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Mês: Setembro 2008

6 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

A eutanásia e a cabeça na areia

A morte é, como disse Saramago, uma injustiça, mas a vida, em certas circunstâncias, é um suplício cujo prolongamento só ao enfermo cabe decidir.

Não se pode deixar ao poder discricionário de um médico a obsessão terapêutica ou a decisão irrevogável de prolongar a vida, de acordo com os seus preconceitos religiosos, nem mesmo ao doente uma decisão precipitada ao primeiro sinal de desespero.

Os médicos, colectivamente, não chegam a consenso e das Igrejas, na sua diversidade, não se pode esperar senso. Cabe aos estados, de forma responsável, responder a dramas que diariamente afligem doentes terminais, pessoas em vida vegetativa ou seres sem uma réstia de esperança ou qualquer trégua no sofrimento.

Defender a alimentação obrigatória dos pacientes em estado vegetativo – como impõe o Vaticano –, é um acto de crueldade que a lei dos Estados civilizados deve impedir.

Haverá sempre situações ambíguas, estados de fronteira onde a decisão se torna mais difícil e eticamente mais discutível. É nestas alturas que o doente, se mentalmente são, deve poder exercer sozinho o direito de decisão, usufruir pela última vez da liberdade individual.

O exemplo de Ramón Sampedro, «uma cabeça sem corpo», como amargamente definiu a situação de tetraplégico foi o denodado militante da eutanásia que quebrou um tabu e abriu a discussão sobre o direito à morte que a compaixão de mão amiga lhe permitiu.

A norte-americana Terri Schiavo viveu 15 anos em estado vegetativo permanente, sem que ocorresse a morte cerebral, até que um Tribunal da Florida determinou que fosse satisfeita a vontade da paciente, determinando que lhe fosse retirado o tubo de alimentação.

Há situações em que a alegada defesa da vida é um inqualificável acto de crueldade.

5 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

O laicismo do Sr. Presidente

O presidente Cavaco Silva, contrariando a própria Constituição que ele mesmo jurou defender e cumprir, persiste na atitude de praticar turismo religioso à custa do contribuinte. De visita a um dos países mais fanaticamente católicos, o Sr. Presidente não se coibiu de oferecer uma imagem da senhora de Fátima ao padre que recebeu o pio casal. Presidencial, diz o periódico.

A Constituição da República Portuguesa,  no seu art. 41.º, define claramente a separação entre a religião e o Estado; mas o Sr. Presidente teima em misturar.

Quero, com isto, dizer que o Sr. Aníbal Cavaco Silva, enquanto cidadão, tem todo o direito de fazer corridas no joelhódromo de Fátima, beijar anéis episcopais, tomar banhos de água benta (que ele, certamente, consegue distinguir da água normal, como bom católico que é), oferecer bonecos a representar alegadas virgens ao padre da freguesia ou ao padre de Cracóvia (desde que sejam pagas do próprio bolso, e duvido que tenha sido o caso), ir vestido de anjinho nas procissões, etc.  São direitos que a Constituição consagra a qualquer cidadão. Mas não me parece que o Presidente da República, enquanto tal, tenha esses direitos.

Mas estou aberto ao contraditório…

a)      José Moreira

5 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

O mundo avança

A nova lei que o Governo da Andaluzia quer aprovar estipula que poderá ser aplicada uma multa até um milhão de euros aos médicos que insistam em manter com vida um doente terminal sem possibilidade de recuperação. A futura lei proíbe a obstinação terapêutica, entendida como a aplicação de «medidas injustificadas e inúteis de prolongar a vida», explica o jornal El País.

5 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Há sempre alguém que resiste

Um livro sobre o profeta Maomé e a sua noiva Aisha, que gerou controvérsia por ter sido recusado pela editora americana Random House, vai agora ser publicado por uma editora britânica independente, a Gibson Square.
(…)
O livro conta a história de Aisha, desde o seu casamento com Maomé – quando tinha apenas seis anos – até à morte do profeta.

(V/ Público)

4 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Onde a religião é um “Inferno”…

Israel é um país onde se vive em constante preocupação, agitação e frenesim. As várias religiões com os seus deuses acumularam-se no mesmo espaço e este tornou-se demasiado pequeno para as pessoas viverem tranquilamente. Os crentes discutem, combatem, destroem-se, para que os adeptos das outras religiões saiam daquela terra… Eles afirmam que a sua é a verdadeira religião e é a que tem de ficar!

No sul de Israel há duas cidades, de nome Sderot e Ashkelon, conquistadas aos árabes na guerra de 1948 e ocupadas por emigrantes, a maioria dos quais, da ex-União Soviética. Estas duas cidades israelitas há muitos anos que vivem no “Inferno”. Estão situadas junto à Faixa de Gaza, controlada pelos palestinianos e o governo do partido Hammas.

A partir do território da Faixa de Gaza, os palestinianos, crentes em “Allá”, disparam diariamente foguetes “Kassam” contra os israelitas, crentes em “Deus”. Querem vingar-se deles e obrigá-los a saírem dos territórios que já foram seus. Nenhum dos deuses bate palmas a apoiar aquela guerra, nem assobia em protesto. Porque não existem!

Os ataques com os “Kassam” não têm hora marcada e podem ser de dia ou de noite. Caírem em qualquer local. Atingir qualquer um. Rebentarem numa casa ou numa escola, na padaria ou na fábrica. Quando toca a sirene têm menos de um minuto para alcançarem esconderijo mais próximo. As consequências são trágicas, mesmo se ninguém for atingido. As pessoas daquelas cidades sofrem de doenças psíquicas, têm a síndrome pós-traumática derivada aos rebentamentos diários. Nos hospitais os psicólogos receitam-lhes muitos comprimidos e, alguns, na base da morfina. Tranquilizantes… que podem torná-los dependentes da droga. As nevroses, as tensões altas, as depressões e doenças derivadas, incapacitam-nas para o trabalho e tiram-lhes o sustento. Imensas ficam, parcial ou totalmente, inválidas. O dinheiro da Segurança Social israelita que recebem não é suficiente para depois viverem bem.

Há quem abandone tudo e parta. Há quem insista em ficar. O governo israelita diz-lhes que é preciso resistir. Só os deuses, das várias religiões, não dizem nada! Porque não existem!

 a)  kavkaz (leitor habitual do DA)

4 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Religiões e crimes religiosos

Já várias vezes afirmei que há criminosos que não acreditam em Deus e crentes que se comportam com dignidade e respeito pelos direitos humanos. Nem a religião torna um homem sempre mau nem o ateísmo o faz alguma vez bom.

O que muitas vezes se questiona é o papel da religião na demência de alguns crentes. Os suicidas islâmicos que se imolam e arrastam infiéis no suicídio são crentes fanáticos. Urbano II, quando pregou as Cruzadas foi um biltre da fé. Pio IX, com o anti-semitismo que o devorava, o ódio à liberdade e ao livre-pensamento ou quando autorizou o rapto de uma criança judia para a baptizar e subtrair aos pais, foi outro religioso perverso.

Já o padre Frederico, secretário do bispo Teodoro, quando assassinou um jovem ou se dedicou à pedofilia, não cometeu um crime religioso, foi apenas réu de delito comum, embora grave. O bispo Marcinkus, quando contrafez as acções do Banco Ambrosiano, não cometeu um crime religioso, organizou apenas uma burla colossal, embora tenha dado origem a vários assassinatos que João Paulo II não deixou averiguar.

Nunca se disse aqui no Diário Ateísta que Estaline, um ateu e antigo seminarista, fosse menos cruel do que os padres do santo Ofício ou que Mao fosse mais benevolente do que os cruzados, mas quando se condenava à fogueira a heresia era um crime de que a religião era responsável. E, no entanto, quando o esquizofrénico Estaline chacinou milhões de pessoas não o fez em nome do ateísmo mas de outro totalitarismo parecido com as religiões.

Franco quando assassinou centenas de milhares de republicanos não cometeu um crime religioso mas o silêncio cúmplice do clero e a devoção que santo Escrivá lhe dedicava tornam a ICAR cúmplice, ao menos por omissão, dos crimes do déspota.

Os padres pedófilos dos EUA não cometeram crimes religiosos mas os que apoiaram Hitler, por causa do anti-semitismo cristão, SIM.

O Diário Ateísta combate a homofobia, o racismo, a xenofobia, a discriminação da mulher, os castigos corporais e a pena de morte. A Tora, a Bíblia ou o Corão podem orgulhar-se de igual espírito humanista?

4 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

O cérebro é secundário

Em 1968, a Igreja Católica aceitou a definição, declarando-se favorável à retirada de órgãos de pacientes em estado de “morte cerebral”. Todavia, o artigo do “L’Osservatore Romano” recorda que a experiência médica, no decorrer destes anos, demonstrou que a morte cerebral não é a morte do ser humano. “A idéia de que a pessoa deixa de existir quando o cérebro pára de funcionar considera a existência do ser humano a partir apenas do funcionamento cerebral” _ afirma o artigo.

Neste caso, a “morte cerebral” entraria em contradição com o conceito de pessoa segundo a Doutrina Católica e, portanto, com as diretrizes da Igreja em relação a casos de comas profundos e prolongados.