Loading

Mês: Setembro 2010

18 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa repudia afirmações papais

Ao Núncio Apostólico Rino Passigato
Embaixador do Vaticano
[email protected]
Avenida Luís Bívar 18
Lisboa 1069-147 LISBOA

Senhor Núncio Apostólico

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) deplora que Bento XVI, na sua visita ao Reino Unido, tenha criticado o que chama «extremismo ateu» e estabelecido conexões entre o ateísmo e o nazismo.

A AAP não nega ao Papa o direito de condenar o ateísmo mas recusa a falta de verdade do alegado «extremismo ateu» quando é tão condescendente para com o anti-semitismo da Fraternidade Sacerdo-tal São Pio X (FSSPX) que, de excomungada passou a ser uma referência para o regresso ao rito tri-dentino da liturgia católica.

O cardeal alemão Walter Kasper, ex-chefe do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, foi afastado do séquito papal ao acusar o Reino Unido de pertencer ao Terceiro Mundo, irritado com o seu carácter secular e pluralista, ao ponto de a Cúria ter de se retractar e afirmar tratar-se de uma opinião meramente pessoal.

Quanto à associação entre o ateísmo e o nazismo devia o pontífice lembrar-se de quem ofereceu a Hitler os certificados de baptismo para mais facilmente identificar os judeus em vez de lançar lama sobre quem não acredita em Deus.

A carga emotiva, que o nazismo justamente desperta, torna mais grave a difamação dos ateus quando o chefe da Igreja católica insinua que foi o ateísmo que conduziu ao crime os nazis.

Não sendo os ateus prosélitos, não deixam de ser irónicas as acusações de quem deseja converter o mundo ao deus da Igreja católica.

Assim, a AAP solicita ao Sr. Núncio Apostólico que transmita ao Vaticano a profunda indignação e revolta com as afirmações caluniosas de Bento XVI a respeito do ateísmo.

Apresentamos-lhe, senhor Núncio Apostólico, os nossos cumprimentos.

Associação Ateísta Portuguesa, 18 de Setembro de 2010

18 de Setembro, 2010 Luís Grave Rodrigues

Adolph Hitler – Joseph Ratzinger: O Mesmo Combate!

 

 O Papa Bento XVI está de visita ao Reino Unido.

Mal chegou, o líder da Igreja Católica, pôs-se a arengar contra o ateísmo logo no primeiro discurso que fez à sua colega, a prestimosa líder da Igreja Anglicana, também conhecida como Rainha Isabel II.

 

É sempre curioso que o Papa dedique boa parte do seu tempo de pregação e de proselitismo a falar do ateísmo.

Deve ter qualquer coisa lá dentro que o mói…

Mas o que é mais curioso, é que, desta vez, o Papa lembrou-se de fazer uma associação entre o nazismo e o ateísmo.

E diz ele a certa altura do seu discurso:

 

«Ainda em tempo das nossas próprias vidas, podemos recordar como a Grã Bretanha e os seus lideres se opuseram à tirania Nazi que pretendia erradicar Deus da sociedade e a tantos negar a nossa humanidade comum, especialmente aos Judeus, que foram considerados indignos de viver.

«Também recordo a atitude desse regime face a pastores e religiosos cristãos, que falavam de verdade e de amor, e se opuseram aos Nazis e pagaram essa oposição com as suas vidas.

«Ao reflectirmos nos ensinamentos do extremismo ateu do século XX, nunca esqueçamos como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz necessariamente a uma visão truncada do homem e da sociedade e, assim, a uma visão redutora do ser humano e do seu destino».

 

Pois bem:

Curiosidades à parte, o que é absolutamente triste e completamente desonesto da parte deste facínora alcunhado de Bento XVI, é que ele bem sabe que Adolph Hitler era um fervoroso católico e que o infernal regime de terror que fez imperar durante mais de 12 anos por toda a Europa foi inspirado no misticismo cristão e principalmente na mitologia católica.

 

Não esqueçamos que é logo no Evangelho de Mateus (27:25) que encontramos a primeira sentença de morte aos judeus, e que tão bem tem sido obedecida pelos católicos em pogroms e autos de fé ao longo dos últimos dois mil anos:

 

E se o Papa Bento XVI pretende falar do Nazismo à Rainha de Inglaterra, era bom que tivesse a hombridade e a dignidade de lhe fazer também algumas citações do próprio Adolph Hitler.

 

Podemos encontrar no «Pharyngula» mais de meia centena dessas citações, de que respigamos aqui apenas três:

«Acredito hoje que tenho vindo a actuar de acordo com o Criador Todo-Poderoso; ao atacar os judeus estou a lutar pela obra do Senhor»

«Este nosso mundo humano seria inconcebível sem a existência prática de uma crença religiosa»

«Eu sou agora, como sempre fui e sempre serei, um católico»

 

O que isto quer dizer é que, pelos vistos, o Papa Bento XVI e Adolph Hitler sempre têm algo em comum:

– São ambos católicos.

 

E assim, quanto à honestidade, à dignidade e à ética deste Papa, estamos pois conversados.

17 de Setembro, 2010 Ricardo Alves

Hitler e a ICAR

Tradução

«Porque é um católico obrigado a votar na lista parlamentar de Adolf Hitler? Porque no estado Nacional Socialista intrinsecamente e através da Reich-Concordata

  1. A Fé é protegida,
  2. a paz com a Igreja está assegurada,
  3. a moralidade pública é preservada,
  4. o Domingo é permitido,
  5. as escolas Católicas são mantidas,
  6. a consciência Católica não é dificultada,
  7. um Católico tem direitos iguais perante a lei e na vida da nação,
  8. as organizações e associações Católicas, enquanto servem fins exclusivamente religiosos, caritativos e culturais, podem trabalhar livremente.

Portanto um Católico é obrigado a votar no dia 12 de Novembro [1933]

Referendo: Sim

Eleição parlamentar: Adolf Hitler»

Fonte: National Secular Society

Nota: trata-se da primeira eleição em que apenas se apresentaram candidatos nazis (o referendo era para sair da Sociedade das Nações), e que foi ganha com 92%.

Comentário: estes nazis são os mesmos que Ratzinger acusou ontem de «[desejarem] erradicar Deus da sociedade». E levaram-no a sério.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

17 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

O papa, o nazismo e o ateísmo

Desprezo o Papa, todos os papas, com a mesma intensidade com que a Aura Miguel e o João César das Neves amam este ou qualquer outro. Mas uma coisa são estados de alma e outra os factos.

Sou incapaz de desejar a alguém o que a ICAR fez a judeus, bruxas, hereges e a todos os que contrariassem os seus interesses. Não vou remexer nos crimes que desde Paulo de Tarso e Constantino se cometeram em nome de um judeu que dizem ter morrido pela salvação do mundo e nem a si próprio conseguiu salvar-se. É hoje uma referência para as multinacionais da fé que vivem da sua alegada divindade como os homeopatas do valor terapêutico das mezinhas.

O que um ateu não pode consentir é que o ex-inquisidor compare o ateísmo ao nazismo, esquecendo que a sua Igreja já excomungou o ateísmo, o comunismo, a democracia, a liberdade e o livre-pensamento e nunca o fez ao nazismo ou ao fascismo. O próprio Estado do Vaticano, a última ditadura europeia, foi obra de Benito Mussolini que, entre outras manifestações de tolerância, tornou o ensino da religião católica obrigatório nas escolas públicas.

Uma Igreja que apoiou Franco, Pinochet, Mussolini, Salazar, Videla, Somoza e o padre Tiso perde autoridade para condenar sinistros assassinos  como Estaline, Mao,  Pol Pot,  Ceauşescu ou Kim Il-sung cuja esquizofrenia sanguinária os levou a cometer crimes em nome de uma crença política e não do ateísmo.

Bento XVI, que foi cúmplice do encobrimento de crimes cometidos pelo seu clero, que mantém o IOR como offshore do Vaticano, que se apoia no Opus Dei, Legionários de Cristo e na seita fascista dos sequazes de monsenhor Lefebvre, não tem autoridade para difamar os ateus a quem a liberdade deve mais do que à sua Igreja.

Pode continuar a canonizar os admiradores de Franco, os colaboradores da CIA e outros defuntos que, em vida, foram pouco recomendáveis. Pode exibir relíquias falsificadas e vender ao mundo os milagres engendrados numa repartição pia mas não pode insultar os ateus sem receber o troco que merece.

16 de Setembro, 2010 Ludwig Krippahl

Equívocos, parte 9.

Para o nono equívoco, o Alfredo escolheu «a negação do carácter inspirado da Bíblia»(1). E volta a insistir que «Os ateus contemporâneos […] pressupõem não apenas que a Bíblia contém explicações de carácter científico sobre o modo como funciona a natureza, como também que estas passagens devem ser interpretadas da forma mais estritamente literal. Aliam-se, desta forma aos fundamentalistas cristãos mais radicais como são os criacionistas.» Não é bem assim.

Os criacionistas defendem que tudo o que está escrito na Bíblia é verdade e que boa parte é cientificamente relevante. Os ateus defendem o contrário, que o que está escrito na Bíblia exprime muitas ideias erradas acerca da natureza e da origem do universo e que, cientificamente, vale o que se espera de mitos tribais com dois milénios. Onde concordamos é apenas no significado da expressão “o que está escrito na Bíblia”, porque sem concordar com o objecto da discussão nem sequer poderíamos discordar do resto. E o significado dessa expressão é consensual. “O que está escrito” num texto é o que se percebe da intenção do autor. O próprio Alfredo lê (quase todos) os textos assim. E por isso pode discordar do que eu escrevo sem ter de esperar dois mil anos pela hermenêutica adequada dos meus posts.

Os autores do Génesis, do Êxodo, e de outros livros da Bíblia, não tencionaram escrever só metáforas. Tentaram a transmitir as ideias que tinham acerca da origem do universo e da história do seu povo. E mesmo interpretando-as como metáforas ficam muito longe da realidade. Deus criou os céus e a Terra e depois fez luz. Criou cada animal segundo a sua espécie e matou tudo num dilúvio, excepto uns poucos exemplares. Isto não tem nada que ver com que sabemos da formação do sistema solar, da origem das outras espécies e da evolução da nossa. Se são metáforas, falta saber de quê.

E o Alfredo contradiz as suas crenças quando afirma que «de acordo com uma actualizada leitura bíblica» a Bíblia não «contém verdades científicas». Porque segundo a religião do Alfredo a Bíblia descreve coisas como a paternidade de Jesus, a virgindade de Maria e a ressurreição, que estão claramente no domínio científico. Os cristãos não defendem que Jesus ressuscitou metaforicamente, que Maria só era “virgem” em sentido figurado e que “Espírito Santo” era uma referência poética ao jovem bem parecido que vivia na rua seguinte. Além disso, uma boa parte do Novo Testamento é lida como um registo histórico, e o estudo da história faz parte da ciência. Quer queiram quer não, a “actualizada leitura bíblica” interpreta uma boa parte da Bíblia como sendo ciência. Diferem dos criacionistas apenas na escolha da parte que interpretam assim.

Por isso, apesar do que alega, o Alfredo não exclui da Bíblia afirmações científicas. O que faz é reinterpretar o que for preciso para que não se possa confrontar o que lá está escrito com fontes independentes. E esta batota cria uma contradição ainda mais fundamental. O Alfredo defende que o seu deus inspirou os autores da Bíblia a revelar uma mensagem divina. Mas, ao mesmo tempo, defende que esses autores divinamente inspirados estavam completamente enganados acerca da mensagem que transmitiam, e que só os hermeneutas de hoje a compreendem. Pior ainda, o que propõe é que as únicas partes da Bíblia que podemos considerar literalmente verdade são aquelas cuja verdade não podemos confirmar fora da Bíblia. O que retira, logo à partida, qualquer possibilidade de fundamentar esta hipótese. Porque antes de considerar um texto como uma verdade revelada por um deus, no mínimo temos de poder aferir se o que está lá é verdade ou não.

Daí a necessidade do equívoco do Alfredo, um equívoco comum na apologética. Diz que o meu ateísmo erra pela «negação do carácter inspirado da Bíblia». Como diz que eu nego Deus ou que nego a transubstanciação da hóstia. Mas isto é um equívoco porque não são as coisas em si que eu nego. Para já porque não se pode negar coisas, só proposições. E, além disso, não tenho aqui qualquer inspiração divina, deus ou transubstanciação para “negar”. A única coisa que o Alfredo me dá são as suas afirmações. E é apenas isso que eu nego. São essas hipóteses que rejeito, tal como rejeito as hipóteses de haver deuses ou do criador do universo ter inspirado a Bíblia, o Corão ou o Livro de Mórmon.

Este equívoco é importante porque negar a inspiração divina ou negar um deus com maiúscula parece uma enorme arrogância. Afinal quem sou eu, humano insignificante, para negar o criador do universo ou dizer quem ele pode ou não pode inspirar. Manter este equívoco dá toda a vantagem ao Alfredo. Mas desfazendo-o percebe-se que estou apenas a duvidar do Alfredo. O Alfredo que não é o criador do universo, que não inspira bíblias e que é apenas outro humano como eu. E se o Alfredo diz saber que uns livros escritos há mais de dois milénios foram inspirados pelo deus criador do universo, faz todo o sentido pedir ao Alfredo que fundamente devidamente essa afirmação extraordinária. E se vier com interpretações, reinterpretações e desculpas para não se poder testar o que lá está escrito, então é caso para dizer ao Alfredo desculpa lá, mas isso soa-me a treta.

1- Alfredo Dinis, Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo

Em simultâneo no Que Treta!

16 de Setembro, 2010 Ricardo Alves

Woody Allen

  • «Para mim (…) não há diferença real entre uma vidente ou um bolinho da sorte chinês e qualquer uma das religiões organizadas. É tudo igualmente válido ou inválido, na realidade. E igualmente útil.» (Woody Allen, 14/9/2010)