixaram menos descendentes.

As religiões precisam de algo que passe por explicações que façam sentido. Daquelas que qualquer pessoa racional, conhecendo os mesmos factos, reconheça como válidas. Este é o grande trunfo da ciência: quando as explicações fazem sentido tanto faz que gostem delas ou não. As religiões precisam de imitar isto para que pareçam legítimos os seus alegados conhecimentos e as pretensões dos seus profissionais à categoria de peritos nos respectivos deuses. Mas, neste sentido, as religiões falham redondamente.

Os dogmas religiosas não fazem sentido. As histórias da criação, o suposto sacrifício de Jesus, o Corão que Allah ditou a Maomé e tantas coisas do género, são só fábulas como as de Esopo (só que sem a honestidade de o admitir). São marcos culturais importantes, revelam o pensamento de quem as inventou e mostram o que, nessa altura, essas pessoas consideravam dar sentido à sua vida. Mas não revelam nada acerca da origem do universo, de quem o criou, do propósito disto tudo, da existência de deuses ou da vida depois da morte. São apenas expressões dos anseios e crenças de quem sabia ainda menos do que nós acerca destas coisas, e quase nada acerca do resto.

É legítimo que, mesmo hoje, haja quem adopte estas crenças e valores. Cada um é livre de acreditar e julgar o que quiser, por muito disparatado que seja. Mas só é legítimo enquanto for uma opção pessoal e não prejudicar os outros. O problema de extrapolar do “eu acredito” para o “vocês devem fazer” é horrivelmente evidente nos países muçulmanos e em atrocidades várias ao longo da história. E é também um problema em países como o nosso, com o dinheiro público que se desperdiça em religiões, a educação religiosa de crianças e leis que respeitam mais o direito a crer em deuses do que o direito de duvidar disso.

Coisas como «só em Cristo se penetra no mistério do homem», «revelação do sentido profundo da criação e da vida» ou «Verbo eterno que se exprime na Palavra revelada da Escritura»(1) aproveitam o sentido que os crentes encontram na sua fé e nos seus valores pessoais para os persuadir de que estas coisas fazem sentido e de que estes “peritos” têm uma compreensão profunda desta matéria. É treta. São especulações absurdas e infundadas, porque não dizem nada de concreto nem se baseiam em evidência alguma, e são uma caricatura da sabedoria, porque o conhecimento não é algo que se obtenha pela reinterpretação demagógica de superstições antigas.

Para os ateus e agnósticos não serve de nada escrever isto. É pregar ao coro. Mas pode ser que leve alguns crentes a pensar no assunto. Pode ser que olhem para as outras religiões e vejam como os imames, rabinos, pastores e cardeais (cada um risque o que considerar a mais) mantêm autoridade sobre tanta gente dizendo saber o que obviamente não sabem. Pode ser que algum crente note a semelhança entre este truque e o negócio dos professores Bambos, dos astrólogos e cartomantes. E até pode ser que perceba que pode manter a sua crença e os valores que dão sentido à sua vida sem ter de enfiar barretes nem perder tempo com quem quer vender regulamentos para a fé.

1- Rádio Vaticano, Criação bíblica e darwinismo: relação analisada por D. José Policarpo na vigília pascal, negando contradições entre as duas “teorias”.

Em simultâneo no Que Treta!

6 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

O regresso da intolerância religiosa

Oriana Fallaci, escritora e célebre jornalista italiana, foi das poucas pessoas de esquerda que percebeu o perigo que a demência religiosa representa para os direitos e liberdades individuais. Pode dizer-se que quase roçou o racismo na denúncia vigorosa do fascismo islâmico nos dois últimos livros, «Raiva e Orgulho» e «A Força da Razão», tal a raiva e a força da denúncia, mas dificilmente se encontrará alguma falsidade.

A comunicação social dos países democráticos ignora o duelo, às vezes sangrento, que se trava em África entre o Islão e o cristianismo evangelista , apoiados respectivamente pela Arábia Saudita e pelas Igrejas evangelistas e os EUA. O genocídio ruandês de 1994 parece ter sido esquecido bem como as implicações religiosas, nomeadamente católicas, na carnificina.

Os recentes atentados contra os cristãos de Alexandria em breve serão esquecidos como uma das muitas reincidências (52) dos que desejam islamizar o Egipto. A Europa só se assusta quando a ameaça chega às suas cidades e, ainda, com tendência para invocar o multiculturalismo como atenuante das atrocidades de que é vítima. E só se forem cristãs as vítimas, como se a vida de um cristão não valesse o mesmo que a de um muçulmano, ateu, budista ou judeu.

No Iraque, onde a horda de cristãos levou o caos, morrem hoje milhares de xiitas que o ódio sectário dos sunitas se esforça por liquidar na esperança de construírem o Estado islâmico sobre os escombros de um país desfeito. Os cristãos e judeus, cuja existência era garantida pelo estado laico de Saddam, estão a desaparecer, mortos, emigradas ou convertidos à força.

A Europa, dilacerada por guerras religiosas, impôs a laicidade com a repressão política sobre o clero e, através da Paz de Westfália (1648), garantiu a liberdade religiosa. Hoje é incapaz de condenar a ingerência política do Vaticano na luta partidária de numerosos países, as pressões políticas da Igreja ortodoxa, as punições a quem renuncia ao Islão e a proibição muçulmana de outros cultos. Como se o dever de reciprocidade face à Europa laica não devesse ser uma exigência ética em terras de Maomé obrigatório!

O islão radical só aceita uma lei – a sharia. E um método para a impor – a jihad. Só a laicidade pode conter o sectarismo e garantir a diversidade religiosa. O Europa tem de ser firme na sua defesa, dentro das fronteiras, e exigente fora delas.

Pio IX considerava a ICAR incompatível com a liberdade, a democracia e o livre-pensamento. A herança do Iluminismo foi mais forte.

6 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

Salman Taseer e o crime de Islamabad…

Salman Taseer

Por

E – Pá

A blasfémia é a difamação do nome dos deuses [ou dos seus profetas]. Poderá abranger posições de mero insulto ao verrinoso escárnio sobre divindades.

Um “crime” que remonta aos tempos bíblicos [no Levítico estipula-se que os blasfemos sejam condenados à morte], e perdurou durante longo tempo no cristianismo [onde, p. exº., os cânones medievos os puniam exemplarmente]. Os judeus perante uma blasfémia, para demonstrar a sua indignação, rasgavam as suas roupas…
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Este “crime” perdurou até à Idade Moderna. Chegou a incorporar a Lei Comum [“Common Law”] americana onde a condenação capital foi substituída por prisão e multa. Todavia, as suas reminiscências chegaram praticamente aos nossos dias Por exemplo, a atitude da ICAR sobre o livro de Dan Brown, “O Código Da Vinci”, andou, muito próxima de um conceito soft de blasfémia…
No Islamismo a blasfémia centra-se essencialmente na difamação do profeta Maomé, embora imprecações contra deus [lato sensu] sejam, também, abrangidas. Ainda hoje, em muitos países muçulmanos, é considerada uma ofensa punível com a pena de morte. Todos nos recordamos da fatwa de Khomenei sobre Salman Rushdie, em virtude do livro “Versículos Satanicos”, considerado blasfemo.
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O Paquistão será um dos países islâmicos que, na actualidade, mantém um enquadramento “legal” mais duro e rígido contra a blasfémia. Em 1982 era punida com a prisão perpétua. Quatro anos depois – com o recrudescimento do fundamentalismo – foi agravada, sendo introduzida a pena de morte para qualquer observação derrogatória em relação ao profeta Maomé.
Nos sectores muçulmanos mais abertos ao Mundo a “lei da blasfémia” tem gerado muita controvérsia. Salman Taseer, em conjunto com organismos paquistaneses e internacionais, manifestou-se publicamente contra a actual legislação em vigor no Paquistão. link
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O assassinato perpetrado em Islamabad não foi mais um crime num terreno de instabilidade e violência política do Paquistão.
Salman Taseer morreu por ter ousado lutar, no seu País, contra a bárbara lei da blasfémia. Mais um crime a engrossar a galeria de “horrores” das religiões…
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Mais do que decretar 3 dias de luto nacional, melhor seria o Governo paquitanês revogar a iníqua lei que aí vigora.
5 de Janeiro, 2011 Eduardo Patriota

Apóstola brasileira afirma que Jesus voltará entre 2017 e 2018 após Iluminates e ONU se unirem pelo anti-cristo

Às vezes, tenho a sensação de que fanatismo religioso e a loucura andam de mãos dadas.

Neuza Itioka, nascida em 13 de abril de 1942, é uma apóstola brasileira. Fundadora e presidente do Ministério Ágape Reconciliação. Ela afirma que após assistir a um filme vendido na internet, se preocupou a cerca do que seria uma Nova Ordem Mundial supostamente criada pelas 13 famílias mais ricas do mundo, estes seriam os Iluminates que junto com a ONU estariam trabalhando para acelerar a vinda do anti-cristo. Segundo ela, nos próximo 6 anos teremos tempos difíceis para os Cristãos, até a volta de Jesus em 2017 ou 2018, quando Cristo inauguraria “seu reinado do milênio”. Neusa Itioka também previu para os próximos anos a eliminação de 90% da população mundial.

Felizmente, a salvação tem receita garantida, segundo nossa “iluminada” apóstola. Basta ler 20 vezes os dois livros de Tessalonicenses. Ela disse 20 vezes! Nem mais, nem menos.

Afinal… as pessoas REALMENTE conseguem acreditar em gente assim? O tal “Ministério” já deu palestras até no Japão. Então, me parece que tem gente que patrocina loucuras. Dinheiro que poderia ter um destino melhor, convenhamos.

5 de Janeiro, 2011 Luís Grave Rodrigues

A transubstanciação

 
Conta a CNN que centenas de pessoas foram contaminadas com Hepatite A quando receberam a comunhão com hóstias infectadas durante a missa do dia de Natal celebrada numa igreja de Long Island, nos Estados Unidos.

Chama-se a isto a transubstanciação dos vírus…

5 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

O clero católico e o sexo

A onda de relaxação que atinge o clero católico, um pouco por todo o lado,  não pode deixar de suscitar perplexidade em Portugal onde a irrepreensível conduta e acendrado amor à castidade têm sido apanágio dos seus bispos, padres e freiras.

Basta lembrar o comportamento impoluto de bispos eméritos: Sr. D. João Alves, bispo Coimbra, Sr. D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal, e do Sr. D. Ximenes Belo, a quem o Vaticano nunca concedeu a titularidade de uma diocese, para citar alguns exemplos dos mais virtuosos e empenhados na defesa da castidade, como é público e reconhecido.

No entanto quem tenha lido “La vida sexual del clero”, de Pepe Rodriguez, estranhará tanta virtude do clero português face ao que se passou em Espanha, só com clérigos cujas sentenças judiciais transitaram em julgado, estranheza agravada pelos atropelos ao sexto mandamento a nível mundial.

Doloroso foi o caso relatado em 2001 de padres que violaram sistematicamente freiras com medo da SIDA. Mais dramático foi ainda a resignação a que foi obrigado o velho cardeal de Viena Hans Herman Groer pela propensão pedófila ou do polaco Monsenhor Juliusz Paetz, arcebispo de Poznan, de 67 anos, antigo colaborador de João Paulo II, que lhe aceitou a demissão por abusar de padres e seminaristas ou vice-versa.

No ano de 964 o Papa João XII foi morto com uma marretada na cabeça por um marido que não tolerou encontrá-lo na cama com a sua mulher. A um antigo e prestigiado cardeal de Paris Jean Danielou foi Deus servido de chamá-lo à sua divina presença em 20 de Maio do Ano da Graça de 1974 quando se encontrava nos braços da espectacular bailarina de strip-tease de 24 anos, Mimi Santoni.

As alcovas do Vaticano deram origem a milhares de páginas de sórdidas condutas onde o nome de Alexandre VI tem lugar destacado. Contudo o que é verdadeiramente novo é a aplicação do Código Penal americano que responsabiliza as dioceses pelos procedimentos impróprios dos seus padres. Assim, independentemente das tentativas de encobrimento que revelaram baixeza ética e cumplicidade, o que ficou em causa foi a falência das dioceses que se viram impedidas de prosseguir a sua missão espiritual por falta de verbas. A generosidade dos crentes passou a ser inferior ao rigor dos tribunais.

Estes escândalos não põem em causa a religião apesar de alguma prudência que as sotainas aconselhem aos pais. O clero católico não terá um cio mais escaldante que os profanos ou uma diversidade de hábitos sexuais superior mas a condenação ao celibato há-de criar-lhes mais inibições e recalcamentos.

Por isso surpreende a virtude do clero autóctone. Talvez a consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, repetida quando o Papa entende aproximar-se o fim do prazo de validade, tenha sido a vacina que poupe à luxúria o vasto clero que cuida das almas lusas.