Loading

Mês: Janeiro 2009

24 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Laicidade a menos. Opinião de um leitor

God bless America?

Por: Renato Soeiro

(Publicado em: O Gaiense, 24 de Janeiro de 2009)

Os EUA e o mundo chegaram ao fim de um pesadelo. Bush partiu, sem honra nem glória, detestado pelos seus e odiado pelo mundo.

O fim de um pesadelo não é necessariamente o início de um sonho. Mas é certamente o início de um novo ciclo, que não poderá ser pior do que o anterior.

O discurso inaugural de Obama, que o mundo ouviu com emoção e esperança, teve inúmeros aspectos positivos, absolutamente diferenciadores da retórica e da estratégia do seu antecessor. Embora tenha acabado mais ou menos com as mesmas palavras: “God bless the United States of America”.

Apesar de referir que “somos uma nação de cristãos e muçulmanos, de judeus, de hindus e de não-crentes”, apesar de apelar à unidade de todos os norte-americanos, o seu juramento foi feito sobre o livro sagrado de apenas uma daquelas religiões e o seu discurso esteve repleto de referências a Deus e às Escrituras. Até a igualdade e a liberdade foram referidas como dádivas de Deus, a fonte do chamamento para forjar um destino incerto.

Já antes do discurso do presidente, o controverso pastor evangélico Rick Warren tinha feito uma invocação usando citações judaicas e cristãs. E depois do seu discurso, o reverendo Joseph E. Lowery abençoou Obama com as suas palavras (no mais progressivo de todos os discursos da cerimónia, referindo mesmo a transformação dos tanques de guerra em tractores).

Foi Deus a mais para a sensibilidade política dos europeus, que não vêem com muito bons olhos esta mistura de política com religião, que tantos problemas continua a gerar no conflituoso mundo em que vivemos. Até porque, em princípio, se trata do mesmo Deus invocado por Bush em cada um dos seus discursos, nomeadamente naqueles em que fez as desastradas declarações de guerra que marcaram tragicamente o seu mandato. Invocado em vão, como se provou.

24 de Janeiro, 2009 Ludwig Krippahl

Extremismo, só com moderação.

Foi marcado o julgamento do casal Neumann, do Wisconsin (1). Cristãos dedicados, sempre trataram a sua filha Kara com oração em vez de medicação. Infelizmente, a criança tinha diabetes e morreu em Março do ano passado. Tinha 11 anos de idade e nenhuma culpa pelos genes e pais que o deus dos seus pais lhe dera. Se condenados, os devotos Neumann podem cumprir até 25 anos de prisão. Não ajuda a Kara mas talvez evite que façam o mesmo a outro filho.

Felizmente, a maioria dos crentes não é idiota e a maioria das crianças não tem doenças mortais. Por isso a conjunção dos dois é rara. Mesmo assim, só nos últimos 25 anos a estupidite religiosa matou trezentas crianças nos EUA. É muito menos rara do que devia ser.

Mas também é preocupante que as crenças dos fundamentalistas e dos moderados sejam as mesmas. Ambos crêem que os filhos nascem com a religião dos pais, que as coisas acontecem segundo a vontade divina, que um livro sagrado é a palavra do seu deus e assim por diante. A grande maioria de crentes sensatos distingue-se da minoria de doidos apenas por levar as mesmas crenças menos a sério.

Pode bastar. Há muita gente que bebe bagaço ou fuma haxixe sem ser alcoólico ou drogado. Mas tem que ser pouquinho de cada vez. Também as crenças religiosas são para consumir com moderação por serem tão fortes. Há poucas religiões light. Um deus algo-poderoso que dê uns toques aqui e ali não satisfaz. Os crentes querem um Deus Todo-Poderoso, com maiúsculas e tudo, capaz de controlar todo o universo. Uma crença que os aqueça por dentro. Mas disso só se pode tomar um calicezinho aos domingos e dias de festa. E nunca quando se tem crianças doentes em casa.

1- New York Times, Trials for Parents Who Chose Faith Over Medicine

Em simultâneo no Que Treta!

24 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

A oração – o anestésico da inteligência

Se acreditassem nas orações, as religiões já teriam encomendado ensaios duplo-cegos para demonstrar  a superior eficácia em relação ao placebo pois é a metodologia habitual para testar a eficiência das drogas.

Os pedidos pungentes dos crentes,  ao longo dos séculos, jamais levaram o deus de cada religião a intervir nas leis da física ou a alterar condições meteorológicas. Não se trata de surdez divina, apenas de destinatário cuja existência aguarda provas.

Poder-se-á perguntar o que leva os especialistas do marketing da fé a insistir nas velhas e ineficazes receitas. Os subornos através de orações são inúteis e moralmente condenáveis, mas há uma razão plausível para a insistência:

Enquanto rezam, os crentes perdem o espírito crítico e aceitam a propaganda do clero.

Os crentes sabem que as outras religiões são falsas, o que, de facto, é verdade. Mas como não lhes dizem que a sua provavelmente também é, partem de joelhos a pedir ao seu deus – o único verdadeiro – para que converta os crentes da concorrência.

Está em curso na ICAR a «semana de oração», com «apelo à conversão», mas as outra religiões também pedem o mesmo e os deuses, cansados da guerra pela hegemonia no mercado, há muito que não fazem prova de vida.

A oração – diz um bispo – dispõe o coração a acatar o que Deus quer. Na falta de um deus que se pronuncie o clero tem procuração para divulgar a vontade.

Não viria mal ao mundo se as crenças fossem da esfera particular, sem o desejo de conversão e a violência irracional com que alguns crentes querem salvar todos os outros.

23 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Por dinheiro

Roma, 23 jan (EFE).- O bispo de Verona, Giuseppe Zenti, negou hoje a veracidade da denúncia de abusos sexuais feita por antigos alunos surdos de um colégio religioso nesta cidade do norte da Itália à revista italiana “L’Espresso” e afirmou que tais acusações respondem a interesses econômicos.

22 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Brasil – Igreja Renascer em Cristo

SÃO PAULOParecia dia de estreia em Hollywood, com show de bailarinas, telões e transmissão via satélite, enquanto celebridades ecumênicas como o Bispo Gê desfilavam pelo chão de mármore e avançavam sobre o tapete vermelho para tomar seus postos no palco do templo evangélico Assembleia de Deus, que ontem à noite recebeu os convidados da Igreja Renascer em Cristo.

22 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Regresso ao passado

O Papa Bento XVI decidiu anular a excomunhão decretada em 1988 por João Paulo II contra os bispos ultraconservadores do movimento católico fundado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, informa o jornal italiano Il Giornale. (A F P)

O fundamentalismo está de volta. Enquanto os neoconservadores americanos lambem as feridas da derrota republicana, o Islão promove a jihad e a sharia, os cristãos ortodoxos ocupam o espaço deixado vago pela utopia estalinista, o Vaticano retorna em força ao Concílio de Trento pela mão firme do pastor alemão.

O regresso ao latim foi um sinal eloquente do pontífice romano que terá sofrido muito com a excomunhão do bispo Lefebvre quando a correlação de forças ainda exigia algum respeito pelo Concílio Vaticano II.

Agora, com os teólogos progressistas sucessivamente silenciados ou afastados, é a apoteose da tradição, o regresso ao arcaísmo, o triunfo de um Papa extasiado com os milagres obrados por respeitáveis defuntos nem sempre recomendáveis em vida.

Não sei que mea culpa terá feito no túmulo o ex-excomungado bispo integrista para se ver reabilitado e começar, quiçá, a carreira da santidade.

Na cidade e no Universo sopram ventos do passado mas o Universo há muito que deixou de se rever em Roma.

22 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

A ICAR e o casamento

O casamento entre pessoas do mesmo sexo, cuja aprovação o primeiro-ministro anunciou para a próxima legislatura, vai contar com a oposição enérgica por parte da Igreja Católica, que não aceita a utilização da palavra casamento.

Mais uma vez reconheço à ICAR o direito de manifestar a sua oposição ao Código Civil mas é útil que admita que as normas do Código  Canónico não devem ser impostas ao Estado laico e, muito menos, aos não crentes ou crentes de outra fé.

A ameaça de missas contra a lei que autorizará os casamentos homossexuais é um direito cuja eficácia não temem os que, há muito, esperam que a lei não os discrimine e se, a alguns, isso os torna infelizes, só têm de culpar a religião que os exclui.

Pode haver confusão entre a liberdade, que a lei concederá, e a obrigação que a Igreja parece temer. O casamento não é obrigatório e a futura lei apenas iguala direitos, sem discriminação sexual, como manda a Constituição.

Quanto à palavra «casamento», que a ICAR abomina para matrimónios homossexuais, como durante  o salazarismo  reprovava uniões que escapassem à sua bênção, é património da língua portuguesa e consagra uma concepção jurídica que esteve reservada – e mal – apenas para as núpcias heterossexuais.

Nem que fosse para tornar feliz uma única pessoa já valia a pena mexer na lei actual pois não prejudicará ninguém e, decerto, vai permitir a felicidade de muitos.

21 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Ateus e falsos ateus

Não faltam às Igrejas santos, mártires e publicitários, convencidos uns das delícias do Paraíso com que os aliciam, receosos outros das penas do Inferno com que os apavoram.

O direito às crenças não se discute mas não devemos aceitar, sem contraditório, afirmações de quem recusa apresentar provas e, muito menos, permitir que no-las imponham.

São variados os ardis que as religiões usam para convencer os ateus da virtude dos seus padres e do martírio de deus. Uns empolgam-se citando livros sagrados, outros comovem-se com os milagres e, todos, querem vender a viagem para o Paraíso da única religião verdadeira – a sua.

Há, aliás, uma afirmação que aprovo em cada uma das religiões: «Todas as outras são falsas». Mas o que assusta é a ânsia de converterem os outros, a necessidade que sentem em fanatizar crianças, a obstinação em dominarem o ensino e a assistência, a obsessão de quererem salvar os outros.

Desconfio do altruísmo de quem usa a força para convencer e não hesita em sacrificar a vida própria e alheia no combate por uma crença que poderá render uma assoalhada no Paraíso.

As reacções aos comunicados da Associação Ateísta Portuguesa e os comentários de visitantes do Diário Ateísta aos seus posts fazem sair da toca uma variedade exótica de prosélitos – os falsos ateus.

Percorrem as caixas de comentários da blogosfera a reclamarem-se ateus e a discordarem do combate às crenças; esmeram-se no ataque aos que duvidam, tartufos que não toleram que os desmascarem;  dizem que quem não acredita – como eles – não tem direito a discutir a fé, como eles fazem, guardando-se para combaterem os que ousam.

Não são contra o ateísmo, pois são ateus e ateias, nem contra os que não acreditam, tal como eles, são apenas contra a manifestação pública da descrença, contra quem desmascara a débil argumentação de quem usa a roupagem da argumentação para justificar crenças pueris.

Acham que se pode criticar – na impossibilidade de o impedirem –, mas não se deve ofender. Esquecem-se os beatos de que ofendem os ateus quando ameaçam rezar por eles.

Nós defendemos o direito de nos insultarem. Faz parte do direito à livre expressão.