O Deus do Clero
Este Deus é totalmente autónomo. Absoluto. Encerra tudo em si mesmo. É completamente diferente de tudo o que existe, pelo menos assim é descrito em todos os catecismos, e assim configurado, é como melhor serve e menos prejudica os interesses do Clero.
O Deus do Antigo e do Novo Testamento em nada difere do Zeus grego, do Júpiter romano ou Wotan germano. Todos são deuses despóticos, violentos e cheios de ciúme. Muitos duvidam da teologia que se encarrega da concepção de Deus, da fundamentação e das consequências que daí advêm para a vida dos homens. Não vai longe o tempo em que os Padres (a quem Deus investiu como donos-da-Verdade), ensinavam na catequese os muitos detalhes da natureza e vontade do “Deus-Verdadeiro”. Explicavam: «só o que a Igreja Católica ensina, é que foi revelado por Deus». Significa isso que nenhuma Igreja a não ser a Católica, está bem informada? Deus só se revela às suas ovelhas de forma indirecta? Os crentes só obtêm verdades em segunda mão? O Catecismo Católico continua a ensinar: «Deus permite o sofrimento, para que façamos penitência pelos nossos pecados para podermos obter a recompensa eterna». Assim sendo, milhares de sofredores, de assassinados (especialmente os assassinados pelo Clero), só padecem a dor para poderem obter a recompensa celestial? O catecismo, como código moral que é, continua: «os condenados ao Inferno sofrem mais do que qualquer homem pode imaginar. Padecem os tormentos dos fogo…e habitam na companhia do Diabo». Nos anos sessenta, estes absurdos, eram “Matéria de Fé” . O Clero, agora, não opina de maneira igual sobre este assunto. Ter-se-á então equivocado? Não é válido, hoje, aquilo em que éramos obrigados a acreditar firmemente, há trinta anos apenas?
– O Pecado é uma ofensa ao amor paterno, o perdão só Ele o pode conceder -. As interacções deste tipo, persistente e regularmente repetidas, são os factores constituites de qualquer religião. Às pessoas expostas a semelhante manipulação mental, estes mecanismos convertem-se em estruturas psíquicas solidificadas. As interacções entre Deus-Pai e Deus-Filho são petrificadas e convertidas em esquemas organizacionais abstractos (patterns) de modo que, os actos de demonstração amorosa como, a oração, o arrependimento e a obediência, provocam de maneira automática, as contrapartidas correspondentes, – o amor paternal de Deus! – Um deus que ama os seus, na condição de que estes acreditem que ele existe e Lhe obedeçam segundo a Sua vontade. Um Deus que ameaça com sofrimento eterno quem se atreve a questionar o seu amor ou a sua existência.
Deus não existe, o Clero sim. Este servir-se-á sempre da religião como do pão para a boca. Intitulam-se intérpretes de Deus, numa indisfarçável soberba e ganância pelo poder. Para eles a religião é o “emprego”. No dia em que o cristianismo se mostrar irremediavelmente inútil aos seus interesses, substituirão esta, por outra cosmovisão mais rentável.
Quem se atreverá a exigir de Deus, gestos de amor que possam, eventualmente, divergir dos interesses do Clero?