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Mês: Março 2009

15 de Março, 2009 Carlos Esperança

Bento 16 – Papa integrista

Ainda cardeal, Bento XVI autorizou ensaio em revista ultradireitista

Arquidiocese de Viena dizia que texto tinha saído sem autorização.
Versão obtida pela revista “Der Spiegel” contra outra história.

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Há quem tenha visto na reintegração dos seguidores do bispo fascista Marcel Lefebvre na Igreja católica a reabilitação efectuada por Bento 16 das posições anti-semitas e antidemocráticas do bando fascista.
É uma injustiça para com o Papa e uma ofensa ao Vaticano. É insinuar que o Papa não é anti-semita e antidemocrata. É insinuar que o Vaticano é um bastião da liberdade e um santuário do livre-pensamento.

Não há a mais leve suspeita sobre a simpatia de B16 pelos princípios democráticos nem o mais leve indício de que seja contra o anti-semitismo.

Aliás, o regresso ao latim indicia a sintonia fraterna com o bando dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) fundada em Êcone, no ano de 1970, por retaliação às reformas do concílio Vaticano II.

O patrono escolhido para esse movimento foi o indício seguro do desvario reaccionário dos primatas tonsurados de Êcone. Pio X, papa de 1903 a 1914, foi um violento opositor à modernidade.

Os que dizem que o papa Ratzinger exige que os bispos da FSSPX aceitem as decisões do Concílio Vaticano II mentem e ofendem-no duplamente. Em primeiro lugar, porque em Junho de 2008, Bento 16 renunciou à exigência de que esses clérigos admitissem as decisões do Concílio Vaticano II e jamais, ele próprio, deu sinais de se conformar com tais deliberações, nomeadamente quanto à liberdade religiosa.
Bento 16 é fiel à memória de Lefebvre, aos elogios que ele fez a Franco, Pinochet e Le Pen e não pode deixar de se embevecer com um dos seus últimos sermões, em 1990: «O ateísmo baseia-se na Declaração dos Direitos Humanos».

Há quem pretenda, por cautela, fazer crer que Bento16 é um extremista razoável, uma espécie de talibã de rosto humano. É um estratagema para conservar os crentes que desconhecem a maldade do Vaticano e o pensamento do Papa.

14 de Março, 2009 Carlos Esperança

A solidão do último ditador europeu

CIDADE DO VATICANO, Santa Sé (AFP) — Entre a questão dos bispos fundamentalistas e a situação polêmica de uma excomunhão lançada contra a mãe que levou a filha violada para abortar – e que foi desautorizada em seguida pelo Conselho Nacional de Bispos do Brasil – o fosso se aprofunda entre o Vaticano e uma parte da Igreja Católica.

14 de Março, 2009 Carlos Esperança

Fascistas? Não, obrigado

O prefeito de Zaragoza, na Espanha, quer dar o nome de José Maria Escrivá – o fundador da Opus Dei – a uma rua. Houve revolta e polémica na cidade. Não se aceita mais a presença de qualquer igreja em espaços republicanos. As religiões são maus negócios para a maioria dos homens, que precisam aboli-las do espaço público. A era da religião-instituição, como observa o filósofo Gianni Vattimo, terminou.

13 de Março, 2009 Ricardo Alves

Sejamos tolerantes com o fascismo e o crime, diz Ratzinger

Para se justificar da desexcomunhão dos lefebvristas, Ratzinger sai-se com esta:

  • «Poderemos nós simplesmente excluí-los, enquanto representantes de um grupo marginal radical, da busca da reconciliação e da unidade? E depois que será deles?»

É bonito. É aquela coisa cristã da abertura a todos, do criminoso ao violador, do pedófilo ao genocida, todos-mesmo-todos encontram a ICAR aberta, menos, evidentemente, as mulheres que abortam ou os homens que gostam de outros homens. Isso sim, é inadmissível.

Ratzinger diz-nos mais:

  • «Às vezes fica-se com a impressão de que a nossa sociedade tenha necessidade pelo menos de um grupo ao qual não conceda qualquer tolerância, contra o qual seja possível tranquilamente arremeter-se com aversão.»

Tem razão. Há coisas que serão sempre crime, em qualquer país e em qualquer língua: o homicídio, a violência gratuita, a selecção de grupos sociais para serem discriminados ou eliminados, etc… Espera lá. O nazismo fez isso tudo. Alguns fascistas gostariam de repeti-lo. Ratzinger acha que os deveríamos «tolerar»? A sério?

Sem mais comentários.

13 de Março, 2009 Ricardo Alves

Ratzinger afirma-se info-excluído. Acredite quem tiver fé…

Sobre o caso Williamson, o Papa dos católicos explica-se assim:

  • «Disseram-me que o acompanhar com atenção as notícias ao nosso alcance na internet teria permitido chegar tempestivamente ao conhecimento do problema. Fica-me a lição de que, para o futuro, na Santa Sé deveremos prestar mais atenção a esta fonte de notícias

Portanto, quer convencer-nos de que, no Vaticano, ninguém tem acesso à internet. Os seus assessores só usam os computadores para escrever cartas e fazer tabelas de contabilidade. Não há empresas de telecomunicações que lhes façam contratos, muito menos rede sem fios em toda a «cidade» do Vaticano. Não há agências noticiosas do Vaticano na internet. O site do Vaticano deve ser pirata. O canal do Vaticano no youtube é no gozo. O do twitter também não existe.

Enfim, admito que Ratzinger seja info-excluído. Mas tentar convencer-nos de que não sabia nada sobre o extremismo político-religioso dos lefebvristas (que conhece há pelo menos 20 anos), e que ninguém em toda a Praça de S. Pedro e arredores usa a internet para se informar sobre religião, é tomar-nos por parvos.

13 de Março, 2009 Carlos Esperança

Beato Carlos Encarnação e a toponímia

Já bastava a Coimbra que o pio edil Carlos Encarnação, desnorteado pela fé, tivesse crismado a Ponte Europa com o nome de uma rainha milagreira e santa, sobrinha-neta de outra, também Isabel e santa, húngara e pioneira no mesmo milagre.

A dificuldade da administração autárquica virou-o para a gestão toponímica. Rua a rua, beco a beco, onde pensa que arranca um voto, atira um nome novo à placa toponímica. É uma forma de conquistar votos à custa das paredes das casas e das ruas de Coimbra.

Nem a Irmã Lúcia poupou à fúria com que crisma piamente as artérias da cidade. Não deu, sequer, tempo à freira para se afirmar no ramo dos milagres, para a deixar prestar provas de beata e santa, arriscando-se a tornar obsoleta a placa onde a bem-aventurada ostenta, provisoriamente, apenas a profissão, o nome e, entre parêntesis, o hobby: «Rua Irmã Lúcia (Vidente de Fátima)».

Talvez para fazer o desmame da água benta e uma curta trégua ao incenso, resolveu agora o bem-aventurado Carlos Encarnação optar por um nome profano e dar folga à onda de santidade a que tem o nome associado. É o caso da Rua Maria José Maurício, ontem prometida aos microfones do Rádio Clube português.

Para os leitores do Ponte Europa aqui fica a biografia da homenageada: Era estudante de engenharia, tinha 20 anos e foi assassinada, por motivos passionais, num acto de demência, pelo antigo namorado.

Segundo Carlos Encarnação «A atribuição do nome da rua é, no fundo, uma forma de repercutir a reprovação destes actos».

Se os nomes das ruas servem para reprovar actos, só por modéstia se compreende que o Dr. Carlos Encarnação não tenha entrado ainda no património toponímico da cidade de Coimbra.