27 de Novembro, 2010 Carlos Esperança
Explorar a angústia
Por
José Moreira
Acabo de “ouver” (como se sabe, é a junção de “ouvir” e “ver”), nas televisões, que o bispo vai rezar missa para os despedidos da Groundforce..
Fico feliz, e esperançado. Para já, fico feliz por ser um bispo e não um mero padre a rezar a missa. Certamente que um bispo é muito mais poderoso e estará muito mais perto do “altíssimo” do que um sacerdote.Tem mais influência, certamente. Claro que se fosse um cardeal seria muito melhor, mas pronto, não podemos ser muito exigentes… Também é verdade que na tal sociedade civil, designadamente ao nível da política, as melhores cunhas são as dos porteiros e/ou motoristas, em detrimento dos directores-gerais ou secretários. Mas a o que é certo é que a separação entre a Igreja e o Estado é um facto, e ainda bem, porque o efeito de cópia é terrível, e correríamos o risco de ver as cunhas sagradas a serem metidas por sacristães, isto é, poderia ser um sacristão a rezar a tal missa.
Adiante.
A minha esperança reside no facto de a missa rezada pelo bispo contribuir para a resolução dos problemas que se levantam às famílias dos futuros desempregados. Isto é, que eles arranjem, imediatamente, novo emprego, que lhes saia o Euromilhões de modo a que mandem às malvas a entidade patronal, ou outra coisa para aí. Porque a assim não ser, isto é, se a tal missa, ainda por cima rezada por um bispo, não contribuir para a resolução dos problemas, pergunta-se para que servirá – para além claro, do inevitável peditório, para o qual certamente contribuirão também os tais futuros desempregados.
Claro que os crentes de piquete ao DA afirmarão que a vida não é só matéria, que o espírito também conta, que o apoio moral é importante… E eu pergunto se isso tudo dá para comprar pão e outros alimentos. Para matar a fome, em suma. E pergunto mais, de que serve alimentar a alma – seja lá isso o que for – se o corpo estiver a morrer à fome. Não seria mais útil o bispo meter os pés ao caminho e tentar arranjar emprego àquela gente? Valendo-se, claro, da inegável influência que a Igreja tem na terra? Certamente bem maior que a que tem no céu?