Loading

Mês: Abril 2009

21 de Abril, 2009 Carlos Esperança

A ICAR e o preservativo

Por

E – Pá

USE DUREX®, s.f.f.

A ICAR sabe pouco de prevenção em Saúde.
Dedica-se a prevenção epistolar das tentações e, mesmo neste campo, falha amiudadamente.

Mas, mesmo sendo possuidora de uma olímpica ignorância, arremessa “sentenças” como as de Bento 16, na última peregrinação por África.

Infelizmente, a prevenção tem, sempre, as suas limitações.
Infalível só a morte, mesmo para os papas…

Todavia, se acaso, a Ciência – que Ratzinger cada vez mais hostiliza – descobrisse uma vacina contra a SIDA, é certo e garantido que o Vaticano, dentro dos seus princípios cabotinos, continuaria a defender a abstinência sexual como panaceia para todos os males do Mundo. Está-lhe no sangue.
O prazer é, para a Cúria pontifícia, uma aberração.

Todavia, o impressionante são as incríveis e despudoradas piruetas que a ICAR, sistematicamente, constrói para justificar as suas, cada vez mais frequentes, “barracadas”.

Pouco me importa a imposição do regime celibatário aos religiosos. É, no fundo, uma escolha – forçada, que mesmo o próprio clero trabalha para alterar.

Agora este tipo de dogmatismos são, profundamente, anti-sociais.
Qual seria o futuro da família, ou mesmo da Humanidade, se os cristãos adoptassem como modo de vida ou, in limine só para exibição exterior, um regime pretensamente celibatário?

Qual a dimensão do problema demográfico que levantariam, em certas regiões do Mundo?

Ao senhor cardeal patriarca e ao papa, aconselharia preservativos com controlo de qualidade.
Isso, bastaria para “desmontar” a recente argumentação, que para além de ridícula é absolutamente espúria…

20 de Abril, 2009 Carlos Esperança

A canonização de Nuno Álvares

Já se notam os primeiros sinais de pudor. Nem os reis católicos que sobram na Europa, habituados há gerações a ajoelharem-se perante o Papa e a obrigarem os súbditos a viver de rastos, se prestam já a serem figurantes no espectáculo das canonizações em série.

O Presidente da República compreendeu finalmente que as funções que ocupa num país laico são incompatíveis com a exibição pública das suas devoções particulares e vai mandar o chefe da Casa Militar a representá-lo.

O presidente da Assembleia da República far-se-á substituir pelo deputado Guilherme Silva.

Só falta que o CEMGFA delegue também num cabo de cavalaria a representação nas cerimónias religiosas no Vaticano.

Continua a não ser aceitável a presença, em nome do Estado, numa cerimónia religiosa, mas é menor a vergonha.

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) é, neste processo, uma referência ética do Estado laico.

20 de Abril, 2009 Carlos Esperança

Desonestidade teísta. Opinião de um leitor

Por

Adão Cruz

Li o artigo do Sr. Bispo Carlos Azevedo no Correio da Manhã. intitulado “Desonestidade ateísta”. Como subscrevo aquilo que foi dito pela AAP sobre o beato Nuno, resolvi responder ao Sr. Bispo, não para contestar o candidato a santo, nem as razões da igreja, a qual pode criar os santos que quiser. Penso que o que revolta a AAP não é a canonização mas a afronta feita aos cidadãos política e intelectualmente honestos, que não admitem que se comprometa, desta forma servil e com laivos de escândalo num Estado de Direito, a laicidade desse mesmo Estado, sobretudo através do seu mais alto representante. O Sr. Presidente da República e os outros membros da comitiva, não têm o direito de praticar actos do foro das suas crenças religiosas, a expensas do Estado e dos cidadãos portugueses. Nada mais Sr. Bispo. O resto que o Sr. Bispo refere é especulação e desonestidade teísta.
Gostaria de contestar, isso sim, algumas das considerações do Sr. Bispo. Em primeiro lugar, o Sr. Bispo chama à AAP um pequeno grupo quase residual na sociedade portuguesa. É uma consideração duplamente redutora. Na verdade é um pequeno grupo de ateus, até agora pequeno mas é o que é em pleno direito. Um pequeno grupo que pretende ter voz dentro do ateísmo, e isso não é demérito, antes pelo contrário. Se o Sr. Bispo não sofre de desonestidade teísta, tem de concordar que mais de metade da humanidade é ateia. Dentro desses muitos milhões de ateus, haverá muita gente de grande honestidade intelectual, de grandes capacidades e conhecimentos, gente muito humana e solidária, cumpridora de todos aqueles preceitos a que chamam cristãos, sem que para isso tenham necessidade de deuses.

Diz o Sr. Bispo que respeita e considera como sério o ateísmo. Não acredito que seja verdade, porque ao dizê-lo, parece-me haver alguma desonestidade teísta. Como é possível o Sr. Bispo dizer tal coisa, quando a vossa igreja, através de um dos seus doutos sacerdotes, clama bem alto que o ateísmo é o maior drama da humanidade? Será sensato dizer que se respeita e se tem consideração pela fome, pela injustiça, pela guerra e pelo obscurantismo, esses sim, os verdadeiros dramas da humanidade?

Classifica o Sr. Bispo as considerações da AAP de posições extravagantes, fazendo parte de uma campanha anticatólica. Se não houver desonestidade teísta da parte do Sr. Bispo, concordará certamente, porque disso tem muitas provas, que os ateus e a AAP sempre fizeram questão de afirmar que respeitam a fé e as crenças das pessoas no que quer que seja. Sobre isto não pode haver a mais pequena dúvida. Contudo, isto não impede que um ateu como qualquer outra pessoa, religiosa ou não religiosa, como cidadão e ser pensante, tenha a sua forma de entender as coisas e os fenómenos, e o manifeste da maneira que melhor entender. Por exemplo, e temos todo o direito de o dizer, nós consideramos com grande convicção que a ciência e o conhecimento são, de uma maneira geral, antagonistas da fé e das crenças, e a ignorância o seu principal agonista. Contestável este pensamento? Permitam que façamos os debates necessários, onde quer que seja.

Quanto à campanha anticatólica, também não me parece que haja aqui, da parte do Sr. Bispo, grande honestidade teísta, pois o Sr. Bispo sabe bem que a AAP e os ateus em geral, nunca por nunca mostraram nem estão interessados em combater as posições e as opções de cada um em termos religiosos, políticos ou outros. Seria absurdo. O mesmo não significa, que o ateu ou não ateu, um qualquer cidadão, deixe de tomar posição e de ter consciência do papel que a igreja católica terrena, como fenómeno social, tem tido através dos tempos. E aqui é que a porca torce o rabo. Aqui é que a igreja, sofismaticamente, pretende confundir a justa crítica ao seu comportamento, com anticatolicismos e coisas do género. Aqui sim, há da parte da igreja grande desonestidade teísta. As considerações que se seguem, são pessoais, reflectem a minha visão das coisas e não posso colá-las a quem quer que seja.

Há hoje em dia, na literatura, uma profusão de livros, de testemunhos, e um conhecimento profundo sobre o que é e foi a igreja católica e o seu alto comando, o Vaticano. Longe de mim pretender ensinar alguma coisa ao Sr. Bispo. Não vou recomendar-lhe Richard Dawkins, deve estar farto de o ler. Nem penso que seja útil, porque a maioria do clero tem os seus padrões neurais tão blindados por dogmas e preconceitos, que não permitem a abertura suficiente para a entrada de argumentos deste teor. Mas há muitos mais livros, documentos e testemunhos, que só por desonestidade teísta se podem considerar mentirosos ou pouco sérios. Aliás, se o fossem, já a igreja, com todo o seu poderio económico e todo o seu poder de influência, tinha posto os autores atrás das grades. Lembro apenas um, de leitura muito fácil, bem compreensível e transparente, que vendeu cerca de seis milhões de exemplares: “EM NOME DE DEUS” de David Yallop. Seria insensato acreditar que o Sr. Bispo, ou quem quer que seja, pusesse em causa o que lá vem, aliás relatado, por outras formas e estilos, em muitos outros livros, nomeadamente do FBI. E o que lá vem é absolutamente vergonhoso, escandaloso, tenebroso e devastador para a igreja católica. De facto, o que ali é relatado, não deixa qualquer dúvida de que à igreja católica pouco interessa a salvação das almas. A igreja está tão interessada na salvação das almas como eu estou interessado em ser papa. A fé não passa do rótulo da garrafa, o conteúdo é bem diferente. Ali se demonstra que a igreja apenas está interessada na desenfreada especulação económico-financeira, na brutal criação de riqueza terrena e na conquista do poder, esteja ele onde estiver, ainda que para tal haja necessidade de crimes e assassinatos como o que vitimou o Papa João Paulo I. Percebe-se que a história é fértil e está repleta de exemplos escandalosos. Por isso o Vaticano vem sempre acusado de ter profundas ligações ao submundo da máfia, do crime organizado, da CIA e da altíssima corrupção a nível económico e político. Relatam os livros que alguns dos maiores crimes e algumas das maiores fraudes económicas e financeiras de todos os tempos, italianas e não só, tiveram o Vaticano pelo meio. Só é cego quem quer. É por estas e por outras que aqueles que procuram ter os olhos abertos, concordam perfeitamente que a igreja é a maior fábrica de ateus.

Sr. Bispo Carlos Azevedo, pare um pouco para pensar. Não lance para o ar, de ânimo leve, este tipo de questões. Acredite que há muita gente honesta, séria, e cheia de dignidade, que não pensa como o Sr. Bispo. Respeite essa gente a que chama de extravagante e intelectualmente desonesta. Que a igreja tenha a honestidade de não confundir a crítica ao seu criminoso passado e ao seu mais que duvidoso presente, com ateísmos, radicalismos, anticatolicismos e anticlericalismos. Que tenha a humildade de reconhecer que traiu da forma mais vil e grotesca a doutrina de Cristo, que procure inverter o seu perverso e malfadado percurso e retome o caminho da pobreza e da justiça, os seus alicerces naturais. Muito provavelmente, até os ateus, sem dela precisarem, a respeitarão.

Adão Cruz

19 de Abril, 2009 Carlos Esperança

A ICAR e a canonização de D. Nuno

Por

E – Pá

AS ESPECIOSAS E HONORÍFICAS SANTIFICAÇÕES…

A Europa, foge-lhes, debaixo dos pés…
Gradativamente, as nações, foram criando países laicos e relegando para segundo plano as honrarias e as submissões divinas…

A ICAR e outras Igrejas perdem influência na manobra política, por processos eminentemente civilizacionais.

Mesmo em casos, como o anglicanismo que, historicamente, é uma religião de Estado, a sua existência é simbólica, protocolar e é mais um pergaminho evocado pelos descendentes de Henrique VIII, baseado em questões pessoais e políticas de antanho, do que uma actual intromissão da religião no poder político inglês.

A ICAR foi morrendo aos poucos, exactamente, como na Reforma. Por uma total perda de identidade.
No séc. XVI entrou em conflito com o pensamento renascentista. Nos tempos actuais com a modernidade.

De facto, quando a ICAR giza, como resposta, a contra Reforma corporizada pelo concílio de Trento, onde é guiada pelo medo de perder a predominância política que já estava em causa, ou definitivamente perdida, nos países protestantes, do Centro e Norte da Europa. As ideias renascentistas tinham sido captadas e adoptadas pela burguesia emergente e as instituições bancárias. Isto é, pelo novo poder político, social e cultural, emergente.

O concílio de Trento é uma resposta pouco digna e rudimentar. É o estertor repressivo: insistir na catequização dos nativos que surgiam nos Descobrimentos (fundamentalmente portugueses e espanhóis), intensificar a Inquisição e promover a criação do Index Librorium Proibitorium (Índice de Livros Proibidos) para evitar a propagação de ideias contrárias à Igreja Católica.

É, em Trento, que a ICAR perde definitivamente a Europa.
Com a sua lentidão tradicional só o irá sentir séculos mais tarde.

Nos tempos actuais os chefes do catolicismo peregrinam fora da Europa.

A cultura europeia tornou-se refractária para aceitar o seu efectivo – mas sempre negado – divórcio entre a Religião e a Ciência, para tolerar intromissões moralistas na vertente social e livre da vida europeia comunitária, confundindo-as com posições éticas e, com isso, interferindo nas questões sociais do aborto, do direitos cívicos dos homossexuais e na aceitação das minorias e da diferença, alimentaram um clima de conflitos e de crispação, quando não homofóbico.

Esta a segunda morte, o combate contra a evolução do pensamento humano, quer social, político e filosófico, leva a ICAR a não conseguir, na sua necessária dimensão, um aggiormanento, com a realização do Concílio Vaticano II.

A ICAR volta-se, na época pós-conciliar, para as peregrinações pelo Terceiro Mundo, fora dos conflitos culturais, éticos e sociais de uma Europa que emancipando-se politicamente, separando a religião do Estado e recusando a dogmatização da vida e do pensamento, deixou de ser o seu suporte teológico e um terreno dinamizador para as doutrinas canónicas e teocráticas.

Com Bento XVI, estiolam-se os poucos e raros ganhos deste Concílio.

Hoje, a ICAR tenta penetrar nos meios europeus pelo caminho dos santos, incidindo nos limites periféricos dessa Europa onde, apesar de tudo, prevalecem algumas superstições, existe uma maior tolerância ao sobrenatural e mais complacência pelo místico.

Foi em Espanha, com a santificação-relâmpago de Escrivá, canonizações e santificações avultadas e avulsas de ex-falangistas que, querendo reconquistar os crentes, não pacificaram o ambiente cristão espanhol…

Por cá, depois do processo dos pastorinhos, agora o do (ainda) beato Nuno.
Em Portugal perde-se a noção dos limites do credível.
Ninguém ouve a Igreja – como o patriarca Policarpo – que, apesar de continuar a ser religioso, representa a sua vertente culta, humana e responsável.

E, na actual miséria franciscana, surge o bispo Carlos Azevedo de braço dado com a D. Guilhermina, num quadro de ridículo espantoso e de menosprezo pela inteligência dos portugueses a filosofar contra o ateísmo.

Resta aos que – como bispo Azevedo – dizem aceitar o ateísmo no plano da retórica filosófica, toleram mal os que se assumem e associam como ateus e que no fundo pretendem que acreditemos no Pai Natal ou na cura inacreditável de D. Guilhermina…não nos lacem o labéu de anti-patriotas por não apoiarmos, na Europa, um santo português e criticarmos uma especiosa representação do Estado nas cerimónias de santificação ou de glorificação de Nuno Alvares Pereira, de sua graça.

O dignitários portugueses vão pôr-se de joelhos no Vaticano, porque, como dizia o meu avô:
o respeitinho é muito lindo!

19 de Abril, 2009 Ricardo Alves

Fim da educação religiosa na Macedónia

Entre os países ex-comunistas do leste da Europa, há aqueles onde a religião voltou em força (caso da Polónia), e aqueles que estão prestes a abandoná-la totalmente (caso da República checa).

Soube-se agora que o Tribunal Constitucional da Macedónia decidiu anular um artigo da Lei da Educação que permitia o ensino da religião nas escolas públicas. A religião será ensinada onde deve sê-lo: em casa e nos templos religiosos.

Sem dúvida um sinal positivo: há pelo menos uma república ex-jugoslava que parece ter tirado conclusões do divisionismo religioso que ensanguentou a região nos anos 90. Permitir a segregação religiosa na escola pública é sempre um erro.

18 de Abril, 2009 Ludwig Krippahl

Treta da semana: A honestidade do milagre.

O Bispo Auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, escreveu ontem no Correio da Manhã sobre o que chamou “desonestidade ateísta”: «Porque respeito e considero o ateísmo atitude séria, estranho esta campanha anticatólica, mascarada de ateísta. Afirmar que Nuno Álvares Pereira foi canonizado graças a um milagre que ridicularizam, é desonesto.»(1)

Eu, ateu, não respeito o ateísmo nem o considero intrinsecamente sério. Enquanto atitude, o meu ateísmo pessoal é tão sério quão sério me sinto no momento. Sou ateu tanto a sorrir como a franzir o sobrolho. E enquanto ideia acerca deste universo o ateísmo não merece respeito. Nem deve ser respeitado. Como qualquer ismo, deve ser avaliado e discutido sem o pudor e a parcialidade que o respeito obriga. O respeito reservo-o só para quem sente. Não o desperdiço em ideias abstractas. E uma forma de respeitar as pessoas é precisamente pela critica frontal e justificada das ideias que propõem. Menos que isso é condescendência ou aldrabice, e nenhuma dessas é respeito.

A primeira ideia a criticar é que os ateus que troçaram do milagre do óleo conduzem uma «campanha anticatólica, mascarada de ateísta.» Não é verdade. Se há campanha é antitreta. Aos católicos que se sintam especialmente visados recomendo que dependam menos dos milagres para a sua fé ou que mudem de Papa. Melhor ainda, façam ambas.

Mas a tese central de Carlos Azevedo é ser desonesto «[a]firmar que Nuno Álvares Pereira foi canonizado graças a um milagre». No entanto, ele próprio admite que o milagre foi uma das condições necessárias à canonização: «A canonização […] tem como razão primeira as virtudes fora do comum […]: entrega total ao serviço da pátria, confiança absoluta em Deus, perdão, partilha, serviço aos pobres. A segunda prende-se com a fama de santidade[…]. Só em terceiro lugar se atende, como confirmação, à ocorrência de um milagre».

As criticas dos ateus e da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) não visaram as virtudes patrióticas de Nuno Álvares Pereira nem a opinião popular. Não me oponho que o considerem um patriota nem me diz respeito que Guilhermina de Jesus lhe peça milagres. A crítica foi à confirmação por um milagre que não é preciso ridicularizar de tão ridículo que é. E esta crítica não depende do milagre ser a única razão para canonizar o estimado general. Haver outras razões é irrelevante. A fantochada é a mesma.

E, por falar em desonestidade, Carlos Azevedo afirma também que «É o mesmo anticatolicismo primário a motivar o desacordo com o facto de o Presidente da República integrar uma Comissão de Honra que promove comemorações destinadas a valorizar a dimensão nacional de Nuno Álvares Pereira.». Isto é falso. O problema que a AAP apontou não foi a valorização da “dimensão nacional” de ninguém (2). O problema é o Presidente da República e vários dignatários do governo representarem o nosso país numa missa católica, no Vaticano, celebrada pelo Papa para comemorar o selo de “santo” que esta igreja atribui ao Nuno Álvares Pereira. Que não é santo por ter sido bom general ou bom português. É por ter demonstrado «confiança absoluta em Deus». No deus dos católicos, entenda-se. Se fosse ateu, judeu, muçulmano ou budista o Papa não o canonizava, por muita virtude que tivesse.

Como respeito as pessoas aceito, e defendo, que cidadãos como Aníbal Cavaco Silva e Carlos Azevedo são livres de crer no que quiserem e o celebrarem como entenderem. Mas esse mesmo respeito pelas pessoas faz-me opor à participação oficial do estado português nesta missa. A condecoração da santidade católica exalta e reconhece a fidelidade ao deus dos católicos. Tanto por decência como pela constituição o estado deve isentar-se destas matérias, não galardoando ou censurando ninguém por fidelidade a qualquer deus. E uma parte integrante deste processo de canonização é a crença supersticiosa que o fantasma de Nuno Álvares Pereira vagueia pelo éter, ouve preces e convence esse deus a fazer milagres.

Carlos Azevedo conclui, como é costume nestas coisas, afirmando que «A identificação […] entre religião e superstição é enganadora e velha.» Velha, é. Tão velha como ambas. Mas que é enganadora, como também é costume, só afirma. Como muitos outros, fica aquém de explicar a diferença entre a superstição e a crença em milagres.

1- Carlos Azevedo, CM, 17-4-09, O Alicerce das Coisas, Desonestidade ateísta
2- Comunicado da AAP, 5-4-09, A canonização de Nuno Álvares Pereira

Em simultâneo no Que Treta!.

18 de Abril, 2009 Carlos Esperança

Conferência sobre ateísmo

mailgooglecommailgooglecom_11
Conferência sobre o ateísmo, realizada dia 17 de Abril,  graças ao esforço e dedicação do nosso consócio Manuel Fernandes, na Cooperativa Cultural e Popular  do Barreiro. Aqui ficam imagens, da mesa e da assistência,  sobre o acontecimento.

Nota: O Diário Ateísta agradece à AAP e a Vítor Santos as fotos e o relato do acontecimento.

18 de Abril, 2009 Carlos Esperança

Resposta ao bispo Carlos Azevedo – AAP

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) contesta o artigo do senhor bispo católico, Carlos Azevedo, no Correio da Manhã, com acusações cuja legitimidade respeita mas que francamente repudia.

Regozijamo-nos, naturalmente, com a consideração e respeito que o senhor bispo diz ter pelo ateísmo, afirmação surpreendente face à excomunhão papal, às perseguições da Igreja católica e à forma como ele próprio se refere à AAP. Recordamos-lhe, a propósito, a peregrinação a Fátima de 13 de Maio de 2008, «contra o ateísmo» e a convicção do senhor patriarca José Policarpo: «Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade».

Insólita num bispo católico, registamos a referência à «debilidade de todos os sinais da presença de Deus», numa arrojada manifestação de agnosticismo mitigado.

Mas o senhor bispo percebeu mal, ou deturpou, a posição da AAP em relação à canonização de Nuno Álvares e à lamentável cobertura que o Presidente da República, o Presidente da AR, membros do Governo e deputados deram à canonização, incompatível com um Estado laico onde é legítimo exaltar as virtudes do herói mas inaceitável rubricar os milagres de um santo.

Diz o senhor bispo Carlos Azevedo que «afirmar que Nuno Álvares Pereira foi canonizado graças a um milagre, que ridicularizam, é desonesto», como se fosse a Associação Ateísta a inventar o milagre, e não a Igreja católica, e como se o milagre  não fosse condição sine qua non para a canonização. Que o senhor bispo se envergonhe do milagre obrado no olho esquerdo de D. Guilhermina, queimado com óleo fervente de fritar peixe, à custa de duas novenas e um ósculo numa imagem do Condestável, é um problema seu.
O senhor Patriarca Policarpo preferia a canonização por decreto, como afirmou publicamente, à exigência de Bento XVI que, na opinião do teólogo Hans Küng, está a devolver a Igreja à Idade Média, mas quem manda é o antigo prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-Santo Ofício).

Assim, ignorando os juízos de valor e os ataques do senhor bispo Carlos Azevedo, a AAP reitera o seguinte:

– O Estado laico é a condição essencial de uma democracia e, na opinião da AAP, fica irremediavelmente comprometido com a participação dos altos dignitários do Estado, em nome de Portugal, numa cerimónia de canonização, estabelecendo uma lamentável confusão entre as funções de Estado e os actos pios do foro individual, prestando-se ao reconhecimento estatal da superstição;
– A AAP entende que o prestígio do Condestável não se dilata com o alegado milagre e que, se deus existisse, podia mais facilmente ter evitado os salpicos de óleo que queimaram o olho esquerdo de D. Guilhermina, enquanto fritava peixe,  do que ter de a curar para o beato virar santo;
– A AAP duvida da capacidade de um guerreiro morto, apesar de ilustre, para actuar como colírio e duvida de D. Guilhermina, que se lembrou de recorrer à intercessão de um herói, sem antecedentes no ramo dos milagres, em vez de procurar um oftalmologista, e
– Finalmente, a AAP repudia que a peregrinação a Roma se faça a expensas do Estado português.

Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 18 de Abril de 2009