30 de Junho, 2009 Carlos Esperança
Associação República e Laicidade (2)
O comunicado da R&L foi objecto de um despacho da Lusa que, aliás, volta a citar o comunicado da AAP de 12 de Junho.
O comunicado da R&L foi objecto de um despacho da Lusa que, aliás, volta a citar o comunicado da AAP de 12 de Junho.
Um padre italiano viu a sua carta de condução apreendida depois de ter sido apanhado pela polícia com 0,8 g/l de álcool no sangue, quando a lei italiana não permite mais do que 0,5. O pároco já fez saber que vai recorrer.
Há notícias que valem por si e outras pelo contexto. No segundo caso está a conversão de um cidadão, Magdi Alan, um italiano de origem egípcia que trocou o islamismo pelo catolicismo, um direito que qualquer democracia reconhece e que as religiões fomentam ou combatem conforme o sentido da mudança.
O referido cidadão nasceu numa sociedade que o fez muçulmano como outras o teriam feito católico, budista, adventista do sétimo dia, católico ortodoxo ou evangelista. Todos têm o direito de abandonar a religião que lhes impuseram, aderir a outra ou não querer nenhuma. E qualquer estado democrático é obrigado a defender, em nome da liberdade religiosa, a opção de cada um, sem quebra da neutralidade a que está obrigado.
O caso referido começou com uma cerimónia de apostasia, com pompa e circunstância, num legítimo espectáculo de marketing, baptizado por Bento XVI. O que é um direito elementar numa democracia é um pecado grave para uma religião. O neófito, graças à conversão, ganhou um lugar de eurodeputado por um partido democrata-cristão. Não estranhando os negócios da fé, repudio a ameaça islâmica que paira sobre este italiano cuja protecção pessoal exige oito seguranças.
Ninguém mata em nome da descrença e todos os dias morrem pessoas assassinadas por quem tem demasiada fé. Se uma religião estimula ou prevê a erradicação dos infiéis não é um sistema religioso é uma associação de malfeitores. Se o seu livro sagrado conduz à demência fascista é preciso mudar de livro e submeter ao código penal os que cometem crimes em obediência aos seus ensinamentos.
A laicidade é o vector de integração de todos os cidadãos numa sociedade plural. Assim, adquiriu na Constituição Francesa de 1946 um valor constitucional preciso: «A França é uma República indivisível, laica, democrática e social. Assegura a igualdade perante a lei de todos os cidadãos, sem distinção de origem, de raça ou de religião. Respeita todas as crenças». Ao contrário do proselitismo religioso.
Só um quadro laico tem a capacidade e os meios para que todos os homens e mulheres de convicções diferentes possam viver em paz e sem guarda-costas. É por isso que as referências confessionais nas constituições são um instrumento de ódio e de confronto.
Defender a laicidade é promover a paz, a tolerância e a democracia.
A Associação República e Laicidade tomou posição sobre o estatuto dos professores de Educação Moral e Religiosa Católica através do comunicado de imprensa que aqui se reproduz.
Uma missa solene para a ordenação, considerada ilegítima pelo Vaticano, de oito sacerdotes integristas aconteceu nesta segunda-feira em Econe, Suíça, sede do principal seminário da Fraternidade São Pio X.
Como a capela era muito pequena, a missa foi celebrada sob um toldo branco, diante de 2.500 fiéis.
Comentário: B16 está a ser alvo de pressões de sectores democráticos da ICAR para os excomungar.
Cidade do Vaticano, 29 Jun (Lusa) – Os temas sociais estão no centro da terceira encíclica de Bento XVI, intitulada “Caritas in veritate” (Caridade na Verdade), cuja próxima publicação foi hoje anunciada pelo papa aos peregrinos concentrados na Praça de São Pedro.
Não é novidade para ninguém que o Engº. Jardim Gonçalves, o antigo presidente do Conselho de Administração do B.C.P., é um emérito membro da Opus Dei.
E também não é novidade nenhuma que Jardim Gonçalves é ainda membro da «ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores».
Mas o que significará isto de alguém ser membro de uma Associação “Cristã” de Empresários e Gestores?
Ser membro de uma vulgar associação de empresários e gestores, é perfeitamente vulgar e compreensível.
Mas esta associação de empresários e gestores a que Jardim Gonçalves pertence não é uma associação como outra qualquer: é também uma «associação cristã».
Pergunta-se então:
– O que de diferente terá de todas as outras associações de empresários e gestores uma associação «cristã» de empresários e gestores?
Pois bem:
O site da «Agência Ecclesia» esclarece-nos perfeitamente:
– A Associação Cristã de Empresários e Gestores visa antes de mais «intervir na sociedade» e também «incutir os valores cristãos na realidade empresarial».
Pois sim.
Mas o que significa – em concreto – essa coisa dos «valores cristãos na realidade empresarial»?
É então aqui que nos responde o «Expresso», que noticia que Jardim Gonçalves e outros quatro ex-administradores do B.C.P. foram acusados pelo Ministério Público pelos crimes de manipulação de mercado, falsificação da contabilidade e burla qualificada que terão provocado ao banco prejuízos superiores a 600 milhões de euros, enquanto recebiam indevidamente 24 milhões de euros em prémios de desempenho.
Em suma:
É sempre bom sabermos o que é que esta gente entende por «valores cristãos».
Mas é muito mais esclarecedor ficarmos a saber o que significam na prática esses «valores cristãos», principalmente se estivermos a falar de «valores cristãos na realidade empresarial»…
Com a chegada de novos devotos ao Diário Ateísta reitero hoje a minha posição sobre o assunto em epígrafe:
As crenças e os crentes
Os que acreditavam que o Sol girava à volta da Terra não eram, por isso, malfeitores. A ignorância da física quântica ou da energia atómica não torna ninguém indigno ou mau.
Quem crê que a Virgem Maria saltitou de azinheira em azinheira à procura da Lúcia ou que a beata Alexandrina de Balazar passou anos sem comer nem beber, em anúria, a alimentar-se de hóstias consagradas, não comete um crime.
Quem reza a um patife de nome Josemaria Escrivá de Blaguer convencido de que o fascista virou santo com três milagres obrados pelo cadáver, pede uma Graça, não é um delinquente.
Entendamo-nos de uma vez por todas. Os crentes são pessoas iguais aos ateus. O direito a acreditar na virgindade de Maria ou na virtude da bruxa da Lousã é um direito que os ateus defendem. Não significa que a bruxa não deva responder por burla e a ICAR denunciada a uma associação de defesa dos direitos dos consumidores.
Estão em causa, e só, a publicidade enganosa que divulgam, as pressões psicológicas, os terrores que infundem, os ódios que acicatam, as guerras que fomentam. Ninguém no Diário Ateísta persegue os crentes, apenas combate o que julga ser mentira.
A minha posição para com os crentes é a mesma que tenho para com os drogados. Tolerante com estes e vigoroso contra os que produzem e traficam a droga.
As hóstias que cada um papa, as missas que consome, os terços que reza, as ladainhas que debita, o incenso que aspira ou a água benta com que se borrifa, são direitos que os países livres consagram e defendem. E defendem mais – o direito de mudar de religião e o de abdicar de qualquer uma.
As Igrejas não podem nem devem, na minha opinião, servir-se do aparelho de Estado, ameaçar, perseguir ou perturbar a opinião pública no seu proselitismo. E, naturalmente, têm o direito de combater o ateísmo, pela palavra, o mesmo que assiste aos ateus para desmascarar a burla religiosa.
É do confronto dialéctico de posições divergentes que nasce a luz, não é da palavra de Deus bolsada pela voz de clérigos ou vertida na violência dos livros sagrados.»
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.