O Regresso de Deus
Uma das piores coisas neste mundo, é a construção de ilusões, elas conduzem ao auto-engano. Que o digam os políticos, que o digamos nós. O papa polaco e o seu mentor Joseph Ratzinger, elucidaram-nos respectivamente às “ilusões” da Igreja.
A especulação teológica ao serviço da fé pode entregar-se a todo o tipo de “jogos semânticos”, abusando da interpretação simbólica. O magistério da “infalibilidade” está aí, mas sabemos que quando tentamos passar da retórica aos factos concretos, os falsos concordismos da teologia caem por terra.
A natureza híbrida e contraditória dos dogmas eclesiásticos, permite amplas ambiguidades. Mas tanto na esfera das “definições” como das “condutas”, existem limites inultrapassáveis, – se o catolicismo não quiser desaparecer. Chega uma altura em que as decisões sobre o divórcio, contracepção, homossexualidade, onanismo, feminismo, conflitos de classes, estrutura hierárquica e outras questões mais ou menos graves se impõem, e estas não admitem ambiguidades, se se quer uma moral despida de dogmas.
Os chamados “cristão progressistas”, confrontados dia atrás dia, com os avanços da ciência – onde incluímos a investigação histórica -, foram perdendo a sua fé nos dogmas. Os mais audazes não tiveram dúvidas em reduzir a sua fé pessoal a uma mera crença num Jesus divino. Naturalmente que isto equivale a anular a especificidade do “mistério cristão” tal como foi produzido pela literatura neotestamentária – com as suas incongruências e contradições formalizadas desde o início do século II. Equivale por conseguinte a suprimir praticamente a “exclusividade” da verdade cristã. Não deve surpreender-nos portanto, que desde as dramáticas “vacilações” de Paulo VI até à tentativa de “restauração” de Paulo II; a Igreja tenha reagido violentamente contra um certo risco de dissolução.
Surgem assim os integrismos cristãos, que por razões óbvias criticam os valores da Ilustração e escolhem para inimigo o Humanismo Secular. Eles promovem e financiam correntes de pensamento que favorecem formas de autoritarismo, de emotivismo, de irracionalismo e alienação, que dissolvem os postulados da crítica racional. Tenta associar-se o “regresso de Deus” com a restauração neoconservadora de “obediência social”.
A verdade é que essas formas de pensamento têm como objectivo instalar ou reinstalar progressivamente, regimes de carácter Teocrático; com Deus e a Igreja no cume, com a tradicional concepção anti-democrática, autoritária e tradicionalista, rigidamente hierarquizada. A isto eles chamam pomposamente de; “novas formas de socialização”.
O “regresso de Deus” resulta assim, num fundamentalismo integrista que se limita a equipar a consciência íntima do explorado com os instrumentos psicológicos necessários para “forjar” uma “falsa” liberdade de consciência que lhe permita adaptar-se à ordem e disciplina estabelecida.
Um desses movimentos integrista/fundamentalista, é o Opus Dei, organização em que resultam patentes as afinidades entre o tradicionalismo integrista e a doutrina e prática social de vocação capitalista.