9 de Dezembro, 2010 Carlos Esperança
O sistema prisional chileno
Algumas das mais dramáticas heranças da ditadura militar chilena são o sistema prisional e a ausência de segurança na extracção mineira.
O neoliberalismo não tem em grande conta a vida humana embora não lhe falte devoção religiosa e desdém pelos desgraçados. Desde que se assegure o lucro são irrelevantes as condições e riscos de vida. O Chile tornou-se uma democracia mas o respeito pela vida humana está longe de ter sido recuperado.
O incêndio em que pereceram carbonizados 81 prisioneiros, numa cadeia, emocionou o País e acordou os fantasmas da herança a que ainda não renunciou. Num presídio com capacidade para 1100 presos estavam em condições desumanas 1960. O presidente que viu a sua popularidade subir em flecha com a libertação dos 33 mineiros a quem o Papa mandou uma bênção especial e 33 terços benzidos, admite agora a situação desumana do sistema prisional.
No caso dos mineiros não foi o mérito do presidente que os resgatou vivos, nem se lhe pode atribuir agora a responsabilidade das mortes na sequência do incêndio ateado pelos próprios presos. Piñera tem de resolver, em democracia, o que o piedoso facínora desprezava quando os mais elementares direitos humanos eram postergados perante as necessidades do lucro.
Em democracia é preciso compatibilizar a economia e os direitos humanos, um desafio que já devia ter começado há muito.