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Mês: Janeiro 2010

14 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

O Papa quer falar connosco

Tenho sempre a agenda bastante preenchida, mas se ele quiser podemos ir beber umas bijecas. Tenho é muito para lhe dizer, se ele me quiser ouvir com a mesma paciência que eu tenho tido para o ouvir.

14 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

O Papa, o casamento gay e a natalidade

B16 - papa medieval

B16 - papa medieval

É surpreendente que o Papa se considere o paladino da procriação quando defende tudo o que se lhe opõe, desde a castidade – de efeitos demolidores –, até ao celibato imposto ao clero e restantes membros das comunidades religiosas, masculinos e femininos.

O chefe do único Estado sem maternidade é contra a reprodução medicamente assistida, a conservação de embriões e os bancos de esperma, numa atitude de pavor perante a possibilidade de a humanidade se esquecer do método tradicional de procriar, apesar de continuar o mais popular.

O papa Bento XVI associa a oposição da Igreja ao casamento gay às preocupações com o meio ambiente, sugerindo que as leis que enfraquecem “as diferenças entre os sexos” são uma ameaça à criação.

O argumento que usa para condenar a descriminalização do aborto (para lá da posição perante a vida, respeitável e de difícil definição quanto ao começo) não esconde a vontade malsã de ver mulheres condenadas ao cárcere para satisfação das suas crenças.

É, aliás, um argumento em que reincide, alheio ao crime que pratica quando condena o uso do preservativo contra a SIDA ou na violência que exerce quando pretende manter grávidas as mulheres violadas, com malformações fetais ou em risco de vida.

Que o Papa divulgue os seus preconceitos e os torne obrigatórios para os crentes do seu deus, é um direito que lhe assiste; que ameace com o Inferno é um problema religioso; mas pretender impor a vontade do deus de que se julga mandatário, é um acto ditatorial a que um país laico não pode nem deve submeter-se. Os radicalismos religiosos estão na moda mas as sociedades têm o dever de se lhes opor.

Os Estados devem preservar o carácter laico e resistir às pressões piedosas de quem gostaria de impor o direito canónico ao Estado de direito.

13 de Janeiro, 2010 Luís Grave Rodrigues

Mas esta gente não aprende?

 

Segundo a «Agência Ecclesia», a Conferência Episcopal Portuguesa considerou que «a aprovação da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo Governo e pelo Parlamento foi uma precipitação e a ausência de um referendo sobre esta matéria abre uma “ferida democrática”».

De facto, esta gente não aprende!

O que diriam estes energúmenos paramentados de palhaços se o Governo ou a Assembleia da República de Portugal decidissem legislar sobre o celibato do clero, sobre a dimensão das hóstias ou sobre os programas dos seminários onde ainda hoje alguns jovens são deformados e autenticamente amestrados de forma a ingressarem no autêntico circo a que chamam Igreja Católica?

Que os padres, os bispos e outros quejandos opinem sobre aquilo que se passa na vida política do país em que vivem, isso obviamente não oferece reparo.
São cidadãos como todos os outros, claro está. Andam por aí vestidinhos de saias e rendinhas a vender a vida eterna por 30 dinheiros, mas, enfim, também são cidadãos de pleno direito.
E ao contrário do que eles próprios defendem, não podem, enquanto cidadãos, ser discriminados nos seus direitos, liberdades e garantias fundamentais.
Deviam talvez falar mais na pedofilia que grassa no seio da organização tenebrosa a que pertencem, mas isso é também outra conversa.

Mas a Conferência Episcopal Portuguesa tem tanto que se meter na vida dos Órgãos de Soberania de um país democrático e laico por imposição constitucional, como eu tenho de interferir na organização daquele teatro ridículo e miserável a que dão o nome de missa.

Ainda por cima aquela cáfila de trogloditas, completamente alucinados e atarantados pelo voto de castidade, unidos pelos seus sentimentos de intolerância, discriminação e homofobia têm o autêntico desplante de falar de “democracia”, um conceito que lhes é tão estranho como o humanismo ou os direitos humanos, ou até mesmo as mais básicas noções de ética e de decência.

Mas em que século é que estes palhaços pensam que ainda vivem?

12 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Ad Domini Latere…

Por

E – Pá

Bento XVI, actual chefe da ICAR, não entendeu o alcance dos acordos de Latrão (1929), que o acantonaram na cidade do Vaticano e salvaguardaram algum património extra-territorial e uma estância de vilegiatura papal.
Na verdade, estes acordos serviram para por fim à “questão romana” que pretendia perpetuar o regime de privilégios advindos do tempo dos Estados Pontifícios, reconhecidos por Pepino (o Breve).
Mas a ICAR sempre foi uma instituição com âmbito mais vasto, com pretensões à Universalidade.

A ICAR, como continua – em todo o Mundo – a desfrutar de um amplo acervo patrimonial, transpõe esse poderio para grande parte dos domínios seculares e leigos e julga-se possuidora de amplos poderes de intervenção, em todas as áreas que influenciam o curso da Humanidade.

Os privilégios, as prebendas e as sinecuras outorgadas por Benito Mussolini, no citado Tratado de Latrão, foram vastas e generosas: reconheceu o catolicismo como religião oficial desse país, instituiu o ensino confessional obrigatório nas escolas italianas, conferiu efeitos civis ao casamento religioso, aboliu o divórcio, proibiu a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina e concedeu numerosas vantagens ao clero.
Apesar disso a ICAR não se cansa de declarar espoliada e tem sempre reivindicações a fazer nesta área…

Mas, grave e intolerável, é a sua constante e perniciosa interferência nos assuntos laicos dos Estados, nomeadamente, na Itália, que foi tão pródiga e perdulária a resolver a famosa “questão romana”…
Mais tarde, em 1978, os termos desse leonino acordo foram reformulados e o catolicismo deixou de ser a religião oficial e, à revelia das pretensões do Vaticano, a Itália tornou-se um Estado laico.
Nesse mesmo ano, as relações do Vaticano com a Itália deterioram-se com a aprovação do divórcio naquele país.
Em 1984, uma nova “revisão” do Tratado de Latrão, aboliu a obrigatoriedade do ensino religioso, que passou a ser oferecido somente a pedido dos pais dos alunos. O Vaticano permaneceu como estado soberano, governado pelo papa e com sede em Roma, que, contudo, perdeu o título de “cidade sagrada”.

E, para abreviar caminho, olhemos para a Itália de hoje, cujo poder se encontra sediado em Roma, sob a batuta de Berlusconi, vigiado de perto pelo ex-cardeal Ratzinger.

Interessa realçar para compreendermos melhor esta nova (velha) “questão dos crucifixos” que, actualmente, varre a Itália, o teor da “concordata” de 1984, com efeitos revogatórios do Tratado de Latrão, abolindo a obrigatoriedade do ensino religioso.

Todavia, a ICAR que é uma especialista na resistência passiva a tudo o que lhe desagrada, conseguiu, através do seu braço político do pós-guerra – o Partido da Democracia Cristã –, manter os crucifixos pendurados nas Escolas.

A recente decisão (03.11.2009) da Corte Europeia de Direitos Humanos, de proibir que as escolas italianas mantenham os crucifixos nas salas de aula, indignou o Governo de Berlusconi, habituado em fazer letra morta das leis nacionais em proveito próprio, quer nas questões materiais (os negócios de Il Cavalieri”), quer nas questões da República, passíveis de obter benesses político e eleitorais.

No que ainda resta do inefável Tratado de Latrão e que foi transcrito para a Constituição italiana de 1947 pode lê-se que estes acordos continuariam vigentes com a condição de que o papa deveria jurar neutralidade eterna (?) em termos políticos. Não me recordo do papa ter feito qualquer juramento neste sentido. O que se tornou público foi a declaração do Vaticano, através do seu porta-voz, Federico Lombardi: “A decisão da corte europeia foi recebida no Vaticano com choque e tristeza”..
Uma clara e intolerável intromissão política numa área sensível. Sabemos que um dos pilares dos Estados Republicanos é a laicidade.

A sentença da Corte Europeia mereceu o repúdio do Governo de Berlusconi que anunciou a intençao de apelar para instâncias superiores. O poder emanado do Vaticano tem longos tentáculos e, por exemplo, Rocco Buttiglione, ex-ministro da Cultura de Berlusconi e co-redactor de encíclicas papais, não teve qualquer rebuço em afirmar: “Essa é uma decisão abominável”…

Para além do problema da laicidade do Estado, entronca-se, nesta questão, a deriva xenófoba do actual governo italiano.
Em, 08.01.2010, o Ministério da Educação italiano, apresentou uma medida – já classificada de racista pela Oposição – determinando quotas para a frequência escolar de crianças estrangeiras. Para a ministra da Educação, Mariastella Gelmini, aquelas não poderão ultrapassar os 30% dos estudantes, em cada sala de aula, a partir de Setembro. A justificação aduzida pela ministra é de um cinismo arrasador: “A escola deve ser um lugar de integração”…!!!

Assim, nas Escolas italianas ficam, por enquanto, os crucifixos e expulsam-se os migrantes estrangeiros, sob o ensurdecedor silêncio do Vaticano…

11 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

A vinda do Papa a Fátima

É grande o alvoroço da Pátria pela visita ,em Maio, de Bento XVI, autocrata que dirige um bairro de Roma, com 44 hectares, a que os acordos de Latrão deram autonomia.

Admira que Benito Mussolini não tenha sido canonizado, depois de ter tornado o ensino da religião católica obrigatório nas escolas italianas, subscrito uma Concordata e sido considerado pela hierarquia religiosa como enviado da Providência.

É um dos casos em que a opinião pública condiciona os milagres que não deixariam de lhe ser adjudicados e que o impede de frequentar as peanhas das igrejas romanas. Mas deixemos a história do fascismo para nos debruçarmos sobre a vinda do Papa Ratzinger a Fátima e sobre o desassossego em que entraram os devotos.

O Papa, que tem a santidade por profissão e estado civil, vem promover a fé, como é seu direito, e apelar à divulgação das suas crenças, como é legítimo em países democráticos, e em que a Igreja está, ou devia estar, separada do Estado.

Que os hotéis se encham de devotos, ansioso por ver o papa, convencidos de que ficam com o Paraíso mais próximo, é óptimo para o País e excelente para a fé romana.

O pior é se os mais altos dignitários do País se genuflectem, se lhe prestam vassalagem e envergonham o País com manifestações pias que não respeitem o carácter laico do Estado que representam.

Uma coisa é a urbanidade com que deve ser recebido, outra é a forma como se devem comportar as autoridades de um país que há muito deixou de ser um protectorado do Vaticano. Veremos se as primeiras figuras do Estado se comportam de acordo com a ética republicana.

10 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Factos & documentos

Por

P P

ACTOS SOBRE A RELIGIOSIDADE DE HITLER, DO REGIME NAZI E DO POVO ALEMÃO

1 – As fivelas dos nazis ostentavam a inscrição: “Gott mit uns”.

2 – Hitler nasceu no seio de uma família católica e frequentou igrejas e escolas católicas durante a infância e juventude. A sua mãe, que exerceu grande influência sobre ele, era profundamente católica.

3 – Hitler nunca renunciou formalmente ao seu catolicismo e há indícios de que se manteve religioso ao longo da vida. Se não era católico, parece pelo menos ter mantido uma crença num qualquer tipo de providência divina. Em Mein Kampf, por exemplo, escreveu que, quando soube da notícia da declaração da Primeira Guerra Mundial, “caí de joelhos e agradeci ao céu do fundo do coração pela graça de me ser permitido viver num tempo assim”. (Hitler tinha, então, 25 anos).

4 – Em 1920, quando Hitler tinha 31 anos, Rudolf Hess, seu colaborador próximo e mais tarde vice-Fuhrer, escreveu numa carta ao primeiro-ministro da Baviera: “Conheço pessoalmente muito bem Herr Hitler e sou muito próximo dele. É um homem de um temperamento invulgarmente honrado, imbuído de uma profunda bondade, é religioso, um bom católico”.

9 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Casamento gay

Um espinho na garganta da ICAR

Um espinho na garganta da ICAR

A aprovação da proposta de lei do Governo que torna legal o casamento entre homossexuais não teve destaque apenas em Portugal, fez manchetes em jornais de vários países e foi notícia em todo o mundo.

O respeito pela orientação sexual das minorias e o fim da discriminação de uma minoria tradicionalmente perseguida e humilhada é um salto civilizacional que honra Portugal e dignifica a Assembleia da República.

O que não tem sido referido é a humilhação da ICAR. Esta empenhou o seu clero e os crentes numa cruzada homofóbica que começou nas homilias durante a campanha das legislativas, aconselhando a que não votassem nos partidos que eram contra a família – eufemismo com que designam as concepções diferentes – e que acabou num irritado abaixo-assinado a pedir um referendo.

O Antigo Testamento e os três monoteísmos, que dele se reclamam, consideram a homossexualidade uma abominação punível com a morte. Vários estados criminalizam  ainda a sodomia praticada entre adultos e não podemos esquecer o que sofreram gerações de homossexuais com a homofobia pia e com a repressão social dominada pelos valores da Igreja.

Os tempos mudam e os que se julgam intérpretes da vontade de um deus que os homens criaram para seu benefício, mantêm-se inflexíveis na luta contra os direitos individuais, no horror ao prazer e no desprezo pela liberdade.

Por isso, para além da vitória histórica pelos direitos individuais, é consolador verificar a humilhante derrota da Igreja e da legião de beatos que não poupou ave-marias e salve-rainhas com a utilidade que se viu.

7 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

Câmara de Coimbra de joelhos

O Diário de Coimbra informou os seus leitores de que a edição “fac-similada” da bula “Manifestis Probatum” será entregue ao Papa, no próximo mês de Maio, quando Sua Santidade visitar Portugal.

Os munícipes acreditam que o pio presidente da Câmara e os vereadores em exercício estejam carregados de pecados, sobretudo Carlos Encarnação que já vai no terceiro mandato, mas percebem mal que os queiram redimir à custa de indulgências pagas com as verbas municipais.

O Papa dará o anelão a beijar quando lhes notar a fragilidade da coluna e a destreza com que se ajoelham, mas a tesouraria não recomenda tais desperdícios com a bula e a ética republicana reprova semelhantes actos de subserviência.

Admito que Bento XVI, ex-prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-santo Ofício), traga santinhos com a efígie do antecessor e dele próprio para compensar os membros do executivo camarário e para que o possam oscular quando virar costas.

Ainda vem longe o 13 de Maio e o impulso que Bento 16 vem dar à promoção da fé e à campanha presidencial, mas já se perfilam os beatos em doses maciças de genuflexões pias, virados para Roma. Acabam de rastos, cobertos de ridículo e de dívidas, ansiosos por darem a bula “fac-similada” a quem tem um alvará para produzir originais, aflitos pelo beija-mão, alvoroçados com a foto que aguardam para o álbum das figuras tristes e para emoldurarem o jazigo.

A vereadora da Cultura, em tempo parcial, que a cultura em Coimbra não merece mais dedicação, já se predispôs a pedir esmola, a fim de «angariar um bom patrocínio para a edição da bula». A paróquia entrou em desassossego e já se vêem os vereadores aos saltinhos para lamberem os dedos ao papa Ratzinger.

Se pudessem, à semelhança de D. João V, ofereceriam um  elefante a Roma mas, como não têm um proboscídeo, talvez se arrisquem a prescindir de um solípede para que o papa possa, na Praça de S. Pedro, dar a bênção na garupa de um asno de Coimbra.