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Mês: Janeiro 2009

10 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Assaltantes de igrejas

A GNR identificou na região de Oliveira de Azeméis, os alegados autores de, pelo menos, 35 assaltos a Igrejas e Capelas na zona Centro do país.

É um bando de delinquentes à procura do óbolo que os crentes deixam nas caixas de esmolas para comprarem os favores dos santos junto do mito que a ICAR explora há dois mil anos. São promessas de gente que frequenta as bruxas, a Senhora da Ladeira, Fátima e outros locais de recolha das esmolas, que não interferem nos milagres.

Os malfeitores merecem o castigo terreno para os crimes praticados, seja o assalto às caixas das esmolas ou o roubo de arte sacra, mas é irónico que a ICAR se queixe dos roubos sem ter de justificar a proveniência. No mínimo, as esmolas contribuem para o enriquecimento ilícito pois não está provado que ao esbulho dos crentes corresponda qualquer benefício em troca.

Aliás, os ladrões podem sempre argumentar que ouviram uma voz que lhes pediu para levarem o dinheiro e as peças de arte sacra para distribuírem o produto pelos pobres, facto com um grau de probabilidades idêntico às conversas que a Virgem teve com os pastorinhos, em Fátima, e incomparavelmente superior à possibilidade de Pio XII ter visto o Sol às cambalhotas nos jardins do Vaticano.

Não sei como um tribunal poderá ser insensível à possibilidade de a Virgem ter incitado os meliantes a distribuírem os valores sacros pelos pobres, dado que, entre as suas habilidades, consta a capacidade de meter a mão nas entranhas de um papa supersticioso e desviar-lhe a bala dos órgãos nobres.

Entre a negação dos milagres da ICAR, igualmente inverosímeis, e a absolvição dos meliantes, os juízes são obrigados a decidir. Sem recurso para o tribunal divino.

9 de Janeiro, 2009 Ludwig Krippahl

Evolução: Por toda a parte

É comum, e errado, pensar a evolução como progredindo para um fim. A sequência do peixe que se transforma em anfíbio, réptil, mamífero e finalmente em homem sugere que o peixe já planeava unhas e cabelo. Mas a evolução é mais como um balde de berlindes despejado contra a parede. Em retrospectiva, cada encontrão e ressalto parece ter servido para pôr aquele berlinde exactamente ali. Mas ia parecer o mesmo qualquer que fosse o sítio ou o berlinde. O filme de cada berlinde faz parecer que havia um plano a seguir mas a visão do conjunto desengana-nos.

Assim, podemos distinguir dois problemas. Um é compreender as nossas origens sabendo já que existimos. É traçar, em retrospectiva, o trajecto que o berlinde percorreu. A física e a teoria da evolução explicam o que levou aquele berlinde ou aquela espécie a estar ali e a ser como é. Bem diferente é ponderar o que temos de especial para que a evolução conspirasse criar-nos. Esse é um falso problema. É como perguntar o que tem o berlinde azul de especial para que todos os outros o empurrassem exactamente para onde calhou. Nada. Se repetíssemos a experiência nem aquele berlinde ia parar ali nem nós seriamos como somos.

Isto não reduz a física e a teoria da evolução à narrativa do passado. A curto prazo podemos prever com detalhe as trajectórias dos berlindes ou as variações das características nas populações. O que faz a incerteza eventualmente dominar as estimativas é a complexidade dos sistemas, não a natureza das teorias. E há aspectos previsíveis mesmo a longo prazo. Podemos prever aproximadamente a distribuição dos berlindes pela sala em função da altura a que despejamos o balde, da espessura da alcatifa ou dos obstáculos que há no chão. E como olhos, pernas, asas e mandíbulas evoluíram independentemente várias vezes, podemos prever que se repetíssemos a evolução da vida na Terra, essas características iriam surgir de novo*.

Outro falso problema é haver seres vivos cada vez mais complexos. A vida surgiu com microorganismos simples que se juntaram em organismos multicelulares e eventualmente deram florestas, baleias e nós. Parece que uma tendência misteriosa os empurrou para a complexidade. Mas a tendência, tal como nos berlindes que se espalham pela sala, é apenas que a vida se espalhe pelas configurações que se reproduzem com sucesso. E a vida também começou contra a parede, encostada ao mínimo de complexidade abaixo do qual não é possível competir como ser vivo. Dali só havia um lado para onde se espalhar. De qualquer forma, ainda hoje quase todos os seres vivos são bactérias. Salvo raras excepções, a vida continua encostada à parede.

A evolução não conduz a vida a um destino ordenado. Espalha-a caoticamente por todos os cantos e feitios em que esta prolifere, revelando que, contrariamente ao que se acreditou durante muito tempo, o universo não foi feito a pensar em nós. E isto incomoda alguns. Como ao berlinde que desse graças pela posição privilegiada que supunha merecer, também a muita gente incomoda saber que somos o que nos calhou pelo entornar do balde. Além disso, a evolução não é só algo que aconteceu. Está a acontecer. Os berlindes espalham-se com o balanço da queda e param em pouco tempo, mas a evolução é empurrada pela energia de uma estrela com cinco mil milhões de anos pela frente.

Por isto, a teoria da evolução é incompatível com um propósito inteligente para a nossa origem. Alguns tentam conciliar a teoria da evolução com um plano divino propondo que a evolução foi apenas o mecanismo que o criador escolheu para nos criar, mas isto não faz sentido. Estamos a meio do processo e não é coisa a que recorra quem sabe o que quer e como o obter. Para pôr o berlinde azul exactamente naquele canto não se despeja o balde do outro lado da sala. A evolução, como método de criação inteligente, só faria sentido se o criador não soubesse bem o que queria e pusesse tudo a mexer a ver se dava alguma coisa interessante.

Mas o pior em tentar conciliar a teoria da evolução com uma criação inteligente é não perceber uma parte importante do que a teoria nos diz. Que não é preciso inteligência nem propósito para a vida surgir, evoluir e tornar-se inteligente. Basta herança com modificação e tempo para que, mais cedo ou mais tarde, a vida se espalhe o suficiente para encontrar um canto de onde possa compreender a sua origem.

* Assumindo que já havia triploblastos (quase todos os animais excepto alguns como alforrecas, esponjas e corais). A evolução é mais complexa que um balde de berlindes, e pode ter sido uma grande sorte terem surgido certas coisas como eucariontes e embriões com três camadas.

Em simultâneo no Que Treta!

9 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Genes

Por

José Moreira

Será desta vez que o imponente mas cada vez mais decrépito “edifício religioso” começa a desmoronar-se? É que pelas igrejas, e nas cerimónias de casamento, os padres ainda vão exortando os casais a aceitar “das mãos de Deus os filhos que ele (Deus) se dignar conceder”. O que pressupõe, julgo eu, que não sou bom em língua portuguesa, a aceitação dos filhos como Jeová entender. Aliás, parece ser isso que se depreende das palavras vaticanícias, que condenam o aborto mesmo que o feto seja deficiente.

Pois é. Mas as pessoas devem, já é tempo disso, começar a perguntar: “Os filhos que Deus me conceder e como conceder, ou os filhos que eu quiser e como eu quiser?” É que a ciência não pára, para o bem da humanidade e para desespero das hostes da sotaina.

Ainda não há muito tempo, quando se falou na possibilidade que adiante aponto – agora não como possibilidade mas como um facto consumado – o Papa Ratzinger, por alcunha ” Bento 16″, espumava: “Não se intrometa o homem na obra de Deus”. Claro que não, “seu” Joseph. O homem só intervém na obra da ciência. Na obra de Deus intervém vossa santidade, seja lá isso o que for. E por muito que lhes custe, por muito que vociferem, por muito que arrepelem os cabelos, a ciência obteve mais uma vitória. Já começa a ser possível evitar certas doenças futuras, muito tempo antes de a criança nascer.

É um pequeno passo? Não!!! É um enorme passo, um passo de gigante. A partir daqui, a erradicação de certas doenças, principalmente as de etiologia genética, deixa de ser uma utopia. Só tenho medo de não conseguir ver a redução drástica de muitos casos de cancro, por exemplo, ou de outras doenças de carácter hereditário.

Não faz mal. Já cá deixei quem possa ver isso por mim.

9 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

A laicidade esquecida

Ontem o Diário de Notícias exibiu o arcebispo D. Armando, exorcista militante, que vive das consultas e faz exorcismos de borla (ou de burla). Claro que o exercício ilegal de medicina está sob a alçada da lei e a Ordem dos Médicos, que nunca processou os santos pelos milagres que obram, talvez por estarem mortos, pode e deve processá-lo.

Surpreendente é a posição do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, bispo de Braga, estabelecido com um negócio concorrente, afirmar que «se visse isso na minha diocese ia participar às autoridades competentes». Ora, o que o bispo de Braga afirma, para lá da deselegância para com o patriarca de Lisboa, é que há quem tenha direito a exorcizar (ele próprio) e quem careça de alvará legítimo.

Não sei como pode o Estado português pronunciar-se sobre habilitações que escapam às instituições de ensino legais e, sobretudo, como pode distinguir um exorcista verdadeiro de um falso. Há-de ser tão difícil como distinguir a água benta da outra.

Sabemos que o ministro da Defesa pediu a um bispo verdadeiro que lhe benzesse uma carreira de tiro e que o presidente da Comissão Europeia, depois de ter venerado Mao, na sua juventude, acabou a pedir «por amor de deus» que metessem o cristianismo na Constituição Europeia, em manifesta subserviência ao Papa, sabendo que a liberdade foi conquistada pelos que lutaram contra o poder temporal dos papas.

Como é que o Estado pode certificar qual é a religião verdadeira, a única que conduz ao Paraíso, sem se enredar nos difíceis meandros da teologia – a única ciência sem método nem objecto?

Por isso, a absoluta neutralidade do Estado é uma exigência ética e política, defendendo o direito de todos à crença, descrença ou anti-crença de cada um.

7 de Janeiro, 2009 Ludwig Krippahl

Deus e o tabaco

Ontem começou a Atheist Bus Campaign, uma campanha publicitária organizada por ateus do Reino Unido, com o slogan «Deus provavelmente não existe. Agora deixe de se preocupar e goze a vida»(1). Não há consenso acerca do “provavelmente” entre os ateus. Richard Dawkins, por exemplo, preferia “quase de certeza”. Mas segundo Tim Bleakley, o director da firma de publicidade contratada para esta campanha, foi necessário incluir o “provavelmente” para evitar uma violação do código publicitário. Porque, para os religiosos, dizer simplesmente que Deus não existe «seria enganador»(2).

Em rigor, isto é correcto. Não podemos saber nada com certeza absoluta. Por exemplo, não podemos ter a certeza absoluta que o tabaco prejudica a saúde. Se expusermos quinhentos ratos a fumo de tabaco e estes sofrerem mais de cancro que os quinhentos do grupo de controlo, o melhor que podemos dizer é que provavelmente o tabaco causa cancro. Por muitos ratos, ou humanos, expostos ao tabaco, há sempre a possibilidade do resultado ser por outra coisa qualquer. A recolha de dados confirmatórios aumenta a confiança mas nunca dá certeza absoluta. Resta sempre algum “provavelmente”.

Mas eventualmente a confiança é tão alta que é melhor dizer simplesmente que o tabaco causa cancro no pulmão. Vir escrito nos maços que o tabaco provavelmente prejudica a saúde é que seria enganador. O “provavelmente”, se bem que correcto em teoria, na prática sugere uma incerteza maior que essa possibilidade irredutível de ter havido algum erro.

A conclusão que Deus não existe merece mais confiança que os malefícios do tabaco. O Deus judaico-cristão, omnipotente e omnisciente, é incompatível com o universo que conhecemos. As leis da física não permitem omnipotência nem omnisciência, e isso sabemos com mais certeza do que sabemos que o tabaco faz mal. Os crentes contrapõem que não se pode concluir que o deus deles não existe porque, sendo omnipotente e omnisciente, pode esconder-se onde entender e fazer milagres sem ninguém ver. A física pode ser milagre, o Big-Bang pode ser milagre, a origem da vida pode ser milagre. Não se vê a mão de Deus mas ela está lá, invisível.

Mas então também o cancro dos ratos pode ter sido obra de Deus e afinal o tabaco não faz mal nenhum. Se não podemos concluir que Deus não existe quando tudo sugere outras causas, também não podemos concluir que o tabaco faz mal só por ser isso que as evidências indicam. Se calhar o cancro é um milagre invisível. O cancro, e tudo o resto. Porque se não rejeitamos estas hipóteses impossíveis de testar ficamos condenados à ignorância e incapazes de decidir. Qualquer coisa que aconteça, por muito óbvia que pareça a sua causa e por muito fácil que seja de explicar, pode ter sido milagre de Deus, da Virgem, do São Nãoseiquantas ou até de gremlins invisíveis.

O tabaco faz mal e Deus não existe. Provavelmente, sim, mas esse provavelmente é tão insignificante que mais vale poupar os pulmões e os joelhos.

1- Atheist Bus Campaign
2- New York Times, 6-1-09, Atheists Decide to Send Their Own Message, on 800 Buses

Em simultâneo no Que Treta!

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Virados para deus

Há tempos, numa entrevista ao RCP, o jornalista perguntou-me como explicava o facto de as pessoas, em época de crise, se virarem para deus.

Claro que viram. O desespero é o húmus onde medra a fé. A desgraça bate à porta e, logo, disparam as orações. A eficácia não está provada mas acontece o mesmo com as mesinhas que se usam na falta de médico.

Não são apenas os deuses que beneficiam da doença e da desgraça, também os bruxos, quiromantes e outros exploradores das fraquezas humanas. Desde sempre os homens se viraram para as nuvens à espera das respostas que a ciência ainda não dá. A lepra, por exemplo, era encarada como castigo divino e as vítimas apedrejadas. O próprio Cristo fez a reputação com milagres no ramo. Hoje, a higiene e os medicamentos erradicaram o flagelo nos países civilizados.

No Islão, onde o fanatismo é obrigatório, os crentes viram-se para Meca por falta de bússola que lhes indique o Paraíso e, para urinarem, escolhem o sentido contrário. Os católicos mantêm o hábito de olhar para o firmamento, onde julgam que mora o deus que os padres lhes vendem, mas não se importam de urinar em direcção ao Papa.

Enfim, a desgraça de uns é a felicidade de outros. Enquanto houver quem rasteje e se ajoelhe, não falta quem receba a subserviência em nome de um deus qualquer. Vêm aí tempos em que a superstição encontra terreno fértil mas não é provável que as leis da física se alterem.

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

O Islão é pacífico

Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Deus está com os tementes.

(Alcorão 9:123)

7 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Os índios acendiam fogueiras…

(…)

P – Reza todos os dias ao Papa João Paulo II?

R – Certamente, sobretudo quando há problemas graves, que são muitos para um bispo, e nos simples também. Dou um exemplo: tenho de celebrar e está um grande temporal e eu digo – Santo Padre, ajude-me. E ele ajuda. Sabe que quando chovia na Praça de S. Pedro, muitas vezes a chuva acabava por desaparecer.

Aconteceu o mesmo na Ucrânia, num grande encontro com a juventude, quando chovia de tal maneira que não se ouvia o que o Papa dizia. Deixou de lado os papéis e começou a cantar um cântico popular. A chuva desapareceu e surgiu o sol.