DA feito pelos leitores. Deus não quis…
A paranóia religiosa e o obscurantismo não têm limites. Nem podem ter, já que estão intimamente ligados.
O “Jornal de Notícias” de hoje (2007/08/10) chama à primeira página, na sua edição impressa, uma reportagem acerca da violência doméstica, com o subtítulo “Deus não quis que eu morresse”. Remete o leitor para o interior do jornal.
A folhas tantas, uma tal “Margarida” (nome fictício) revela factos que já não deviam existir num país que se pretende civilizado. Agressões diárias e violentas, por parte do marido. Enfim, nada de especial, nada a que não estejamos habituados. Acaba por, até, nem ter as honras de notícia, embora esta se justifique por estarmos na chamada “silly season” ou, em português decente, estação parva,
Mas, a certa altura do deu depoimento, “Margarida” desabafa (julgo que em tom agradecido, mas isso sou eu a julgar):
“Tenho consciência de que se ele não me matou foi mesmo porque Deus não quis, porque o homem às vezes parecia o demónio em pessoa…”,
Vamos ler devagar, porque esta frase tem pano para mangas. “Deus não quis” que o marido a matasse; mas não mexeu um dedo para evitar a dose diária de agressões. Teve poder para evitar a morte, mas não o usou para evitar as agressões. Ou seja, presume-se que “não quis” que a “Margarida” morresse, mas “quis” (por omissão) que o marido a agredisse diariamente. Pelo menos, permitiu. Isto porque Deus tinha conhecimento dos arraiais diários de pancada, a julgar pela expressão” se ele não me matou foi mesmo porque Deus não quis”.
No Alto Douro, mais concretamente na região de Vila Real, corre um ditado que diz Matar, só Deus e os de Abaças – mas com licença dos de Guiães. O que me leva a presumir que o marido não era de Abaças nem tinha pedido licença aos de Guiães. E Deus não quis deixar os créditos por mãos alheias. Tareia diária, vá lá… Matar??? Náááá! Só Ele e os de Abaças (mas com licença dos de Guiães, para que conste). Suponho, aliás, que Deus, na Sua infinita sabedoria, não quis contradizer as sábias palavras de um clérigo nosso conhecido (ver aqui).
Com deuses destes, para que serve o Demónio? Não seria melhor mandá-lo para o desemprego?
José Moreira in «À moda do Porto»
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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