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Mês: Novembro 2009

30 de Novembro, 2009 Ludwig Krippahl

Sentido

Deus dá sentido ao universo. Pelo menos, é o que dizem os crentes. Mas não é claro o que isto quer dizer porque esta palavra pode referir orientação, significado, inteligibilidade ou algo que sentimos profundamente. E parece-me que alguns dos sentidos de “sentido” vêm baralhados na religião.

Partes do universo fazem sentido. Nem todas, porque há muito que ainda não compreendemos e que talvez nunca cheguemos a compreender. E, do que compreendemos, muito faz um sentido distante, que não mexe connosco. Sentido sem se sentir. Coisas como o número de estrelas da galáxia, o tamanho do electrão e a duração do universo estão tão fora da nossa capacidade de apreender subjectivamente que só as compreendemos na forma abstracta de representações simbólicas. O universo tem 13,500,000,000 de anos. Grande número. Tão grande que alguns preferem agarrar-se a um livro que o reduza a uns milhares de anos, mais ao alcance da imaginação compreensivelmente limitada dos antigos hebreus e mais dentro daquilo que podemos sentir. Dez mil anos sentimos que é muito tempo. Treze mil milhões de anos não nos diz nada, subjectivamente.

Compreendo que esta distância entre o sentido que a ciência dá às coisas e as coisas que conseguimos sentir desiluda alguns e os leve a imaginar algo mais humano para encontrar o tal sentido. A ciência unifica muitos fenómenos em teorias elegantes e rigorosas, tem grande poder explicativo mas parece demasiado abstracta por nos dizer coisas difíceis de imaginar. A Lua está a trezentos e oitenta mil quilómetros de distância. Tem três mil e quinhentos quilómetros de diâmetro e desloca-se à volta da Terra a quase quatro mil quilómetros por hora. Mesmo para quem sabe isto, são só números. É muito difícil olhar para a Lua e sentir estas dimensões ou sequer algo que se aproxime da imensidão que é até o nosso minúsculo cantinho do universo.

Por isso uma alternativa é encontrar sentido imaginando um deus que é amor. Amor sabemos sentir e podemos imaginar facilmente um ser que ama. Umas vezes caridoso e generoso, outras vezes ciumento e violento. Que age por paixão, ora com gestos fúteis de enorme sacrifício e dedicação, dando a vida só por dar (por amor!), ora exigindo tudo em troca, dedicação total ou o castigo eterno. Enfim, o deus da bíblia. Amor à medida da pequenez humana, sentido como nós o sentimos, com o bom e o mau à mistura.

Mas esta forma de procurar sentido não faz sentido. Sente-se, é verdade, mas não dá nada a compreender. Não esclarece o que observamos nem sequer encaixa com a imensidão do universo e a indiferença com que este nos trata. Este universo, é mais que evidente, não se porta com amor nem se importa connosco ou com coisa nenhuma. A hipótese de um deus que é amor não explica nada. Além disso, é errado julgar que é o deus que dá sentido. Mesmo que existisse tal deus, essa existência seria apenas mais um facto e esse deus seria apenas mais uma coisa, como o Sol, a Lua e as galáxias. O sentido, tanto o de dar a compreender como o de sentir, está nas nossas ideias e não nas coisas em si. A fé, no fundo, não é acerca dos deuses. É acerca da ideia de haver deuses.

Eu prefiro não abdicar do sentido que as coisas fazem só para as sentir. Prefiro não me agarrar a hipóteses sem fundamento nem utilidade explicativa só para despertar alguma emoção de assombro ou conforto. Por um lado porque seria enganar-me propositadamente. Por outro, e principalmente, porque não é preciso. Com um pouco de esforço, e provavelmente não mais que aquele que a fé exige, posso sentir na realidade um sentido tão forte como os que as religiões inventam com os seus deuses. Posso olhar a Lua e as estrelas e sentir algo da magnificência do que estou a ver sem ter de inventar o que estou a ver. Posso-me maravilhar por ser feito de átomos criados dentro de estrelas que explodiram há milhares de milhões de anos e sentir assombro pelo longo processo de evolução que me deu a capacidade de perceber as minhas origens.

É verdade que nunca serei capaz de sentir mais que uma pequena fracção daquilo que devia sentir. A vertigem que sinto, numa noite límpida, ao imaginar a distância a que estão as estrelas fica muito aquém do que devia sentir se a vertigem fosse proporcional à distância. Devia explodir de vertigem. Mas isto apenas demonstra as minhas limitações. Não justifica imaginar um deus de amor só para sentir mais qualquer coisinha.

Finalmente, as perguntas últimas. Qual o sentido disto tudo? Para que serve a nossa existência? E assim por diante. São perguntas fascinantes, mas nenhuma resposta que se encontre por aí poderá ser a resposta certa. Seja num livro sagrado, nas palavras dos deuses ou nas leis da natureza, nada que nos seja dado poderá dizer qual o sentido que isto tem para nós, pois esse terá de vir de cada um. São perguntas para ir respondendo, vivendo.

Em suma, os deuses não dão sentido. As hipóteses acerca deles não explicam nada e, mesmo que seja só para sentir, a realidade é melhor que as religiões que inventamos.

Também no Que Treta!

30 de Novembro, 2009 Fernandes

O fenómeno religioso

O término projecção designa, em psicologia, a operação através do qual um estado de consciência é desviado e localizado no exterior, seja do centro para a periferia, seja do sujeito ao objecto. O término admite bastantes matizes semânticas. Segundo J. Laplanche e B. Pontalis, a projecção, num sentido mais psico-analítico, é uma «operação através da qual o sujeito retira de si e localiza noutro, pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos, inclusivamente objectos. As exigências de raciocínio do ser humano põem em marcha um trabalho de explicação intelectual que pode gerar processos de projecção mental. O homem pré-histórico perante fenómenos que ultrapassavam as experiências do dia-a-dia, procurava nos processos de projecção, acicatado pela pressão emocional ou por um estado de grande perplexidade, uma explicação ilusória de tais fenómenos.

A apresentação do fenómeno religioso, como uma operação alienatória – no sentido amplo do termo, inscreve-se decididamente, nas teorias circulares na génese dos fenómenos religiosos. Os numens animalis, não existem enquanto tais, são simplesmente projecções mentais do homem primitivo, ou não primitivo, em termos cronológicos, – e por conseguinte, não são reais, são meros ficta da consciência ingénua, ou seja, são fenómenos de consciência, dentro da própria consciência, projectados sobre objectos ou sujeitos exteriores.

Desde dentro das chamadas experiências religiosas, é certo que o crente, tanto o homem pré-histórico como o mutatis mutandis, pensa que na sua crença não existe nada de ilusório, pois as suas experiências religiosas são vividas como reais seja relativamente à alma, espíritos, numens ou deuses. Mas desde fora da crença, ou seja, criticamente, – o não crente, vê com evidência que sim, que existe ilusão, falsa consciência, sugestão, superstição ou alucinação, gerados por processos de projecção mental sobre objectos, sujeitos externos ou exteriorizados, processos que podem inscrever-se no campo da psicologia normal ou no da psicopatologia.

As representações zoomórficas nas chamadas religiões primárias e secundárias, projectam determinados animais com a reputação de sagrados desempenhando destacas funções na imaginação religiosa do homem. O animismo é o ponto em que se apoia a fabulação religiosa do ser humano, a matriz dos sentimentos convencionalmente designados como religiosos.

As crenças animistas povoam de tal forma a mente do ser humano, que se convertem numa segunda natureza passando daquilo que era ficção inconsciente, a realidade inquestionável. A história das formas religiosas gravita permanentemente, ainda que de forma oculta ou mascarada, sobre o subsolo das ficções animistas e a correspondente concepção dualista do mundo.

No homem primitivo, a imediatez genética destas formas de falsa consciência, é mais evidente, porque as formas primárias das fantasias da mente aparecem numa versão ingénua e naturalista, despidas todavia da roupagem mitológica das fabulações exuberantes da religiosidade secundária ou do aparato metafísico das especulações teológicas da religiosidade terciária, num contexto civilizacional de progresso moral. Efectivamente, a especulação teológica foi levantando no decurso da história, um edifício de tal magnitude que o seu fundamento originário desapareceu no meio de uma linguagem obtusa e obscura.

Não devemos escandalizar-nos nem cientifica nem piedosamente, se constatarmos que o fenómeno religioso se dissolve nos mecanismos psicológicos que o geraram.

 Neste processo, constantemente reforçado pelo trabalho da especulação teológica, o homem teve o seu espelho em Deus, – divinização do homem, – e Deus teve-o no homem, – antropomorfização de Deus.

O ser humano descobre então, que ele mesmo criou os deuses, revela-se assim a falácia da religião.

30 de Novembro, 2009 Carlos Esperança

Diário Ateísta – 6.º aniversário

Foi há 6 anos. Na sequência do convívio de vários ateus, portugueses e brasileiros, de amizades que se forjaram e da confiança estabelecida, resolvemos criar um blogue.

O Ricardo Pinho e o Cachapa eram os dedicados companheiros que mantinham o sistema informático a funcionar. O Onofre Varela era o ideólogo que, então como agora, fugia da informática e, por isso, se mantinha na sombra. A Mariana, o João Vasco, o Ricardo Alves e eu próprio, há muito que vínhamos divulgando o ateísmo como mundividência ética e filosófica. O João Vasco sugeriu a criação do blogue. Foi assim que, em 30 de Novembro de 2003, nasceu o

DIÁRIO ATEÍSTA

e, em 27 de Dezembro desse ano, realizámos o I Encontro Nacional de Ateus, em Coimbra, sob o lema «Vale mais um primeiro almoço do que a última ceia».

Muitos se juntaram a nós. A Palmira, o Luís Grave Rodrigues e outros, ajudaram a fazer do Diário Ateísta uma trincheira contra o obscurantismo, um espaço de debate e de luta, indiferentes aos insultos, às ameaças e às insinuações. Aprendemos a conhecer a raiva de quem crê em mitos e a paciência de quem se julgavava destinado a converter-nos.

Nunca reclamámos para os ateus qualquer superioridade moral e ainda hoje por aqui passam crentes que, apesar da violência dos livros sagrados em que crêem, são pessoas de bem, solidárias e generosas. O Diário Ateísta foi vigoroso na defesa dos princípios e tolerante no contraditório. Nunca se apagaram comentários.

O Diário Ateísta, íntegro no pensamento e na gramática, chegou a ser um dos blogues mais visitados. Só não resistiu aos ataques informáticos que durante alguns meses o colocaram sistematicamente inacessível. Nunca mais nos recompusemos dos abalos sofridos. Entretanto, o entusiasmo esmoreceu, alguns colaboradores partiram e a qualidade intelectual e literária baixou de nível.

Não esmoreceu a fidelidade aos princípios e a vontade de perpetuar a luta civilizacional na defesa dos princípios que informam a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Vamos entrar no sétimo ano com o desejo de manter vivo este espaço de liberdade ateia. O DA contribuiu para a criação da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) e, não sendo o seu órgão oficial, é um espaço que está sempre aberto à AAP.

O DA vai continuar. A renovação e a chegada de novos colaboradores farão com que este espaço responda às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Para alegria de muitos e mágoa de alguns, continuaremos. Agradecemos a solidariedade dos nossos leitores fiéis e prometemos tentar não os desiludir.

29 de Novembro, 2009 Carlos Esperança

Hipócritas

Por favor, não me rotule – Deixe-me crescer e escolher por mim” é o lema que aparece entre fotografias de duas crianças aos saltos, com um grande sorriso na cara, numa imagem que pretende revelar liberdade e felicidade.

Nota: Os «ateus» que defendem as religiões, como acrescenta o artigo, são crentes disfarçados. Parecem muçulmanos a defender a carne de porco.

28 de Novembro, 2009 Carlos Esperança

Confissão tardia

O arcebispo de Dublin pediu perdão pelo encobrimento de casos de pederastia ocorridos nos últimos anos na Igreja da Irlanda, segundo documentou um informe governamental.

“As palavras nunca serão suficientes para pedir perdão pela repugnante história de assédio sexual e estupros de crianças e adolescentes por parte de sacerdotes da arquidiocese de Dublin”, afirmou nesta sexta-feira Dom Diarmuid Martin, em conferência de imprensa.

27 de Novembro, 2009 Ricardo Alves

Os padres têm direito a casar-se

Ler n´O Calhamaço dos Embustes a história de um padre que teve de fugir para se casar. Como diz o A. Rodrigues: «Ele, assim como todos os padres, tem o direito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos lhe confere» – o direito de constituir família.
Felicidades.