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Mês: Janeiro 2011

19 de Janeiro, 2011 Ricardo Alves

Viver a fé

Um casal gere uma pequena pensão. Um dia, outro casal bate-lhes à porta e pede um quarto com cama de casal. O primeiro casal recusa porque o segundo casal são dois homens.

Acabou em tribunal e, como é óbvio, o primeiro casal foi obrigado a pagar uma indemnização ao segundo.

Saídos do tribunal, queixaram-se de  que «a sentença judicial afecta negativamente a sua decisão de viverem de acordo com a fé professada por ambos». Segundo o cristianismo deles, discriminar é um direito. Mesmo num estabelecimento com porta aberta ao público.

18 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

As ideologias e os crimes

As boas ou más acções costumam ser apanágio de pessoas boas ou más, mas as acções más praticadas por pessoas boas exigem a abdicação da racionalidade que a demência ou o fanatismo da crença provocam.

Os crentes das diversas religiões envergonham-se da história das crenças que professam e costumam acusar os ateus das mesmas malfeitorias que a piedade inspirou.

Na Grécia Antiga apelidavam-se ateus os que acreditavam em deuses de outras cidades porque, no fundo, todos somos ateus com os deuses alheios. Os ateus só descrêem de mais um deus do que os mais fanáticos monoteístas.

Seria estultícia negar os crimes execráveis de ateus que detiveram o poder, de Estaline a Mao, de Pol Pot a Enver Hoxha, mas não consta que os milhões de mortos e deportados fossem vítimas da crença na virgindade de Maria, na infalibilidade do Papa ou nas conversas de Maomé com o arcanjo Gabriel. Mas os judeus, cristãos e muçulmanos têm o habito de se matarem por questões de fé. Às vezes por meras divergências teológicas.

Não se podem considerar crimes católicos as centenas de milhares de assassinatos do devoto Francisco Franco, apesar do apoio entusiástico do clero católico e de o Papa de turno ter abençoado a matança com a equiparação a cruzada. Nem Mussolini, Pinochet, Videla ou Salazar podem ser vistos como assassinos católicos apesar da paternal estima que os pontífices de Roma lhes prodigalizaram.

Só o padre Tiso,  ditador eslovaco, se pode considerar um assassino católico porque matava cristãos, por serem ortodoxos, e judeus por ser hábito. Também não lhe faltou o apoio unânime do episcopado e do Papa e o epíteto de enviado da Providência, antes de ter caído em desgraça.

Os ateus criminosos não quiseram converter ninguém ao ateísmo, excepto o demente Enver Hoxha que presidiu a um Estado oficialmente ateu, uma perversão semelhante a uma teocracia.

Crimes religiosos são os que se praticam por causa de uma crença, com o desejo de que ninguém tenha dúvidas sobre qual é o deus verdadeiro – o dos carrascos.

As cruzadas, a evangelização dos índios, a Inquisição, a Jihad, os  pogroms, os suicídios bombistas assassinos, o terrorismo contra infiéis, esses sim, são crimes religiosos pois são praticados em nome de um deus contra os crentes de um deus diferente. Confundir os sistemas totalitários com o ateísmo é o mesmo que confundir Urbano II, Estaline, Pio IX, Mao, talibãs e cruzados com democratas e humanistas.

O Opus Dei e a Al-qaeda são instrumentos do proselitismo. Não há equivalente ateu.

18 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

Querem esquecer o passado

O Presidente do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, D. Antonio Maria Vegliò, admitiu dificuldades no diálogo entre comunidades de diferentes culturas e religiões na Europa, «sobretudo com o mundo islâmico».

Intervindo no XI encontro de agentes sócio-pastorais das migrações, em Fátima, D. António Vegliò disse que conteúdos diferentes atribuídos pelo mundo islâmico e pela cultura europeia aos mesmos conceitos podem estar na origens dessa dificuldade.

17 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

JP2 – o santo

Nem ele nem o seu núncio em Espanha levantaram a voz quando a Conferencia Episcopal, reunida casualmente em 23 de Fevereiro de 1981, em vez de condenarem a tentativa de golpe de Estado do coronel Tejero Molina recomendou aos espanhóis o piedoso exercício da reza.

17 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

O negócio dos milagres

Beatificação alegra Igreja e fiéis católicos

“Todos os que o conheceram, todos os que tinham por ele estima e admiração, não podem deixar de se regozijar com a Igreja por este momento.” Falando ontem da sua janela virada para a Praça de São Pedro, no Vaticano, na bênção de domingo, Bento XVI não quis perder a oportunidade para demonstrar a alegria da Igreja pela beatificação de João Paulo II, a 1 de Maio.

16 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

Espanha – Em defesa da coeducação

O Governo introduz a medida na futura Lei de Igualdade de Tratamento – Há 67 centros que separam os sexos e recebem subvenções da sua comunidade

O Governo quer limitar o financiamento da educação separada por sexos, as escolas só para meninos ou só para meninas, na sua maior parte religiosas, e fê-lo através do anteprojecto da Lei da Igualdade de Tratamento e não Discriminação que apresentou em 7 de Janeiro no Conselho de Ministros, cujo texto definitivo foi conhecido ontem. A norma proíbe de forma explícita que as escolas que separam recebam dinheiro público, e possam, portanto, converter-se em colégios concertados – sustentados por fundos públicos – ou  recebedores de dinheiro através de convénios pontuais.

Os colégios masculinos ou femininos podem manter-se mas não serão pagos pela Administração se este aspecto da lei for aprovado pelo Parlamento. Em Espanha há 67 centros que separam por sexo, segundo dados do Ministério da Educação.

Fonte: El País

16 de Janeiro, 2011 Carlos Esperança

JP2 – Papa obsoleto no antro do Vaticano

Agora que JP2 começou a fazer milagres, permito-me recordar um texto escrito após o seu passamento:

«A morte de JP2 relembra a dor e sofrimento que atingiu a URSS quando o pai da Pátria, José Stalin, exalou o último suspiro e recorda o histerismo demente que rodeou a morte do ayatola Khomeini em todo o mundo árabe, particularmente no Irão. Em comparação, a morte de Salazar foi chorada de forma contida, mas os déspotas produzem emoções mais fortes do que os democratas.

O absolutismo papal, restaurado com o apoio entusiástico do Opus Dei, da Comunhão e Libertação e de outros movimentos integristas, fez de JP2 o Papa da «Contra-Reforma», anti-modernista, infalível e retrógrado, que substituiu os anacrónicos autos de fé pela comunicação social e pela diplomacia.

O Papa da Paz, como os sequazes o alcunharam, apoiou a Eslovénia e a Croácia (maioritariamente católicas) e a Bósnia e o Kosovo, nações muçulmanas, contra a Sérvia cuja obediência à Igreja Ortodoxa constituía um entrave ao proselitismo papal que tem nos ortodoxos a principal barreira ao avanço do catolicismo para leste.
A protecção aos padres que participaram activamente no genocídio no Ruanda é mais um desmentido do boato sobre o alegado espírito de paz e justiça que o animava.

A intervenção de JP2 a favor da libertação de Pinochet, quando foi detido em Londres, é coerente com a beatificação de Pio IX, do cardeal Schuster, apoiante de Mussolini e do arcebispo pró-nazi Stepinac. O auge da ignomínia foi a meteórica canonização do admirador de Franco e fundador do Opus Dei, Josemaria Escrivá de Balaguer.

JP2, ele próprio profundamente supersticioso e obscurantista, chega a ser obsceno na forma como inventou milagres para 448 santos e 1338 beatos cujos emolumentos contribuíram para o equilíbrio financeiro da Santa Sé e para o delírio místico dos fiéis fanatizados.
Da prática do exorcismo à exploração de indulgências, da recuperação dos anjos à aceitação dos estigmas como sinal divino (canonizou o padre Pio), tudo lhe serviu para alimentar uma fé de sabor medieval e uma moral de conteúdo reaccionário.

O horror que nutria pela contracepção, o aborto, a homossexualidade e o divórcio são do domínio da psicanálise. O planeamento familiar era para o déspota medieval um crime. A SIDA era considerada um castigo do seu Deus e, por isso, combateu o preservativo, tendo o Vaticano recorrido à mentira, afirmando que era poroso ao vírus (2003).
O carácter misógino, o horror à emancipação da mulher, a crença no seu carácter impuro, foram compensados pelo culto doentio da Virgem, recuperado da tradição tridentina.

Como propagandista da fé, pressionou Estados, condicionou a política de numerosos países, ingeriu-se nos assuntos relativos ao aborto, à eutanásia e ao divórcio e acirrou populações contra governos democraticamente eleitos. Apoiou comandos anti-aborto, estimulou a desobediência cívica em nome dos preconceitos da ICAR, influenciou a redacção da Constituição Europeia, e chegou ao despautério de pedir aos advogados católicos que alegassem objecção de consciência e se negassem a patrocinar o divórcio.

O Papa da Paz condenou a atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago; envidou todos os esforços para obter o Nobel da Paz para si próprio, que justamente lhe foi negado; excomungou o teólogo do Sri Lanka, Tyssa Balasuriya por ter posto em causa a virgindade de Maria e defendido a ordenação de mulheres; perseguiu ou reduziu ao silêncio Bernard Häring, Hans Küng, Leonardo Boff, Alessandro Zanotelli e Jacques Gaillot; marginalizou Hélder da Câmara e Oscar Romero; combateu o comunismo e pactuou com as ditaduras fascistas. João Paulo II morreu uns dias depois de o Vaticano ter proibido a leitura ou a compra do «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown e sem nunca ter censurado a fatwa que condenou à morte o escritor Salmon Rushdie.

O Papa que morreu, segundo a versão oficial, no dia 02-04-2005 (soma = 13), às 21h37 (soma = 13), curiosidades «assinaladas» pelo bispo de Leiria/Fátima, não pode ser o algoz da liberdade, o déspota persecutório, o autocrata medieval, o ditador supersticioso e beato que conhecemos. É capaz de ser outro papa o que consternou chefes de Estado e de Governo, que alimentou os noticiários de todo o mundo, que rendeu biliões de ave-marias e padre-nossos, que ocupou milhões de pessoas a rezar o terço, vestígio do Rosário da Contra-Reforma, que recuperou graças ao apoio da Virgem Maria que também o promoveu nas suas aparições na Terra.

O Papa que morreu era talvez uma pessoa de bem que, modestamente, ocultou tal virtude. Foi celebrado por dignitários políticos, religiosos e outros hipócritas que, na morte, lhe enalteceram as virtudes e calaram os defeitos. Foi o cadáver que milhares de abutres aguardavam para exibir e explorar numa derradeira campanha de promoção da fé católica.

É, todavia, o mesmo Papa que anatematizou os ateus, fez inúmeras declarações contra o laicismo, silenciou teólogos, beatificou fascistas e combateu o planeamento familiar. A sua obsessão era reduzir o mundo a um casto bando de beatos, tímidos e idiotas, sempre de mãos postas e de joelhos. O livre-pensamento, a modernidade , o prazer e a liberdade foram os seus inimigos figadais.»