31 de Outubro, 2009 Carlos Esperança
Dia das bruxas
Vaticano diz que Dia das Bruxas é ‘perigoso’ e faz duras críticas à data
Vaticano diz que Dia das Bruxas é ‘perigoso’ e faz duras críticas à data
O Papa dos católicos não acerta uma. Agora, saiu-se com esta:
É rigorosamente o contrário. Não é a «fé» que descobre. É a ciência, a observação, o raciocínio e a experimentação. A «fé» nunca descobriu nada. É a ciência que nos permite descobrir os segredos do universo e maravilharmo-nos com a sua compreensão.
O Papa Bento 16 encontrar-se-á com o chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, no dia 21 de Novembro, no Vaticano.
A Agência AsiaNews lançou uma campanha de sensibilização para que a lei sobre a blasfémia no Paquistão seja abolida. A agência, que pertence ao Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME), recorda que, desde 2001, pelo menos 50 cristãos morreram em conseqüência dessa lei.
A lei sobre a blasfémia pune com a prisão perpétua ou com a pena de morte quem profana o Corão ou ofende o Profeta Maomé. Basta a acusação de uma única pessoa para ser detido ou assassinado. “Trata-se de uma norma aberrante, que propicia a discriminação, que ‘legaliza’ violências contra as minorias religiosas e cujos responsáveis permanecem na maioria das vezes impunes, graças à conivência da polícia e dos funcionários do governo” – explica a Agência.
Comentário: Ninguém nega a inquidade da lei. Estranha-se apenas que a Igreja católica não lute contra a mesma lei em Portugal, embora sem a severidade islâmica e de difícil aplicação devido à liberdade de expressão.
Um tribunal alemão impôs uma multa de 12 mil euros (30 mil reais) ao bispo católico ultra ortodoxo, Richard Williamson, por ter negado publicamente o Holocausto, algo que na Alemanha é um delito.
Um porta-voz disse que Williamson tem duas semanas para contestar a condenação por incitação ao ódio e racismo, que foi imposto por um tribunal da cidade de Ratisbona a pedido da Promotoria do estado da Baviera.
Comentário: São bispos fascistas os amigos que Bento 16 pretende ter de volta. Não admira.
A sacralização das crenças é uma forma de totalitarismo que serve de pretexto para amordaçar convicções diferentes e impor a lei do mais forte. Nos países onde funciona a democracia há quem tente os constrangimentos sociais para limitar a liberdade.
A recente polémica em torno do último livro de José Saramago deve fazer-nos reflectir sobre a fé e a liberdade. Que a um crente seja proibido interrogar-se sobre a crença que abraçou é um direito da sua Igreja, mas cabe ao Estado laico garantir-lhe a liberdade de mudar ou, simplesmente, de a abandonar. É aqui que reside a diferença entre teocracias e democracias. A apostasia, crime gravíssimo nos estados confessionais, é um direito inalienável nos estados laicos.
Qualquer livro sagrado é considerado como tal por alguns e, seguramente, desprezado por outros, assistindo a todos o mesmo direito. Se não se contestassem as crenças ainda hoje o Sol continuaria a girar à volta da Terra. Se não pudéssemos discutir a Tora, a Bíblia ou o Corão com que direito alguém condenaria o Mein Kampf ou o Manifesto Comunista? É tão legítimo combater uma religião, ou todas, como combater qualquer sistema político. As crenças podem e devem ser combatidas, os crentes é que merecem ser respeitados.
Entendo, pois, que Saramago tem o direito de escrever tudo o que escreve (e quanto lhe agradeço) e de dizer tudo o que diz tal como as Igrejas têm igual direito de contradizer o que diz e escreve Saramago. Passo ao lado dos dislates de um infeliz eurodeputado que pretende definir o critério de nacionalidade em função das suas crenças. Há sempre um clone de Sousa Lara, ensandecido, à espera de cinco minutos de glória.
A Igreja católica teve logo a solidariedade de outras, menos recomendáveis, e tem todo o direito de não gostar de Saramago e de combater as suas ideias, não tem é o direito à imunidade das tolices que prega e ao monopólio da interpretação do Antigo Testamento. Se hoje considera literatura esse livro violento da Idade do Bronze, só a partir do século XIX é que a exegese católica o começou a considerar como tal. E a liberdade religiosa só foi admitida pelo Concílio Vaticano II.
Os judeus das trancinhas que pretendem derrubar o Muro das lamentações à cabeçada e anexar a Palestina, assim como os cristãos evangélicos, que tiveram um presidente dos EUA que falava com deus e invadiu o Iraque, exigem uma leitura literal para o Antigo Testamento.
Alguns pretensos ateus, sôfregos de bênçãos dos leitores, afirmam que a Tora, a Bíblia e o Corão só devem ser avaliados pelos descrentes como obras literárias, à semelhança da Ilíada, Odisseia ou das obras de Shakespeare. Acontece que nenhum destes livros serviu para justificar cruzadas, guerras, tribunais do Santo Ofício ou códigos de conduta.
Não se conhece uma só morte provocada por um fanático para convencer um céptico do dogma do cavalo de Tróia.
A boa e descansada vida que levam os nossos frades-pios, digna de inveja por todas as considerações
Desde que nasce o sol até que é posto
Governa o lavrador o curvo arado,
E de anos o soldado carregado
Peleja, quer por força, quer por gosto:
Cristalino suor alaga o rosto
Do barqueiro, do remo calejado;
Do cascavel ao dente envenenado
Anda o rude algodista sempre exposto:
Trabalha o pobre desde a tenra idade;
O destro pescador lanços sacode
Para escapar da fome à atrocidade;
Todos trabalham, pois que ninguém pode
Comer sem trabalhar; somente o frade
Come, bebe, descansa e depois fode.
Antologia poética de António Lobo de Carvalho, poeta satírico vimaranense do séc. XVIII.
[via Torre dos Cães, há muito inactivo, para mal dos nossos pecados]
O papa Bento XVI prestará homenagem em maio próximo ao “Santo Sudário”, o lençol que, segundo a tradição católica, foi usada para envolver o corpo de Cristo que tirado da Cruz e que se encontra em Turim (norte da Itália), indicou nesta terça-feira o Vaticano.
O Tribunal de Paris condenou hoje a Igreja da Cientologia em França pelo crime organizado de fraude, mas a decisão não impede a Igreja de exercer a sua actividade no país, desde que tal não implique a prática de ilegalidades.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.