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  • 22 de Maio, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Irlanda – Protectorado do Vaticano

A Irlanda tem-se caracterizado pela influência eclesiástica a todos os níveis do poder. O reaccionarismo católico só encontra paralelo na dimensão dos escândalos do seu clero. Não há lei modernizadora que não depare com a intolerância da Igreja.

Ainda está na lembrança de todos a ordem do tribunal para reter uma adolescente cujos pais a queriam levar a Londres para abortar, na sequência de uma violação. O tribunal negava-lhe o direito de sair do país perante uma campanha de apoio orquestrada pelos padres. Depois explodiu com estrondo a denúncia do bispo que ocultava a paternidade mas transferia fundos da diocese para criar o filho.

Nos conventos, até 1960, enclausuravam-se as mães solteiras que “envergonharam a família”, a quem roubavam os filhos, e outras que convinha encarcerar para manter indivisa a herança. Eram ultrajadas e maltratadas. Foi a crueldade no máximo esplendor, com o conluio das famílias e do clero católico, durante longas décadas, até à decisão dos tribunais, que levou ao encerramento dos conventos/prisões e à libertação das detidas.

Agora surgem acusações de violências e abusos comprovados num relatório impecável: privação de alimentos, violências sexuais e agressões físicas a crianças. Um oceano de horrores em charcos de água benta.

Revela-se a perversão, o drama de milhares de crianças a quem roubaram a felicidade e os crimes do clero (padres e freiras) contra vítimas que deviam cuidar. O que revolta é a inépcia do Estado para controlar instituições religiosas porque, em vez da autonomia, há a conivência que impede a defesa da dignidade humana e a investigação dos crimes.

Durante seis décadas foram vítimas de abusos sexuais, violências físicas e humilhações, milhares de crianças, com o conhecimento das autoridades políticas e religiosas, com a cultura do silêncio a vigorar enquanto a vida de crianças era dramaticamente destruída.

Já, várias vezes, o Diário Ateísta levantou o problema da defesa dos direitos das freiras e dos monges enclausurados, a necessidade de psicólogos, assistentes sociais e médicos verificarem se a clausura é uma decisão livre ou a reclusão pia coberta pelo manto da fé e do poder discricionário do clero. A violência não é só contra crianças.

Só tivemos insultos. Defender a liberdade, contra os preconceitos da fé, é um dever que pode custar caro e demora. Como se vê na devota Irlanda.

Nota: Não podemos esquecer as crianças vítimas das madraças islâmicas.

Perfil de Autor

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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