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Crime e castigo na Irlanda

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Na Irlanda, a justiça é no mínimo bizarra. Enquanto Estado e Igreja fazem um acordo para conceder imunidade aos muitos membros do clero católico que durante anos abusaram sexualmente de milhares de crianças em instituições da Igreja Católica, o ministro da Justiça inflama-se contra os que contestam a sua lei que pretende criminalizar a blasfémia. Ou seja, para o ministro da Justiça irlandês abusar e maltratar crianças é coisa pouca que nem sequer merece castigo. Pelo contrário, blasfemar é um crime abominável que não pode passar sem punição.

De facto, depois de deplorar a «inacreditável intolerância» dos que se opõem à fantástica lei da blasfémia, que poupará aos contribuintes a maçada de decidirem sobre a sua oportunidade em referendo, e de denunciar os histéricos apóstolos, com cérebros do tamanho de ervilhas, de teorias da conspiração, Dermot Ahern declarou-se mistificado pela reacção da Organisation for Security and Cooperation in Europe (OSCE) à sua fantástica lei. O representante da organização para a liberdade de imprensa afirmou que a proposta de lei da blasfémia irlandesa viola todos os acordos internacionais sobre liberdade de expressão.

Ahern, que numa sessão parlamentar do Justice Committee em que se debateu a lei referiu os comentários blasfemos sobre a sua pessoa e comparou a sua pureza à do «menino Jesus» – dando origem com a sua intervenção a uma nova religião, a Igreja da Dermotologia – não percebe porque razão apenas os países islâmicos aplaudem a sua iniciativa de punir estes criminosos maiores. Ou por que razão na Irlanda o público se indigna por os crimes da Igreja ficarem impunes em vez de perceber que o que é realmente urgente é punir os que se atrevem a criticar essa mesma Igreja – que se recusa a sequer rever os acordos que lhe garantem que não só ficará impune como não pagará mais um tostão às vítimas dos seus crimes.
Aliás, estas prioridades bizarras não são exclusividade da Irlanda ou do clero irlandês. De facto, o ex-arcebispo que afirmou que os ateístas não são «totalmente humanos», reafirmou as acusações na tomada de posse do seu sucessor. Cormac Murphy O’Connor aproveitou a ocasião para verberar a falta de fé, «o maior de todos os males», e depositar no mal maior que qualquer pecado a culpa de guerras e destruição. Assim, não é de espantar que o seu sucessor, depois de ter pedido «mais respeito» pela religião, tenha comiserado sobre o «corajoso» (sic) clero pedófilo, que foi obrigado a enfrentar o seu passado com este ignóbil relatório, contra o qual a Igreja tanto lutou. Mais concretamente, numa entrevista àITV News at Ten, o arcebispo afirmou:

«I think of those in religious orders and some of the clergy in Dublin who have to face these facts from their past which instinctively and quite naturally they’d rather not look at. That takes courage, and also we shouldn’t forget that this account today will also overshadow all of the good that they also did

Também acho que sim, que não se pode deixar de louvar a coragem de quem abusa, maltrata e tortura crianças durante décadas … haja paciência para tanto autismo!

em stereo na jugular

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