26 de Maio, 2010 Carlos Esperança
Itália – A ponta do icebergue
Segundo dados divulgados no encontro, foram registados 100 casos nos últimos 10 anos que necessitaram de julgamentos da Igreja ou outros procedimentos canónicos.
Segundo dados divulgados no encontro, foram registados 100 casos nos últimos 10 anos que necessitaram de julgamentos da Igreja ou outros procedimentos canónicos.
O papa Bento XVI pediu hoje para todos os católicos rezarem para que ele saiba governar a Igreja Católica e cuidar da comunidade de fiéis, ao discursar durante a audiência geral desta quarta-feira no Vaticano.
a) Antes de mais, sinteticamente, que é a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) e quais os seus objectivos?
RE: A AAP é um conjunto de homens e mulheres organizados para melhor defenderem os interesses comuns aos ateus, cépticos, racionalistas e a todos os livres-pensadores, pessoas que não necessitam de deus por serem capazes de viver com normalidade, sem medo do Inferno ou angústia do Paraíso.
Somos pessoas que damos valor à nossa vida e à dos outros, que cultivamos a razão e confiamos no método científico para construir modelos da realidade. Não remetemos as questões do bem e do mal para seres incertos nem para a esperança de uma existência após a morte.
São objectivos da AAP combater o obscurantismo, defender a laicidade e mostrar o mérito do ateísmo enquanto premissa de uma filosofia ética e enquanto mundividência válida, sabendo que o ser humano é capaz de uma existência ética plena sem especular acerca do sobrenatural, e que todas as evidências indicam que nenhum deus é real.
b) Ser-se ateu é ser anti-religioso?
Os ateus não são necessariamente anti-religiosos apesar da sanha irracional das Igrejas contra o ateísmo. A AAP defende a liberdade religiosa como direito reconhecido na Declaração Universal dos Direitos do Homem, declaração que os seus sócios prezam e subscrevem. Defendemos de igual modo o direito à crença, à descrença e à anti-crença.
Há, no entanto, uma diferença a estabelecer: um ateu não é contra os crentes mas contra as crenças que colidem com as normas morais que são apanágio da modernidade e da civilização. Os monoteísmos veneram um deus patriarcal e tribal que aceita a escravatura, a venda das filhas e outras coisas tão repugnantes como a morte de quem coma moluscos (Levítico 11:10) ou de quem trabalhe ao 7.º dia (Êxodo 31:15).
Vejamos mais alguns exemplos bíblicos: qual é o castigo para quem invoque o nome de Deus em vão? (Levítico 24:16); e o castigo para o adultério? (Levítico 20:10); e para a homossexualidade? (Levítico 18:22). O castigo é invariavelmente a morte, mas é lícito vender uma filha como escrava: (Êxodo 21:7) e possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que comprados em nações vizinhas (Levítico 25:44).
Um ateu é contra as determinações bárbaras e não contra quem acredita que satisfazem a vontade do seu deus. Felizmente, muitos crentes ignoram ou simplesmente desprezam esses livros pouco recomendáveis que o deus abraâmico inspirou.
Claro que combatemos o proselitismo e a violência sectária. Lembramos que a Igreja católica fez em 13 de Maio de 2008 a peregrinação a Fátima «contra o ateísmo» e, pouco depois, o patriarca Policarpo definiu o ateísmo como a «maior tragédia do nosso tempo», tragédia, pelos vistos, maior do que a fome, a guerra, as doenças e as catástrofes naturais.
c) Têm-se pronunciado sobre a religião católica, mas as criticas que fazem estendem-se a todas as correntes religiosas?
RE: Cada religião diz que é falso o deus de todas as outras e certamente com razão. Nós apenas negamos mais um, o que, no fundo, faz de todos nós ateus.
As críticas do ateísmo são comuns a todas as religiões. Criticamos o budismo cuja compaixão se estende às plantas e aos mais insignificantes animais mas não consegue conter as rivalidades entre os conventos nem impedir o obscurantismo, a tirania e a crueldade dos seus monges no Tibete. E a sua fé não é alheia ao subdesenvolvimento social e económico que oprime os países onde é praticada.
Criticamos os hindus que reclamam as liberdades individuais como apanágio da sua crença e se calam em relação à escravatura que ainda praticam dentro ou fora das castas, quanto à própria existência de castas e aos hábitos de opressão que persistem defendidos nos seus textos.
Mas criticamos sobretudo, pela proximidade, os três monoteísmos. O deus do Antigo Testamento, violento, vingativo, misógino e homofóbico, é comum às três religiões do livro. É o deus criado pelas sociedades patriarcais e tribais de há seis mil anos.
Hoje é o Islão que lidera a violência e a misoginia, que aterroriza para se impor, que considera grande o seu deus e Maomé o único profeta. O Islão é uma cópia grosseira do cristianismo, que não foi impregnado pela cultura helénica e não sofreu a influência do direito romano. É a religião que vigora principalmente no mundo árabe onde apoia uma civilização fracassada e ameaça a paz.
Mas não esquecemos o sionismo, lepra do judaísmo, nem o protestantismo evangélico, nem o catolicismo romano do Opus Dei, dos legionários de Cristo e dos recentemente reabilitados bispos e padres ordenados pelo bispo Lefebvre, anti-semitas, reaccionários e fascistas .
d) Encontram diferenças entre fé e religião, entre crença e igreja?
Claro que há diferenças entre fé/crença e religião/Igreja. A fé não nasce com as pessoas, é incutida no seio das famílias e das sociedades para preservarem os valores herdados e interesses instalados. A fé é sempre orientada para a religião dominante. Já a religião é um sistema de poder que precisa da obediência para sobreviver. Por isso as Igrejas usam a violência para se imporem e se, no Ocidente, se conformam hoje com a democracia é porque a repressão política as submeteu.
e) Qual o papel que deveria ter a religião na sociedade?
A religião deveria pertencer ao foro privado e deixar de impor os seus valores fora das comunidades de crentes, com absoluto respeito pela legislação dos países livres e pela autodeterminação religiosa dos seus fiéis. A apostasia só é crime para as Igrejas. Constitui, aliás, um direito inalienável de cidadania.
f) A ciência como instrumento de compreensão da sociedade não é ela em si mesmo uma fé?
Não. A ciência vive da dúvida e baseia-se em factos. Evolui à medida que novos dados são conhecidos e nunca consagra como verdadeira uma experiência que não possa ser repetida. Já a religião tem dificuldade em adaptar-se à modernidade e à civilização porque é atribuída a um deus que nunca falou mas que tem guardiões que zelam pela vontade que lhe atribuem.
g) Como justificam a atitude do Estado, aos diversos níveis, perante a Igreja? E como deveria ser de facto?
A atitude do Estado português tem sido de conivência com a Igreja católica deixando-a penetrar nos hospitais, prisões e Forças Armadas através de capelães que reconhece e remunera de acordo com a Concordata e a lei da liberdade religiosa feitas à medida da religião católica.
O Estado devia declarar-se incompetente em matéria religiosa e observar uma absoluta neutralidade em questões de fé. É, aliás, a isso que o obriga a Constituição da República Portuguesa. Falta, todavia, pudor republicano aos seus mais altos dignitários.
h) O facto de haver milhares de pessoas que dizem acreditar num Deus, não é em si mesmo sinal do fracasso da ciência?
Mesmo que acreditem não há diferença entre a maioria que hoje crê em Deus e a totalidade que acreditava que o Sol girava à volta da Terra. Não é por acaso que Lutero dizia: «Quem quiser ser cristão tem de arrancar os olhos à sua própria razão».
i) Sentem que ser-se ateu, nos dias de hoje, provoca algum constrangimento social?
Sinto que a negação de Deus é a mãe de todas as negações provocando um ódio fanático nos que não se contentam em cuidar da própria «alma» e querem igialmente obrigar os que não crêem a «salvar» a sua.
Como Bertrand Russell, estou tão firmemente convencido da nocividade das religiões como estou da sua falsidade. (in Porque não sou cristão – Brasília Editora – Porto).
* Entrevista concedida ao jornalista Carlos Cardoso
Por
C S F
As notícias sobre o fim do limbo são excessivamente optimistas. A Comissão Teológica Internacional da Congregação para a Doutrina da Fé publicou o documento , com o fabuloso título A Esperança da Salvação para as Crianças que Morrem sem Baptismo, após três anos de pesquisa e uma reunião entre o actual responsável, o cardeal Levada, e o seu antecessor, Ratzinger, o actual Papa.
O documento está acessível num site do Vaticano (Catholic News Service) por cinco dólares a cópia. Não sei se alguém o leu, incluindo António Marujo, o jornalista do Público que ontem escreve sobre o assunto, citando apenas extractos disponíveis na página da citada CNS. Parece que os trinta membros da Comissão tiveram ” em conta a superabundância da graça de Deus sobre o pecado original”, e esta graça pareceu-lhes ” omissa na ideia de limbo”. Mas a conclusão final é surpreendentemente humilde:
“Deve reconhecer-se claramente que a Igreja não tem um conhecimento seguro sobre a salvação das crianças que morrem sem ser baptizadas.”
A Igreja não tem ideias seguras. Devemos reconhecê-lo claramente. Ainda não é desta que as almas do Limbo se livram do pecado original e verão a face de Deus.
Homens mascarados atacaram um acampamento para crianças da ONU em Gaza neste domingo, 23, após militantes na faixa terem acusado a organização de promover a imoralidade no enclave controlado pelo conservador grupo islâmico Hamas.
Micolaj Kopernik, mais conhecido por Nicolás Copérnico [ou “Copernico” – sem acentuação – como pronunciou Cavaco Silva de visita à Polónia], foi um astrónomo polaco, grande impulsionador da teoria heliocêntrica, tendo influenciado de modo determinante a Astronomia no séc. XVI – é considerado o “pai” da Astronomia moderna – com a publicação da obra “De Revolutionibus Orbium Coelestium” […Sobre as revoluções dos corpos celestes ].
Esta obra científica viria a inspirar um outro grande vulto da Astronomia, Galileu Galilei, que – um século mais tarde – desenvolveu a concepção heliocêntrica do Universo, baseando-se nas teorias de Copérnico.
Na verdade, a concepção heliocêntrica defendida no livro de Copérnico é muito antiga. Remonta ao séc. III aC (Aristarco de Samos ) que apesar de não a referir expressamente, causou escândalo nos meios filosóficos, sendo acusado de “impiedade” [qualidade do que é ímpio] por Cleanto, um filósofo estoicista.
Vários séculos após, i.e., no século XVI, a ICAR [ainda] defendia a “teoria geocêntrica”, derivada de enviesadas interpretações bíblicas, da assimilação de concepções aristotélicas e da consagração do modelo ptolomaico do sistema solar.
De facto, a teoria geocêntrica servia a concepção universalista do poder emanado de Roma, sendo um sustentáculo para a afirmação do poder papal. O centro do Universo seria a Terra [onde os papas pontificavam] e tudo girava à sua volta.
Copérnico, conhecedor da ortodoxia científica e da rigidez doutrinária da ICAR [além de astrónomo tinha formação clerical], e dos vastos poderes inquisitórios, só publicou o seu livro quando sentiu aproximar-se o fim da sua vida [1543].
Aliás, as suas cautelas em relação à proverbial senda persecutória da ICAR a tudo o que é inovador levaram-no a tomar insólitas atitudes, por exemplo, recusar o convite da Igreja com vista à elaboração de um novo calendário com a escusa de ser um ignorante do movimento dos astros, quando dedicava grande parte do seu tempo em observações e cálculos astronômicos …
Estas atitudes e escusas evitaram a sua perseguição directa já que pertencendo às “famílias clericais tradicionais” [órfão aos 10 anos foi educado por um tio bispo], desempenhou, paralelamente à sua actividade cientifica, funções eclesiásticas na qualidade de cónego. Por outro lado, mesmo na época das trevas, era incómodo perseguir um morto…
Na verdade, a primeira reacção da Igreja Católica – ao contrário do Copérnico esperava – teria sido um misto de surpresa e curiosidade. A alta hierarquia religiosa, dominada pela influência da Companhia de Jesus [jesuítas], chegou a insinuar a Copérnico que desenvolvesse as suas novas ideias…
Claro, que esse desejo de desenvolvimento manifestado pela ICAR não passava de uma pura mistificação. Pouco tempo depois de publicar “De Revolutionibus Orbium Coelestium”, fruto de decénios de investigação pessoal, mantida em silêncio, Copérnico falecia [dois anos antes do Concílio de Trento].
Passado um século, Galileu Galilei, um brilhante astrónomo que divulgou e desenvolveu a teoria heliocêntrica de Copérnico e simultaneamente, um homem profundamente religioso, pagou, à ortodoxia religiosa, esta factura [adiada].
Galileu, foi investigado por um tribunal presidido pelo cardeal Roberto Francisco Belarmino [jesuíta], homem culto e moderado que evitou as mais drásticas consequências [a fogueira].
Aliás este cardeal, posteriormente tornado santo, tem um percurso eclesiástico, no mínimo curioso. No seguimento da morte do papa Paulo V, realizou-se em 1621 o conclave para a eleição do seu sucessor. O colégio cardinalício era dominado pelos chamados “cardeais sobrinhos”, i.e., familiares do papa em exercício nomeados cardeais. O cardeal Borghese, sobrinho de Paulo V, seria o homem que escolheria o próximo papa, tendo indicado para o cargo o cardeal Campori. Estava seguro desta sucessão já que tinha “arrebanhado” 29 cardeais nomeados pelo seu tio [Paulo V, um borghese]. O conclave não correu bem e os arregimentados purpurados mudaram de opinião, não concretizando os combinados acordos. Seguiu-se o escrutínio e o acima citado cardeal Roberto Francisco Belarmino obteve o maior número de votos [como aliás já tinha sucedido no anterior conclave de 1605 que pôs termo ao domínio da família Médici e catapultou os Borghese na posse da tiara pontifícia].
O cardeal Roberto Francisco Belarmino, na altura com 78 anos, recusou a dignidade papal, dando origem à posterior eleição de um papa de transição, um idoso e doente cardeal que tomou o nome de Gregório XV. À luz da doutrina religiosa não se entende como pode um cardeal rejeitar a iluminada intervenção do “divino Espírito Santo”, teologicamente responsável pelas escolhas do sacro colégio cardinalício. Desconheço se esta bizarra situação é um caso único ou se existem outros precedentes.
Depois desta deriva, voltemos às concepções heliocêntricas do Universo.
Em 1615 o Tribunal do Santo Ofício declara o heliocentrismo herético e a teoria de que a Terra se move “teologicamente errada”.
Galileu é condenado à prisão domiciliar perpétua, mas a reacção da cúria romana não fica por aí.
Os livros de Galileu entram para o Index Librorum Prohibitorum e, passado um século após a sua publicação, o livro de Copérnico [“De Revolutionibus Orbium Coelestium”] é repescado e tem o mesmo destino.
Em 1623, um novo conclave elegeu Urbano VIII, um amigo pessoal de Galileu. Este papa concede a graça [uma piedosa oportunidade] ao astrónomo de Pisa, no sentido de este escrever uma obra onde dissertaria sobre as suas teorias.
Galileu escreve, então, o livro “Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo” onde confronta os 2 sistemas: Ptolemaico e Coperniciano.
Esta publicação tem o condão de irritar profundamente o papa que se sente ofendido. Em consequência, a “santa” Inquisição, julga e condena Galileu a abjurar publicamente suas opiniões… etc. [segue-se a conhecida saga de Galileu na defesa da verdade científica …].
Em pleno séc. XX a Igreja católica retratou-se de alguns dos danos que causou à Humanidade com as suas “verdades teológicas”. Galileu foi um dos visados nessa pretensa reconciliação com a Ciência.
Desconheço se Copérnico também foi objecto de algum pedido de desculpas oriundo do Vaticano.
Todavia, neste mês de Maio e no ano da graça de 2010, a ICAR decicdiu homenageá-lo e, Copérnico, foi transladado da tumba rasa no pavimento da catedral de Fromborg – depois dos seus restos mortais serem confirmados por análises de ADN – para um elaborado e faraónico sepulcro [em granito negro e duas toneladas de peso], colocado em lugar de destaque no referido templo [sob o altar-mor].
Essa cerimónia foi presidida pelo representante do papa na Polónia, arcebispo Jozef Kowalczyk, que oficiou uma imponente cerimónia religiosa.
Enfim, um homem da ciência que no passado foi considerado, pela mesma Igreja [que hoje oportunisticamente o homenageia], um herege, embuído de satânicas ideias revolucionárias…
A evidência da mais pura hipocrisia e o testemunho histórico de uma incontornável e farisaica falsidade.
O Mundo assistiu atónito a mais esta manobra da ICAR. Será sempre assim no seio desta milenar instituição.
Per omnia saecula saeculorum…
Pela primeira vez em Itália, uma mulher foi, ontem, sábado, ordenada numa igreja do centro histórico de Roma, apenas a centenas de metros do Vaticano que, apesar de afectado por uma crise de vocações, nega o acesso das mulheres ao sacerdócio.
A nova sacerdotisa, Maria Vittoria Longhitano, uma italiana de 35 anos, casada e mãe de duas crianças, pertence à Igreja Vetero Católica Italiana, uma pequena congregação que abandonou o catolicismo romano no século XIX e juntou-se à União de Utreque, estreitamente ligada à Igreja Anglicana.
No passado dia 20 houve um debate sobre «Religião e Ateísmo», organizado pelos alunos da Faculdade de Medicina do Porto, entre Ludwig Krippahl, da Associação Ateísta Portuguesa e o padre da ICAR, José Nuno, moderado pelo jornalista Carlos Magno.
O referido padre afirmou que «os maiores genocídios do século XX foram perpetrados por ideólogos ateístas: nazis e comunistas.
«Como a memória eclesiástica é selectiva, deixo aqui um trecho da conferência que, no dia seguinte, fiz em Lisboa, no Auditório da Biblioteca-Museu República e Resistência e que refere o nazismo:
A religião alimentou a guerra da ex-Jugoslávia e foi o rastilho de ódios que o mosaico étnico e a conivência externa ajudaram a deflagrar. No Kosovo esteve em curso um genocídio dos sérvios ortodoxos sobre sérvios e albaneses islamizados a que a ONU teve de pôr cobro.
A Croácia cometeu, uma vez mais, horrores contra os sérvios, católicos contra ortodoxos, esquecida do passado nazi, na década de 40, em que o Estado fantoche de Ante Pavelic, apoiado pelo Vaticano, quis exterminar todos os judeus e levou a cabo uma campanha de conversão forçada dos cristãos ortodoxos. O seu partido Ustashe era tão repugnante que muitos oficiais alemães protestaram, envergonhados por serem obrigados a associar-se a ele.
O nazismo, sendo um fenómeno de natureza secular, não teria levado tão longe a sua loucura genocida se o cristianismo (católicos e protestantes) não tivesse envenenado os crentes com as concepções anti-semitas que os moldaram. Quando o Terceiro Reich iniciou a vasta e metódica aniquilação dos judeus logo surgiram progroms anti-semitas na Polónia, Roménia, Hungria, Áustria, Checoslováquia, Croácia e outros países. Mas já em 1919, por exemplo, tinham sido mortos 60 mil judeus só na Ucrânia e o nazismo estava longe de ser a religião oficial do Terceiro Reich. Isto para não recordar o carácter anti-semita do concílio de Trento e da Inquisição. De algum modo os nazis foram agentes da teologia cristã para a qual os judeus são ainda piores do que simples hereges; são hereges que repudiam explicitamente a divindade de Jesus e foram autores do deicídio. O próprio Hitler, ao usar a expressão «ninho de víboras», para os judeus, tanto a pode ter ido buscar directamente ao Evangelho de Mateus (3:7) ou a Lutero, que decerto a bebeu aí, mas o anti-semitismo não pode ser alheio à educação católica que recebeu.
Perseguições aos judeus em Espanha com os ataques às judiarias (Toledo, 1355, 12 mil mortos; Palma de Maiorca, 1391, 50 mil mortos; Sevilha, 1391, etc.; com a Inquisição (1478) milhares deles procuraram refúgio em Portugal. Outros, por medo, deixaram-se converter ao catolicismo. Uma perseguição tão cruel levou as judiarias espanholas à miséria, até que em 1492 foi declarada a expulsão dos judeus da Espanha.
Em Portugal, o anti-judaísmo provocou a revolta popular contra os cristãos-novos e os judeus ocorrida em Abril de 1506 – o infame Progrom de Lisboa. A superstição agravou o medo da peste que grassava na cidade e as dúvidas de um judeu em relação ao suposto milagre desencadeou uma onda de ódio, estimulada por um frade, que perseguiu, matou espancou e arrastou semi-vivos para as fogueiras que logo se acenderam na Ribeira e no Rossio – um massacre de 4 mil judeus, enquanto dois frades, o português João Mocho e o aragonês Bernardo, um com uma cruz e o outro com um crucifixo erguido, bradavam: Heresia! Heresia!, atiçando o ódio.»
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.