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  • 17 de Janeiro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Bento XVI, a comunidade judaica e o “papa de Hitler”…

Por

E – Pá

Bento XVI encontra-se hoje com o rabi Ricardo di Segni numa sinagoga de Roma…

Aparentemente vai numa missão ecuménica para promover o diálogo inter-religioso. Na verdade, vai – mais uma vez ! – pedir desculpas por actos impensados, irreflectidos e provocatórios.

Estas “caminhadas de desculpabilização” têm sido uma marca do pontificado deste papa.
Tudo começou na Universidade de Ratisbona com a famosa evocação de uma citação do imperador bizantino Manuel II – o paleólogo, que podendo encerrar meias verdades, foi manifestamente infeliz e despropositada e ofereceu aos defensores de um ecumenismo límpido e transparente, uma ideia beligerante da religião muçulmana e uma imagem violenta do profeta Maomé. A “racionalidade” no Vaticano sobre o diálogo religioso entre as religiões monoteístas abrâmicas, sofre do vício da soberba e evidencia a preponderância de um conceito cristão-cêntrico.
Algum tempo depois, deixando à porta os seus sapatos Prada®, ajoelhava-se – virado para Meca – na mesquita de azul de Istambul (ele gostaria que fosse ainda Constantinopla…) perante o Grande-Mufti de Istambul, Mustafá Cagrici.
Vinha penitenciar-se do discurso de Ratisbona, pedir desculpas e, publicamente, renegar (sem desmentir) a citação evocada.

Este é o início das peregrinações de desgravo deste papa. Seguiram-se outras…

Esta última, que desencadeou a presente romagem à sinagoga de Roma (foto ao lado) insere-se num problema mais vasto, ultrapassando largamente quezílias teológicas inter-religiosas, entra no domínio do posicionamento da ICAR perante catástrofes humanitárias como foi o caso do controverso (…para sermos cautelosos na semântica) papel de Pio XII perante a Shoah.

A reanimação do processo de beatificação de Pio XII, a coberto de uma outra menos controversa (João Paulo II), não passou despercebida aos judeus.
Na verdade, o actual papa reacendeu a fogueira da conflitualidade inter-religiosa, sobre a interpretação do passado de Pio XII. As posições de Ratzinger, mesmo no que dizem respeito a situações aparentemente canónicas, são sempre tendenciosas e merecem uma interpretação para além do estrito sentido das palavras no âmbito teológico ou dos actos litúrgicos.

De facto, os judeus não podem esquecer que Pio XII “viu” (ou não podia ter ignorado), em 16 de outubro de 1943, serem colocados em comboios (da morte!), na estação Tiburtina, com destino ao campo de concentração de Auschwitz, 1.021 judeus italianos: só se salvaram 17!.
Este crime contra a Humanidade teve lugar em Roma e na proximidade da cidade do Vaticano.
Pio XII, fechou os olhos, manteve-se impávido e optou por um reverencial e comprometido silêncio. A partir daí começou a ser designado pelo resistencia italiana como o “Papa de Hitler”.

Bento XVI, conplementando a contrição que representa mais esta deslocação, afirmou que Pio XII será beatificado pelas suas “virtudes heróicas” e não pelo seu papel histórico. Pior a emenda que o soneto. De facto o cerne da questão é o Holocastro. Uma das mais vergonhosos e aberrantes episódios da História da Humanidade, se não tomarmos em linha conta o longo período da trevas, protagonizado também pela ICAR, que foi representado pela Inquisição…

Na verdade, a ICAR que sempre desempenhou um papel histórico, sempre tentou inculcar o percurso histórico e, portanto, não pode vir, no presente, evocar “virtudes heróicas” à margem desse contexto.

Esta visita é mais um episódio picaresco da ICAR e do seu actual chefe. Fez relembrar um mestre ibérico do romance picaresco – Miguel Cervantes. Que escreveu no célebre romance Dom Quixote:
A História é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro…

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