Coisas que não entendo
Há quem suporte a missa semanal, até a diária, sabendo que o espectáculo se repete e só mudam as rendas dos vestidinhos eclesiásticos e a cor dos enfeites, conforme a época e o cânone litúrgico. Até os cenários se mantêm, excepto quando alguma mosca poisa onde não deve ou uma aranha tece a teia num espaço longe da fé e dos crentes.
Para um ateu é como assistir ao mesmo filme todos os dias, com o desconsolo de saber o enredo de cor e não poder dizer piadas. Os crentes da vida eterna vêem no sacrifício a apólice que lhes garante o espaço onde julgam que há virgens lúbricas à espera de bem-aventurados para orgias loucas e rios de mel sem medo da diabetes da alma, deus a dizer piadas ao filho e anjos a tocar harpa no baile das almas sem corpo.
Os santos andam ali em perpétua pasmaceira, privados de canastro e de entendimento, sem saberem que fizeram milagres depois da ida para o Paraíso. Os anjos voam em bandos enquanto os da primeira hierarquia jogam aos dados com o Espírito Santo.
No Paraíso dos judeus Jeová canta em aramaico para os que deixaram as trancinhas e o resto a apodrecer debaixo do cipreste, enquanto Maomé aluga camelos para o oásis das virgens com a recomendação aos ex-suicidas de seguirem o leito do rio de mel doce.
No Paraíso cristão onde Jesus, o que fazia milagres à beira do Lago Tiberíades e passou o Mar Morto a pé antes de ter furados os pés, o único deus verdadeiro fica à direita de quem vem do Purgatório e à esquerda dos que saem do Inferno, canonizados depois de uma excomunhão.
O que não entendo é esta sedução dos crentes pelo Diário Ateísta. Aqui não encontram quem os siga nas novenas, quem viaje de joelhos ou se ponha de rastos perante o deus que lhes venderam na pia baptismal.
Não nos encontraremos no vale de Josafá onde é exíguo o espaço para os que acreditam na ressurreição da carne, na vida eterna e no julgamento de um deus que, se existisse, estaria a contas com a justiça pelas asneiras que dizem que disse e pelas crueldades que são atribuídas ao seu divino mau feitio.
Quando o ciclo biológico se tiver cumprido só nos distingue a água benta com que os créus se borrifam e os óleos com que se besuntam enquanto os ateus partem mais asseados.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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