12 de Outubro, 2010 Carlos Esperança
O Diário Ateísta e os leitores
O universo de leitores do DA é variado e reflecte o pluralismo social e as idiossincrasias do país em que vivemos. Até os dislates e ameaças proferidas por quem transforma as diferenças em divergências são típicos de quem acredita num livro escrito pelos homens na Idade do Bronze ou por quem vê nas crenças, em qualquer crença, o cinto explosivo pronto a imolar o demente que o usa e a assassinar infiéis.
A intoxicação ideológica não é exclusiva das crenças religiosas, é apanágio de todas as correntes de pensamento totalitárias. A educação, bem como a gramática, são próprias de cada interveniente. Não podemos transformar um fundamentalista intoxicado pelo clero e pelo catecismo num cidadão tolerante e razoável, nem um ateu totalitário num amante da paz e da concórdia.
Mas é bom que os crentes percebam que o DA é um espaço de ateus onde a discussão, mesmo viva e quente, é bem-vinda, sem deixar de ser um espaço onde não se glorificam os santos ou se acredita na virgindade de Maria, nos malefícios da carne de porco e na bondade dos profetas. Pessoalmente é-me indiferente que Cristo tenha querido morrer para salvar os homens, como diz a propaganda pia. Ficaria triste se tivesse morrido sem querer, como a religião que dele se reclama tantas vezes fez na evangelização.
No DA não se leva a sério o oleiro que fez o primeiro casal a partir do barro e do sopro com que o cuspiu, deixando ao incesto a prossecução da espécie. O próprio nome indica que o DA não é o breviário com que o clero católico sublima os recalcamentos sexuais ou o espaço onde se glorifique o martírio dos vários deuses que alimentam as legiões de funcionários que vivem das crenças e lutam pelo aumento da quota de mercado.
Compreendo o horror dos créus ao ateísmo, que um cardeal faça uma maratona a Fátima contra o ateísmo ou que outro o considere a maior tragédia da actualidade, tragédia contida com fogueiras e tratos de polé durante séculos. Só não compreendo os crentes que aqui vêm, a pensar que devíamos acreditar que Cristo era filho de uma pomba, que Maria pariu virgem, que a confissão é a lavandaria dos pecados, o presunto a ruína da alma e urinar virado para Meca uma ofensa ao condutor de camelos.
Os livros «sagrados» não são apenas falsos, são nocivos. Nenhum tem a dignidade da Declaração Universal dos Direitos do Homem, nenhum defende a igualdade de género, uma vergonha para quem os defende, nenhum é isento de normas que caem sob a alçada do Código penal dos países civilizados.
No Diário Ateísta repudiamos os crimes de qualquer crença ou descrença, desprezamos a água benta, o jejum, os profetas e os parasitas da fé. E nunca aceitaremos que se lapide uma mulher, se degole um herege ou se imponham as tolices da fé pela violência.
Somos livres-pensadores.