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“O Ódio de Vasco Pulido Valente…

Por

Daniel Nicola

Não se conhece a Vasco Pulido Valente uma palavra simpática sobre seja o que for. Preso no século XIX de onde nunca conseguiu sair, esta múmia a quem ficámos a conhecer (para além da prosa execrável) a voz estridente e irritante naquela parelha única da TV que a censura fez o triste favor de tirar do ar, dedica hoje* a sua crónica de ódio a José Saramago. Não pelo seu livro, não pelas suas declarações. Apenas porque Saramago não foi parido pela elite burguesa e decadente que ao país só trouxe atraso e miséria.

Para VPV as ideias de Saramago são “de trolha ou tipógrafo semi-analfabeto”, produto da senilidade dos seus “80 e tal anos”. O Nobel foi atribuído como a “vários camaradas que não valiam nada” e é lido por milhões de pessoas “acéfalas que nem distinguem a mão esquerda da mão direita.” VPV não reconhece “a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a bíblia ou sobre qualquer outro assunto”. Essa suposta autoridade só lhe deve ser concedida porventura a ele próprio que opina acerca de tudo dizendo pouco mais do que nada, mantendo porém sempre o indelével traço da arrogância e altivez. Depois vem a velha lenga-lenga do PREC e do DN há muito desmentida, quer por Saramago, quer por quem o acusava, mas parece que tal não teve eco nas masmorras do séc. XIX onde VPV está agrilhoado.

Mas a sobranceria e desdém não acabam aqui: “Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve” e a pérola final diz tudo sobre o carácter do seu autor: “D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação.” Ou seja, resume tudo à falta de berço, argumento tão querido à nata da sociedade que passados quase 100 anos sobre a fundação da República ainda não entendeu (apesar de todas as obras e teses por ele publicadas) nem o seu significado, nem sequer a premissa de que somos Homens iguais a quem se devem dar iguais direitos e iguais oportunidades. E é por isso que destila diariamente o ódio a tudo e a todos que vêm de baixo, aos que sobem a pulso, aos que não se deixam vencer pela sua condição social, aos que indo da “província” para Lisboa não se intimidam pelas elites que ainda se julgam aristocráticas por viverem das rendas que os negócios do estado proporcionam, bem mais lesivas para o país do que os supostos milhões perdidos para os pobres preguiçosos do RSI a quem todos culpam.

A verborreia de VPV é bafienta e rancorosa. Nada mais. Um produto de quem pouco vivendo prefere o ataque à vida dos outros. VPV coloca-se num pedestal tão alto que acaba por pouco ou nada ver, e quando vê, vê desfocado pela névoa do preconceito.

E conclui: “O que espanta neste ridículo (…) é a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e escolaridade obrigatória”. Deve estar a pensar nele próprio, pois acabou por lhe dedicar toda a sua crónica no Público, e logo na irrelevante última página do jornal… Quem se espanta sou eu perante espantalhos destes!

* Texto enviado em 23 ct.

Perfil de Autor

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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