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  • 28 de Março, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Liberdade em risco

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou anteontem, dia 26, uma resolução que condena a difamação religiosa, passando a considerar o acto como uma violação aos direitos humanos e pedindo que os governos legislem no sentido de protegerem as religiões contra as críticas.

A proposta apresentada pelo Paquistão e co-patrocinada pela Venezuela – dois países de sólidas tradições democráticas, um islâmico e outro cristão –, foi aprovada por 23 votos a favor e 11 contra, num conselho formado por 47 países.

Esta vitória muçulmana, uma religião com lúgubres tradições no respeito pelos direitos humanos, arrepia quem defende o livre-pensamento. A Liga Islâmica defende o Corão em toda a sua crueldade: lapidação, amputação de membros e decapitação de infiéis. Não Pode zelar pela igualdade de sexos, laicidade do Estado e emancipação da mulher.

Se o Islão, secundado por outras religiões, visse cumprida a resolução aprovada, nos países laicos, a democracia seria a primeira vítima. Não pode ser delito denunciar a moral anacrónica, delito é pactuar com os crimes que as religiões cometem, com a ignorância que cultivam e a superstição a que sujeitam os seus crentes.

Se o cristianismo considera o Antigo Testamento como parte da Bíblia é cúmplice do racismo, da xenofobia e da crueldade, inspirados naquele livro hediondo.

Ridicularizar o bispo que atribuiu a destruição de Nova Orleães a castigo de Deus, pelos pecados dos homens, talvez venha a ser difamação religiosa mas é um acto de higiene. Acusar o Papa Bento XVI de troglodita por mentir em relação à eficácia do preservativo e, sobretudo, por condenar a sua utilização, é um dever de quem apoia o combate contra a disseminação da epidemia e não pode intimidar os que combatem a sida.

Duvidar da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus por intercessão de santo Pereira pode virar delito e a gargalhada ser punível com prisão. Negar que o arcanjo Gabriel soubesse árabe e tivesse ditado o Corão a Maomé pode tornar-se perigoso mas a sanidade mental exige que não se acredite em anjos.

A religião que permite e impõe os casamentos combinados, que legaliza matrimónios de meninas de 9 anos, discrimina as mulheres, assassina infiéis, adúlteras e apóstatas passa a merecer respeito e a poder retaliar contra quem aprecie presunto e vinho do Porto.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU, em vez de proteger os Direitos Humanos, como lhe compete, fragilizou-os de forma beata e deu razão a extremistas violentos e perigosos.

É preciso estar atento à escalada religiosa que devora os direitos que a nossa civilização conquistou. A Idade Média durou mais do que devia e o regresso é intolerável.

Perfil de Autor

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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