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Mês: Outubro 2010

14 de Outubro, 2010 Ludwig Krippahl

Conhecimento, parte 1. Origens.

O Jairo Entrecosto pediu-me que respondesse a este alegado dilema: «se um conhecimento falha por não ser testado cientificamente, o método cientifico seria inválido, já que ele não se valida cientificamente a si próprio.» Ou seja, o conhecimento não pode ser só científico porque tem de haver algo fora da ciência que a valide. Esta ideia faz parte da receita para defender que é a crença no deus cristão que justifica a ciência, por ser um deus racional criador de um universo compreensível, e que foi o cristianismo que criou a ciência moderna. Junta-se umas pitadas de transcendente, um metafísico ou dois, fé e revelação que baste, e marina-se tudo em verdades absolutas e outras tretas. Para resolver um problema que nem sequer existe. O que valida a ciência é o mesmo método que a ciência segue. Experimenta-se e, se funciona, está validado. Mas para desfazer esta confusão tenho de começar do início.

Há dois milénios e meio, uns gregos perceberam que contar histórias com deuses e ninfas tem piada mas não esclarece nada. Então desataram a filosofar. Que é como quem diz, a pensar para encontrar respostas em vez de julgar que é tudo um mistério insondável da vontade divina. Foi uma ideia brilhante. Mostrou que, pensando, conseguimos abrir caminho em problemas tão diversos como o que é o bem, de que são feitas as estrelas, que deduções são válidas ou o que faz crescer os dentes. E filosofaram sobre tudo; dos átomos à virtude e da geometria à política. O que mostra que o conhecimento é um todo coerente e não é um molho de crenças disjuntas. À maior parte do que filosofaram já nem chamamos filosofia. Chamamos matemática, lógica, biologia, astronomia. Mas é tudo conhecimento. Ou, em latim, scientia.

É verdade que, no geral, o sucesso da filosofia grega foi modesto. Focavam demais o raciocínio sem procurar dados onde o fundamentar. Aristóteles, um dos melhores, chegou até a explicar porque é que os homens têm mais dentes do que as mulheres. Além da explicação ser pouco convincente, «os homens têm mais sangue e calor»(2), se tivesse contado primeiro veria que o número de dentes é o mesmo. Talvez tenha sido um problema cultural. Talvez tenha sido a falta de tecnologia; sem instrumentos de detecção, medição e registo, sem sequer um relógio decente, é difícil obter dados fiáveis. Ou talvez o enorme sucesso dos sistemas formais, como a matemática e a lógica, lhes fizesse julgar que era só preciso pensar. É uma ilusão que ainda hoje engana muitos.

Mas essa fica para outro post. Neste, salto já o império de Alexandre, os romanos, a China, e a conquista muçulmana, apontando só que havia mais progresso quando se conseguia organizar uma data de gente em sociedades dinâmicas. E boa parte do progresso se perdia quando se fragmentava tudo em comunidades estagnadas. Na Europa, o colapso do império romano levou à pasmaceira da Idade Média. Mil e tal anos praticamente sem nada de jeito.

Há quem diga que não foi assim tão mau mas, sinceramente, mesmo que não tenha sido tão, foi bastante. Enaltecendo o progresso medieval, o Alfredo Dinis e o João Paiva escrevem que «São impressionantes, por exemplo, os desenvolvimentos a nível de linguagem. A língua portuguesa (e muitas outras europeias) nasceu e cresceu, no seu essencial, durante a Idade Média»(3). Mas isto não foi “desenvolvimento” nenhum. Ninguém se pôs a inventar o português, o castelhano e o francês porque achou que dariam jeito. Pelo contrário. A fragmentação do latim foi consequência da perda de contacto entre estas populações depois da queda do Império Romano. Vê-se bem como terá sido a Idade Média, se é este o exemplo de inovação

Além do isolamento e do provincialismo, agravados pelo sistema feudal, e do conservadorismo da religião dominante, que guardava a “ordem divina” num universo prestes a acabar quando Cristo regressasse, a Idade Média sofreu também do problema de quem estava no poder ter todo o interesse em manter o status quo. O povo fica em baixo, o clero e a nobreza em cima, e ninguém abana o barco.

A ciência moderna deflagrou só com os descobrimentos e toda a revolução dessa época. A tecnologia que permitia a navegação dava também instrumentos para testar hipóteses. Os barcos fizeram mais ainda que as estradas dos romanos, trazendo ideias, cultura e informação de todo o mundo. Surgiu a burguesia, cujo poder dependia de inovar em vez de manter tudo na mesma. E a teoria começou a ter aplicação prática. Para fazer lentes, canhões, barcos e fortalezas. Mapas, planos de construção, e até tabelas de logaritmos, passaram a ser segredos de Estado. Foi esse conjunto de factores sociais, tecnológicos, económicos, e também o próprio conhecimento acumulado, que criou a ciência como conhecemos hoje.

A ciência não vem do cristianismo nem do menino Jesus. Já desde os filósofos gregos que sabemos que especular sobre deuses não esclarece nada. O que nos deu a ciência foi o mesmo processo que nos deu todo o conhecimento. Testar o que julgamos com aquilo que observamos. O que custou foi perceber que era isso que fazíamos sempre que aprendíamos algo novo. Foi preciso aprender muita coisa até perceber que mais nada serve para obter conhecimento. Não adianta pensar sem observar, nem esperar por revelações divinas, nem perder tempo com misticismos, transcendências e outros disparates. Até a lógica e a matemática, que pareciam dar vitória à razão pura, precisam de um fundamento empírico. Mas isso fica para o próximo episódio.

1- Jairo Entrecosto, Ludwig Krippahl e Ciência
2- The Ex-Classics Web Site, Aristóteles, Of the Teeth
3- Alfredo Dinis e João Paiva. Educação, Ciência e Religião. Gradiva, 2010 (p. 58)

Originalmente no Que Treta!

14 de Outubro, 2010 Fernandes

Fátima Desmascarada

Tenho o livro de João Ilharco, “Fátima Desmascarada”, onde o autor arrasa todo o embuste de Fátima. Por casualidade adquiri hoje, no mesmo alfarrabista, o libelo do mesmo autor, “Fátima Desmascarada (polémica)”. Passo a transcrever um breve trecho:

1º – Lúcia asseverou que a Virgem lhe afirmara em 13 de Outubro de 1917 que a “Grande Guerra” (1914-1918) havia acabado nesse dia. Como a guerra acabou treze meses mais tarde, quem mentiu: Lúcia ou a Virgem?

2º – Segundo declarações de Lúcia, a Virgem tinha-se designado a si própria pelos nomes de “Nossa Senhora” ou de “Senhora do Rosário”.

– Pode acreditar-se em tal contra-senso?

– Nós, portugueses, quando nos referimos ao Chefe de Estado, dizemos o “nosso Presidente da República”. Ele é que nunca pronunciaria o seguinte dislate:

– Eu sou o “nosso Presidente da República”.

3º – Alguém poderá crer que a Virgem falasse sem mexer os lábios, sem modificar a expressão do rosto, sem fazer o mínimo gesto, como os videntes declararam?

4º Seria possível que a Virgem medisse de altura 1 metro e dez centímetros?

A altura da Virgem foi calculada pelo Padre Ferreira de Lacerda, tomando por base o que Lúcia lhe disse a esse respeito.

5º – Lúcia põe na boca da Virgem a seguinte frase:

– «O meu lugar é o do céu».

Uma pessoa consciente poderá acreditar que a Virgem pronunciasse tal idiotice?

6º – É credível que a Virgem se tenha exibido na Cova da Iria com argolas de oiro nas orelhas, conforme Lúcia asseverou?

7º – Quando se deve acreditar em Lúcia? Quando afirmou para o cónego Nunes Formigão que não via vir a Senhora de nenhuma parte; ou quando disse para o Padre Ferreira Lacerda que a Virgem aparecia vindo do lado Nascente?

8º – Em 13 de Julho de 1917 a Virgem ordenou a Lúcia que comparecesse na Cova da Iria no dia 13 do mês imediato. Lúcia e os primos não puderam cumprir a ordem recebida, em virtude do administrador do concelho de Vila Nova de Ourém os ter levado para aquela vila. Qual a explicação para o caso?

Teria o administrador do concelho mais poder que a Virgem pois impediu que os três videntes cumprissem uma ordem expressamente dada por ela?

Para quem leu “Fátima Desmascarada”, a explicação é fácil de encontrar; quem mandara comparecer os videntes no dia 13 de Agosto na Cova da Iria, não tinha sido a Virgem, mas sim o Padre Faustino José Ferreira, que exercia sobre Lúcia e os primos poderes ilimitados. O que não podia ter previsto, com um mês de antecedência, era que o administrador do concelho impediria que os três pastores fossem à Cova da Iria no dia 13 de Agosto.

9º – Podia Lúcia, que sempre demonstrou possuir péssima memória (veja-se Fátima Desmascarada) e que, já em 1917, se mostrava incapaz de reproduzir as chãs e curtas frases por ela atribuídas à Virgem, podia Lúcia, repito, reproduzir, quando mulher, longas falas do anjo e da Virgem, que continham numerosas palavras cujo significado ela ignorava completamente?

10º Quando em 1938 chegou ao lugarejo natal dos videntes, Aljustrel, o eco da inverosímil história dos “sacrifícios” e das “mortificações” a que os pequenos se teriam submetido logo após as primeiras aparições, os familiares, os vizinhos e os pais de Jacinta e Francisco (os de Lúcia já haviam falecido) abriram a boca de espanto e declaravam unanimemente:

– «Nunca soubemos nada de nada! Eram exactamente como os demais».

Quem atirou essa inverosímil história para o caixote do lixo foi Lúcia, quando declarou para o Padre H. Jongen:

«Nos continuávamos a brincar como dantes. Certas mulherzinhas devotas diziam-nos: Vocês viram a Nossa Senhora. Por isso já não deviam brincar». Mas que podíamos fazer senão brincar?» (Revista “Stella”. 9-Nov-1946).

11º Quando nas Doroteias, em Pontevedra, em cujo convento Antero de Figueiredo entrevistou Lúcia, esta atestou que tudo o que esse escritor registou como tendo-lhe sido dito por Lúcia era absolutamente exacto.

Pois bem;, Lúcia negou para Antero de Figueiredo que, antes das aparições de 1917, tivesse estado em contacto com o sobrenatural. – «Antes das aparições – disse ela -, criança e pastora, nunca pensei nestas coisas». («Fátima». pág. 149).

12º – Lúcia asseverava que nunca poderia revelar o segredo que ela dizia ter-lhe sido revelado pela Virgem em 1917. Afirma-o também o bispo de Leiria numa Carta Pastoral datada de 13-10-1930 e reafirmou-o Lúcia, por forma categórica, em 1936, para Antero Figueiredo.

«Em 1946, porém, Lúcia declarou para o Padre Jongen, que já em 1927 tinha revelado dois dos segredos ao bispo de Leiria e ao cónego Galamba de Oliveira».

A declaração de Lúcia não era verdadeira; mas o Bispo de Leiria e o cónego Galamba de Oliveira, que se contavam entre os mais categorizados dirigentes de Fátima, em vez de desmentirem a afirmação de Lúcia, perfilharam-na, atitude que se me afigura estranha e muito grave.

13º – Lúcia afirmou para o cónego Nunes Formigão que o segredo (na Velha História havia apenas um segredo; na Nova, passou a haver três) somente diziam respeito a ela e aos primos.

Poderá aceitar-se como verdadeiro o texto desses dois segredos, conforme se lêem em «Jacinta»?

Acerca de Lúcia, o sr. Oliveira Santos, (filho de Artur de Oliveira Santos, administrador do concelho que, em Agosto de 1917, interrogou Lúcia, Jacinto e Francisco) contou que assim falava António Santos, o “Abóbora”, pai da vidente, referindo-se à filha:

– «O sr. administrador não acredite na minha filha, que ela é uma intrujona!».

14 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

A Maior Flor do Mundo

Por

Abraão Loureiro

A história que eu e a minha neta não nos cansamos de ver.
Pode servir de dedicatória a todos aqueles que pensam que só venerando deus é possível ter sentimentos profundos e límpidos.
Àqueles que odeiam o ateu que nos deixou faz pouco tempo.

Não escrevo o nome do HOMEM, quem não conhecer esta historinha, contada em poucos minutos, que veja o vídeo e depois reflicta antes de tecer comentários desonestos.

Ver Vídeo.

14 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Uma mentira repetida pelo Papa…

Papa recorda aparições de Fátima

Durante a sua audiência geral, Bento XVI confiou os peregrinos à guarda da Mãe de Deus

Num dia em que Fátima assinalou o 93º aniversário da última aparição mariana na Cova da Iria, a ocasião não passou despercebida no Vaticano.

14 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Devia ter pedido antes do acidente…

Papa pede protecção para os mineiros

O Papa Bento XVI enviou 33 terços benzidos para os mineiros chilenos e garantiu que continua a rezar por eles

O Papa encomendou hoje a “bondade divina” aos mineiros chilenos que estão a ser resgatados depois de 69 dias soterrados a 700 metros de profundidade.

13 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Fátima_13_10_2010

Os peregrinos são maratonistas da fé que arrastam as pernas cansadas pelos caminhos de Portugal. Vão em bandos, tocados por capatazes que os conduzem ao anjódromo da Cova da Iria, em busca de um milagre ou da promessa por cumprir. Olham as azinheiras como árvores sagradas, ramos onde a virgem saltitava a pedir aos três pastorinhos que rezassem o terço pela conversão da Rússia, e a Cova da Iria como local onde um anjo anónimo fez uma aterragem de cortesia.

O terreno de pastoreio virou local de culto. Começou com provocações à República e transformou-se, depois, em central de luta contra o comunismo. Não tendo sido obrado um só milagre, é uma fonte de rendimento que os Papas promovem à comissão.

Hoje, com a República consolidada, o comunismo em estado de coma e a Rússia a ver o Papa como concorrente do Patriarca de Moscovo, Fátima é apenas um negócio rentável para os cofres da ICAR e uma tribuna de opções políticas do Vaticano. Era ali que devia funcionar a nunciatura e a virgem Maria abrir um bazar.

São de boas fé e melhores contas os peregrinos. Movidos a ave-marias e salve-rainhas, chegam ali com anéis, brincos e cordões de ouro para deixarem as memórias de família e as parcas poupanças ao alcance da cobiça eclesiástica.

Quem pode censurar o velho soldado por envergar restos da farda onde trouxe o corpo, como se de um milagre se tratasse, enquanto recorda camaradas mortos e estropiados na guerra colonial? Os crentes, desiludidos do médico, vão a Fátima e à bruxa, em aflição, convencidos do valor terapêutico dos gestos cabalísticos, da combustão das velas, da água benta e da coreografia exótica que monsenhores, bispos e cardeais exibem.

É fácil acreditar que o Sol fez ali piruetas, que a senhora de branco passava as tardes com os pastorinhos a ensinar catequese e política e que o Papa assistiu ao espectáculo do Sol dos jardins do Vaticano.

Os padres que engendraram Fátima tentaram outras regiões, ensaiaram virgens noutros sítios e seleccionaram o que teve melhor acolhimento. Desanimado ficou o sacristão da Nazaré a queixar-se aos devotos que diminuíam que a Senhora de Fátima foi o diabo que apareceu à senhora da Nazaré.

Não há mercado para tantos santuários.

Apesar das 12 toneladas de cera que todas as semanas ardem em Fátima para deliciarem a pituitária do deus dos peregrinos, estes começam a escassear.

12 de Outubro, 2010 Ludwig Krippahl

Equívocos, parte 10. Agora mais radical.

Neste episódio, o Alfredo Dinis dirige a sua crítica ao “ateísmo radical”, mas não explica porque será este mais radical do que das outras nove vezes. O décimo equívoco é «A existência de Deus é uma hipótese cientifica e pode, por conseguinte, ser objecto da investigação dos cientistas, a qual poderá chegar a uma posição conclusiva sobre a existência ou não de Deus.» (1)

Realmente, há aqui vários equívocos. Primeiro, não se trata de uma hipótese acerca da existência de Deus. São muitas. Segundo, nem todas são científicas, porque uma hipótese é científica se, e só se, houver possibilidade de determinar se é verdadeira ou falsa. Muitas nem isso permitem. Terceiro, só uma hipótese que seja científica é que vale a pena considerar porque, se não o for, então não faz diferença se é verdadeira ou falsa. Se fizesse diferença podia ser testada e seria científica. Finalmente, e por isso, os crentes acabam por defender hipóteses científicas acerca dos seus deuses. Porque não interessa ter deuses irrelevantes, têm de propor deuses que façam alguma coisa que se veja.

Para apoiar a sua alegação, o Alfredo cita a Academia Nacional de Ciências dos EUA (NAS). «A ciência nada tem a dizer acerca do sobrenatural. A ciência mantém-se neutra acerca da existência ou não de Deus.» É pouco persuasivo. O financiamento da NAS depende da opinião pública, e 90% dos eleitores nos EUA acredita num deus pessoal. A maioria até acredita que a Terra tem dez mil anos, que foi criada numa semana e que descendemos todos de Adão e Eva. Cá em Portugal podemos dar-nos ao luxo, eu e o Alfredo, de dizer que isso são disparates. Mas num país que elege o Bush (duas vezes!) é preciso muito mais cuidado. Mais revelador do conflito entre ciência e religião é que, nesse país onde só um décimo das pessoas não acredita num deus pessoal, entre os membros da NAS – os cientistas mais conceituados dos EUA – 72% são ateus, 20% agnósticos e apenas 8% acreditam que existe um deus (2). Esta discrepância sugere fortemente que a ciência não é neutra acerca das religiões.

Mas não é preciso apelar à opinião popular para compreender que «A ciência nada tem a dizer acerca do sobrenatural» é um erro. Basta ver que, se assim fosse, a ciência nada poderia dizer acerca da fada Sininho, da astrologia, da cura por regressão às vidas passadas, dos videntes, dos fantasmas e de qualquer outra treta que se rotulasse “sobrenatural”. Esta ideia, obviamente falsa, resulta de um equívoco. Quando se diz que uma hipótese que não seja testável não é científica não se quer dizer que a ciência tem de ficar calada. Quer-se dizer que a ciência não a pode aceitar. Mas pode, e deve, rejeitá-la pelo disparate que é.

Devo mencionar duas objecções que os crentes levantam à rejeição científica das suas hipóteses. Uma é que as suas hipóteses acerca do sobrenatural são excepção, mesmo sendo impossíveis de testar como as outras que o crente rejeita. Parece-me seguro ignorar esta alegação porque, além de nunca ser devidamente justificada, nem os crentes conseguem decidir entre si quais as hipóteses que são excepção e quais a ciência pode rejeitar. Quando o Alfredo Dinis e o Jónatas Machado encontrarem um método para concordar nisto, logo vejo se há aí algo que mereça consideração. A outra é alegar, também do nada, que os objectos da sua crença são diferentes dos objectos de estudo da ciência. É falso. Os objectos em causa são, em todos os casos, as hipóteses. Seja na filosofia, na teologia, na ciência ou na fé, aquilo que se faz é decidir se acreditamos ou não na verdade de hipóteses.

Além disso, muitas das hipóteses que os crentes defendem são testáveis. Este é outro equívoco do Alfredo, assumindo que não é uma omissão propositada. Ele próprio defende, por crença religiosa, hipóteses científicas. Defende que Maria nunca teve relações sexuais, que Jesus esteve morto e ressuscitou, que há partes do nosso ser que sobrevivem à destruição do corpo, que o seu deus criou o universo, cura pessoas, e assim por diante. E como estas hipóteses são contrárias ao que os dados sugerem, o mais razoável é assumir que são falsas enquanto não houver evidências concretas que as apoiem.

O Alfredo gostaria que a ciência não levantasse dificuldades às religiões. Ou, pelo menos, que não as levantasse à sua; se refutar as outras, tanto melhor. Mas a ciência avança pela inferência à melhor explicação. E a melhor explicação para as religiões, incluindo a do Alfredo, é que são fenómenos sociais e psicológicos. Parafraseando Laplace, não precisamos da hipótese de existir algum deus, seja o do Alfredo, seja outro qualquer. É por isso que há uma correlação inversa entre a educação científica e a religiosidade. É por isso que a fracção de ateus é maior entre os cientistas, e tanto maior quanto mais conceituados são. E é por isso que, ao fim de séculos a apregoar a teologia como a rainha das ciências, hoje só querem é separá-las. Não porque a ciência não tenha nada a dizer acerca destas hipóteses mas porque não gostam do que ela diz.

1- Alfredo Dinis, Grandes equívocos do ateísmo radical contemporâneo
2- Wikipedia, Relationship between religion and science
Em simultâneo no Que Treta!

12 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Fábrica dos santos com novas encomendas

Igreja proclama seis novos santos

A cerimónia da proclamação será no Vaticano, sob a presidência do Papa. Desde o início do pontificado de Bento XVI foram beatificados mais de 600 fiéis e há 28 novos Santos. Neste grupo destacam-se dois portugueses: a Beata Rita de Jesus (beatificada em 2006, em Viseu), e São Nuno de Santa Maria (canonizado em 2009, no Vaticano).

12 de Outubro, 2010 Ricardo Alves

O professor crucificado

No cantão suíço de Valais, um professor do ensino público foi despedido por se atrever a retirar um crucifixo da sala de aula. A seu favor, tem uma decisão do tribunal federal suíço, em 1990, que confirma que a presença do crucifixo na sala de aula viola a liberdade confessional. Contra si, tem a circunstância de ter desobedecido à ordem da autoridade escolar para recolocar o crucifixo.

O professor Valentin Abgottspon, como se não bastasse, é presidente da secção local da Associação Suíça dos Livres Pensadores. E não o esconde. Como é de seu direito. Mas a lei escolar cantonal prevê a «educação cristã» dos alunos, o que é sem dúvida anacrónico e antilaicista.

Caberá ao governo do cantão tomar uma decisão definitiva, mas não final: a batalha prosseguirá nos tribunais, porque ninguém compreende como um cantão com 4% de católicos praticantes pode despedir um professor por retirar da parede o instrumento de tortura popularizado como símbolo de uma religião. A laicidade, enquanto forma de separar o espaço das crenças e o espaço do ensino, acabará por se impor, mas como sempre através de lutas longas e difíceis.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]