Na homilia de hoje, no DN, João César das Neves começa por apelar a uma espécie de Declaração Universal dos Direitos de Deus e acaba numa pungente exteriorização de ateísmo.
Entre os desvarios místicos do prólogo e a decepção ateísta do remate da prédica “Deve ser horrível ser Deus”, há as lucubrações beatas de um crente que se esgotou, que, de tanto erguer as mãos para o Céu, as viu mirrar, de tanto implorar sem ser atendido, se vê perdido no mar da incerteza, duvidando de Deus mas com fé inquebrantável no Papa.
Começa por perguntar: «Já pensaram na pachorra que é preciso para ser Deus? Lidar com toda a humanidade ao mesmo tempo deve ser horrível. É que Deus tem de conviver com todo o tipo de pessoas». (Incluindo as que não tomam banho).
Depois, queixa-se do desprezo a que o seu Deus é votado: “Muitos não Lhe ligam nenhuma. Aproveitam tudo o que Ele lhes dá, sem sequer uma palavrinha para agradecer aquilo que, afinal, é tudo o que eles têm e são. Por vezes até exigem mais, invocando direitos inalienáveis”. (Nem um cabritinho lhe dão, os ingratos).
JCN é a réplica profana da Madre Teresa de Calcutá. Cansado de pregar aos ímpios, foi-se desiludindo com o silêncio de Deus, perturbado com a sua ausência e, numa síntese entre a superstição e a razão, acabou a desabafar:
«Ser Deus é tão horrível que, se Ele viesse a este mundo, as coisas iam correr mal de certeza». (Pior, ainda)?
JCN sabe que não vem, mas deve ser desolador, depois de uma vida de crente, ter de confessar que Deus não habita este mundo (o único que existe) e que não virá. É deste vazio que nascem as seitas que ameaçam: «Vem aí»!